Mesa de diálogo reúne cerca de 400 pessoas em busca de pistas para um horizonte de democracia e resistência

O fim de 2018 chegou para a CESE com a realização da Mesa de Diálogo “Resistir e Esperançar: Diálogos sobre democracia em tempos de crise” no dia 13 de dezembro, na Reitoria da Universidade Federal da Bahia – Salvador (BA). O evento, que foi  promovido em parceria com a Universidade Federal da Bahia e apoio da ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais, teve como proposta realizar uma atividade pública de reflexão e análise que apontasse algumas pistas para um horizonte de resistência e esperança diante do atual momento de acirramento de intolerâncias e conservadorismos.

A escolha da data de realização da atividade fez menção aos 50 anos do Ato Institucional nº5, decreto que marcou os “anos de chumbo” do regime militar.  Treze de dezembro ainda se inseriu na Semana de Comemoração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em alusão a esse momento histórico, o salão nobre da Reitoria recebeu a exposição, realizada pela CESE, com os artigos ilustrados da Declaração Internacional dos Direitos Humanos.

Reitor João Carlos Salles (à esq): “A universidade é o lugar do pensamento se o pensamento expressar um desejo de liberdade, se ele resultar de uma construção democrática e coletiva e se, sobretudo, ele for um ponto de contato da universidade com a sociedade” .

A diretora executiva da CESE, Sônia Mota, destacou o papel da mesa de diálogo, que encerrou um ano de atividades que fizeram parte dos 45 anos da CESE – que começou lá no Fórum Social Mundial quando foi relançada a Cartilha da Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Foi em 1973, em plena ditadura militar, quando a CESE ousou lançar esta Cartilha pela primeira vez. Este ano é especial porque o relançamento da Cartilha abriu também as comemorações dos 70 anos da Declaração, que, quando foi lançada, foi como um divisor de águas entre a barbárie e a civilização”, destacou Sônia Mota.

João Pedro Stédile abriu as falas da mesa e indicou pistas para os movimentos populares atravessarem esse contexto político. Do ponto de vista estratégico, apontou que a disputa é fazer com que a maioria da sociedade pense como a classe trabalhadora, “e não como o que aconteceu, com os 25% votando em Bolsonaro, contra eles mesmos, ou seja, eles assimilaram as ideias da burguesia”, refletiu.

Sob a perspectiva tática, destacou a importância da resistência ativa a partir: a) trabalho de base; b) formação política; c) apropriação estratégica dos meios de comunicação; d) galvanizar corações e mentes da juventude das periferias das cidades brasileiras.

A Jornalista e escritora Rosane Borges vê nas articulações de mulheres negras fenômenos de vidência para se repensar esses novos tempos e formas de luta. “Urgente se faz lutar pela emergência e validação de outras subjetividades. Na escuta de cada época, mulheres negras e todos os ambientes da borda do sistema vêm propondo outras formas de organização da política, antevendo as catástrofes que começam arruinando as beiradas. Eu acho que a Marcha das Mulheres Negras de 2015 foi um fenômeno de vidência. Os feminismos negros se tornaram fenômenos de vidência. Parte dessas mulheres negras viram e veem a possibilidade de algo diferente. O que as mulheres negras viram é que não basta apenas questionar políticas públicas, elas estão questionando a noção de Estado, que tipo de Estado a gente sonha. E esse algo de diferente foi inspirado pela Plataforma do bem viver, com influência dos povos indígenas”, orienta Borges.

A necessidade de se discutir o racismo e machismo dentro das organizações e movimentos também é trazida no discurso de Marizélha Lopes, do Movimento Nacional de Pescadores e Pescadoras Artesanais. E aponta que as esquerdas têm a beber nos trabalhos de formação de base realizados pelas comunidades tradicionais, “que nunca deixaram se fazê-lo”, pontua Marizélha.

As apresentações do Coral de Mulheres de Alagados, do Sarau da Onça e do Levante Popular da Juventude também se fizeram presentes no evento, aliando arte e reflexão política.

A importância de continuar denunciando a organismos internacionais parceiros os retrocessos de direitos é relembrada para a teóloga e ativista Lusmarina Garcia, para que eles possam  fazer pressão no governo brasileiro.

Lusmarina retomou a frase de um jurista argentino para contribuir na reflexão sobre os nossos tempos e nossas origens: ‘com um direito constitucional republicano e um direito administrativo colonial e oligárquico, a América do Sul concede de um lado o que retira por outro. As liberdades na superfície e a escravidão no fundo.’  Diante da frase, conclui as reflexões da noite. “Se a gente não entender que nossos processos históricos são desenhados a partir desta mentalidade, a gente não vai entender a nossa história. Então, resistir e esperançar, sempre. Jamais a gente vai desistir dessa luta. Porque é uma luta justa e se a gente desistir dela, nós estamos desistindo de nós mesmos”.