Lançamento de publicação marca seminário da Ação Mulheres Negras e Populares no Fórum Social Mundial

Mulheres do Norte e Nordeste de movimentos sociais e organizações populares do campo e cidade se reuniram nesta quinta (15 de março), dentro da agenda do Fórum Social Mundial, para participarem do seminário “Desafios e Perspectivas para o fortalecimento e protagonismo das mulheres negras e populares”.

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O objetivo deste seminário foi refletir sobre os desafios e perspectivas para o fortalecimento e protagonismo das mulheres negras e de mulheres de setores populares do Norte e Nordeste, e suas organizações, no debate público na sociedade brasileira e nos processos de participação social referentes à defesa da democracia, acesso e garantia de direitos e justiça social, na atual conjuntura. Além do público geral de mulheres do Fórum Social Mundial, estiveram presentes representantes de grupos populares, organizações e movimentos que receberam apoio da Ação “Mulheres Negras e Populares: Traçando Caminhos, Construindo Direitos”, uma realização da CESE e SOS Corpo – Instituto Feminista para Democracia, com financiamento da União Europeia.

O Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa) foi representado por Maria Malcher, que localizou a relevância da iniciativa na região Norte: não só a multiplicação de grupo de mulheres nos outros estados da Amazônia, mas a articulação entre elas por meio da ação da Rede Fulanas (rede apoiada peça Ação).

De Teresina (Piauí), Eliana da Silva (Ayabás) relata às companheiras presentes que a organização já teve dois projetos apoiados dentro do “Mulheres Negras e Populares”. “No primeiro projeto, queríamos dar visibilidade às mulheres negras. Fizemos curso de fotografia, com exposição de fotos de mulheres negras quilombolas, de terreiro, de diversos campos, para mostrar como nós mulheres negras somos lindas, fotogênicas, embora muitos digam que não”, relembra Eliana. Na segunda proposta apoiada, fizeram discussões sobre feminismo e racismo nos quilombos por meio do Projeto “Enegrecendo Saberes”.

Relatos de grupos populares do estado da Bahia também revelam o fortalecimento regional de mulheres negras e populares.

Vinda de Ilha de Maré, a pescadora e marisqueira Eliete Paraguaçu aponta que a iniciativa foi importante para levantar as mulheres da comunidade para a luta, afinal “são elas que ficam na frente na perda dos direitos nos territórios”, pondera, levando em conta as sucessivas violações de direitos na localidade, devido à presença de indústrias petroquímicas na região – o que ocasiona a contaminação das águas, devastação do meio ambiente, proliferação de doenças, violência sexual contra as mulheres, entre outros.

Marta Leiro, do Coletivo de Mulheres do Calafate (Salvador) sublinha que o questionamento racial foi um destaque de reflexão para as mulheres do Coletivo. “Nesse grupo misto, a gente percebe que existe diferença entre as mulheres brancas populares e as mulheres pretas populares. Foi muito interessante isso”.

O fortalecimento da Rede de Mulheres Negras da Bahia foi apontado por Lindinalva de Paula, representante da Rede – que se encontra hoje mais enraizada em Salvador e no Território do Sisal. Mas a multiplicação de grupos populares de mulheres negras vem se estabelecendo, segundo Lindinalva: só no Julho das Pretas do ano passado, foram lançadas três organizações: as Dandaras do Sisal, Abayomis e Cleuza Maria de Oliveira.

O evento foi finalizado com o lançamento da publicação  “Mulheres Negras e Populares do Norte e Nordeste – Experiências que se entrelaçam”, que sistematiza as experiências e aprendizados do Projeto Mulheres Negras e Populares: Traçando Caminhos, Construindo Direitos, realizado entre os anos de 2015-2017 nos Estados do Norte e Nordeste do Brasil.