Campanha Primavera Para a Vida é lançada com roda de diálogo virtual, reflexões e poesia - CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviço" /> Campanha Primavera Para a Vida é lançada com roda de diálogo virtual, reflexões e poesia - CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviço" />

Primavera para a vida

“É Primavera para a vida há 20 anos

Sabemos que esse ano não é igual

Bem diferente, é fisicamente longe

Mas mesmo assim primaveramos

Ainda que nossa roda seja virtual  

Quanta história, quantos anos

Quanta luta, reflexão

Leitura da vida

Não tem feijoada dessa vez

Mas a partilha é garantida

As fomes são tantas

Crescem a cada dia”

A poesia de autoria de Joice Santana (Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3), recitado durante a live realizada nesta quarta (30/09), tece, com doçura e tom crítico, as riquezas e sabedorias compartilhadas no lançamento da 20ª edição da Campanha Primavera para a Vida. O início da nova estação foi coroado com uma roda de diálogo virtual, que abordou o tema As fomes do povo e as partilhas do reino de Deus em tempos de pandemia – ‘Porque tive fome, e me destes de comer’ (Mt 25.35a)”. A live integra a série “Diálogos Ecumênicos e Inter-religiosos”, uma realização da Coordenadoria Ecumênica de Serviço.

“Assim como as sementes brotam nessa primavera

Cresce também o amor

A esperança

A teimosia

A profecia

Primavera para vida

“Primavera de gente animada, gente que não se cansa

Que diverge, que dialoga

Refletida na linda obra de Anderson Augusto

Que ecoa a vida

Que não é sufocada pela morte

É gesto concreto

Iluminadas pelos versos do saudoso Dom Pedro Casadáliga

Primavera esse ano é tempo de saudade” 

“E quantas são as fomes?

Numa roda feminina com mulheres fortes

Mulheres fortes

Que ajudam a primaverear a vida

Que indignam-se

Mobilizam

E atuam onde os desafios se ampliam

É a luta pela terra, é a luta pela vida,

Resistência, justiça

É a luta pela equidade social

Para toda vida, toda gente, todas as trabalhadoras e trabalhadores do campo

Pelo reconhecimento dos territórios”

Como convidadas para a roda de diálogo, destacam-se as participações de Mãe Nilce de Iansã – Iyá Egbé do Ilê Omolù e Oxum (coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro Brasileiras e Saúde e conselheira do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher – RJ; Juliana Santos (educadora popular e militante do Movimento Sem Teto da Bahia); Gilvânia Ferreira da Silva (pedagoga, educadora popular, militante do Movimento Sem Terra /Maranhão); e Nancy Cardoso (pastora metodista, teóloga feminista, filósofa e assessora de formação da Comissão Pastoral da Terra).

A roda de diálogo foi mediada por Sônia Mota, diretora executiva da CESE, e contou com saudação inicial do presidente da organização, Padre Marcus Barbosa, o qual trouxe a reflexão: “estamos vivendo o tempo da criação, a criação com suas fases, gemidos.  A vida é mais forte que a morte, já choramos muito, muitos se perderam no caminho”. Barbosa acalanta e fortalece os corações da audiência, conduzindo a memória à música de Beto Guedes, “Sol de Primavera”. “Vamos lembrar da esperança que brota da fé. A esperança ativa não só de reza, mas do gesto concreto de amor e para a defesa de direitos”.

“Primavera para a vida

Doações, cafés solidários, partilhas

Para todos que estão vulneráveis

Em tempos de desalojamentos que tem uma estrutura que desmata

A agroecologia é farol de um novo modo de vida

Na força das mulheres na zona rural e nas periferias

100 milhões de árvores estão sendo semeadas

Sementes crioulas compartilhadas

Vida digna no campo e na cidade

Com educação e vida em abundância para todas

Partilha do reino de amor e solidariedade”

Representando o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Maranhão, a educadora popular Gilvânia Ferreira da Silva denuncia uma sequência de violações a que trabalhadores e trabalhadoras rurais são surpreendidos/as diariamente, agudizadas com a pandemia: despejos; ameaças e mortes de lideranças; dificuldade de acesso a crédito por trabalhadores/as rurais; e acesso precário à internet pelas crianças dos acampamentos.

Ainda assim, confia em um futuro de bem viver, a partir das práticas do MST voltadas à segurança e soberania alimentar no campo e na cidade, como a distribuição de sementes crioulas e realização de cafés da manhã solidários para populações em situação de rua durante esse período da pandemia.

“Primavera para a vida

Soberania alimentar   e vidas ameaçadas

Das comunidades tradicionais

Destruição das comunidades pesqueiras e manguezais

O povo quer viver

Quer bem viver

É a fome que clama

A fome de justiça, território, morar bem

A fome de justiça

De liberdade

Uma luta constante e histórica

Primavera para vida

Nos chama a unirmos os nossos gritos”

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(Marizélia Lopes, do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, em depoimento  gravado para a live)

Nossa fome é de respeito à ancestralidade”

“Primavera para vida

Sororidade, respeito a vida

Luta pela vida

Pela vida digna

Primavera para a vida

Os povos indígenas tem sofrido violações ao longo do tempo

E tem sido acumuladas

Os povos indigenas estão na UTI

Sim na UTI

Vulneráveis e com o risco ainda maior de morrer

É a fome pela vida, pelo território

Demarcação já!

E todas nós somos convidadas e convidados também

A essa luta se juntar

No Brasil e no mundo essa luta também precisam ecoar”

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(Advogada Samara Pataxó, assessora jurídica da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)

“Primavera para a Vida

A formação

A educação

A transformação

São as bases para mudar a sociedade

Direito  a  cidadania

Direito a moradia

Parece a invisível mas não é

É a fome de bem morar, de bem viver

Resistência, enfrentamento

Dignidade

Indignação

Fome de esperança

Alimentada pelas mãos dadas

É preciso dar respostas

E não ser indiferente

São Campanhas

Disponibilização de água

O povo do MSTB se une e saciam

Desde o lavar as mãos,  aos alimentos

Em parcerias

O apoio chega

E a fome sacia

E sabe aquele livro que você leu, mas até hoje não mais lia?

Ah, pegue esse livro, doe e contribua para fazer crescer essa partilha

Alimentar o amor

Os sonhos

De forma coletiva

Esperançar e cuidar  desde as crianças

Despejo zero!”

A Campanha #DespejoZero foi um dos motes da fala de Juliana Santos do Movimento Sem Teto da Bahia. A iniciativa, de âmbito nacional, surgiu a partir da mobilização e articulação de moradores atingidos e ameaçados de despejos, movimentos sociais, entidades, coletivos e laboratórios de pesquisa de todo o país como reação às remoções e despejos promovidos por governos e proprietários privados (sejam empresas ou indivíduos), que vêm ocorrendo tanto no campo quanto na cidade, do norte ao sul do Brasil durante a pandemia — quando justamente ficar em casa é considerado como uma das medidas mais seguras e eficazes de proteção e prevenção ao contágio do vírus. O objetivo da campanha é parar os despejos individuais e coletivos durante a pandemia.

“Nós somos essa resistência, na luta por moradia. Esse direito é vital ao ser humano, permeia todos os espaços de vivência. Nossa fome é de justiça, fome de teto”, reforça Juliana.

Em suas reflexões, a educadora popular do MSTB conta como “as partilhas do reino de Deus” se expressam no movimento: da campanha de livros em curso para estimular a educação de crianças, jovens e adultos a um dado animador: o número de zero contaminações por Covid-19 nas ocupações, fruto da consistente campanha permanente realizada.

“A pandemia vem amarrar todas as crises que já existiam. É tudo novo, mas é tudo muito antigo”, abre sua fala a teóloga feminista Nancy Cardoso, sintetizando em duas frases o aprofundamento em curso das disparidades sociais e econômicas no Brasil.

Referindo-se ao campo religioso, Nancy condena o lugar em que Deus é posicionado hoje em dia: na mineração, no agronegócio, na indústria de alimentos. “Devemos fazer essa crítica: recolocar as igrejas a partir da base, pela esquerda, recuperar o cristianismo dos pobres, que se junta na mesa da igualdade. Construir nossas redes, nossas teias dos povos”, anuncia.

Como tarefa coloca aos povos de fé a tarefa de “tirar os parasitas atravessadores ou construir novos espaços”, aponta, sinalizando vias para saciar “as fomes” contemporâneas.

“Primavera para a vida

Esperança das mulheres  que vão para luta e não desistem

Prática pastoral do povo

Sagrado, comunhão, agroecologia

Vozes da profecia

Que ecoam as comunidades

As crises que já existiam

Primavera para a vida

Juntar forças

Para saciar fomes

E unir mãos

De proporcionar o encontro na mesa da igualdade

E colocar lá de novo

A sua fonte e o princípio da vida

A fonte que é vida de verdade!” (Joice Santana)

A LIVE COMPLETA ESTÁ DISPONÍVEL: