INTRODUÇÃO
A Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE é uma organização ecumênica formada por igrejas cristãs que, a partir da fé, buscam promover a defesa de direitos das populações mais vulneráveis. A entidade, em sua atuação, possui uma perspectiva de fortalecimento de movimentos sociais, grupos populares e outras organizações que se dedicam às transformações diversas, orientadas à democracia e à justiça, na perspectiva dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais (DHESCAS).
A entidade adota uma postura profética, de denúncia das práticas de injustiça e, com esse sentido e na confluência entre denúncia e anúncio, fortalece a atuação da sociedade civil brasileira. Busca afirmar a justiça socioambiental e climática, a democracia e os direitos humanos, ao tempo em que visa a superação do racismo, do sexismo, do colonialismo, da LGBTfobia, da xenofobia, do capacitismo e da miséria que se entrelaçam, constituindo uma trama de discriminações e desigualdades diversas que impactam estruturalmente a realidade.
A CESE – que traduz uma trajetória de atuação em diversos biomas e territórios rurais e urbanos do Brasil, com prioridade para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste – percebe que os cenários de devastação de ecossistemas e ambientes são crescentes, mas, em particular, a desigualdade com que essa destruição acompanha e impacta a vida das pessoas, e fazem com que a injustiça ambiental e climática não possa ser entendida separadamente da questão social.
O racismo ambiental também está fortemente relacionado à injustiça socioambiental e climática, sendo um mecanismo pelo qual os/as menos favorecidos/as socioeconomicamente, pessoas negras, grupos étnicos e racializados sejam sobrecarregados pelos danos ambientais do processo de desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que usufruem menos dos benefícios deste, ou têm o seu direito ao usufruto dos bens naturais e do direito à cidade subtraídos.
O público com o qual a CESE atua propõe novas formas de compreensão do problema ambiental, que incluem outras concepções de afirmação da vida em oposição ao modelo de desenvolvimento neoextrativista e formas de convivência e modos de vida singulares na relação com a natureza, nos referindo também ao ambiente urbano.
A CESE se referencia nos Direitos Humanos e no Ecumenismo (Casa Comum) e se inspira no Bem-Viver, alinhada à busca por sociedades ambientalmente justas, sustentáveis e inclusivas sob o ponto de vista social, econômico e cultural. Bem-Viver que reafirma a vida sustentável e equilibrada, como condição necessária para garantir uma vida digna que possa ser estendida a todas as pessoas e que possa estar presente nas mais variadas culturas, com especial atenção às juventudes e às novas gerações, considerando a justiça intergeracional e a necessidade de conservar as bases de sustentação da vida. Também concebido no contexto das cidades e metrópoles brasileiras como uma resposta para enfrentar os conceitos de “progresso”, em sua derivação produtivista e de desenvolvimento, enquanto direção única, sobretudo com sua visão mecanicista do crescimento econômico.
Nessa perspectiva, a natureza não é tomada como mercadoria; não é reduzida a fonte de recursos e matérias-primas, mas é um ser vivo. Esta dimensão ecológica da realidade reconhece que a natureza é indivisível e intrinsecamente entrelaçada à vida dos seres humanos: somos parte da natureza, inclusive habitando em grandes centros urbanos. Superar a dissociação entre sociedade e natureza é fundamental para o tempo presente.
A CESE, na relação com seu público, busca ser uma contribuição possível para que todas as pessoas possam ter direito a uma vida digna que permita assegurar direitos em um sentido amplo. As equidades serão provenientes da ação de sujeitos sociais e políticos em um processo que reduza dinâmica e solidariamente as desigualdades existentes em todos os âmbitos da vida humana, especialmente no econômico, social, intergeracional, de gênero, étnico, racial, cultural e regional.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA – RESPONSABILIDADE E CUIDADO COM A CASA COMUM
A Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE é uma organização ecumênica que, ao realizar a sua missão, se alimenta, além de outras fontes, das bases de sua fé ancoradas em princípios bíblicos e teológicos que a inspiram e que orientam suas ações. Sua atuação pode ser expressa pelo conceito de diaconia social, que promove a transformação das relações sociais e econômicas para alcançar a justiça socioeconômica.
Essa diaconia não se restringe ao campo socioeconômico, mas abarca todas as dimensões da “casa comum” (oikos), já que todas estão imbricadas. Como só temos uma única casa – o planeta terra – é imprescindível que sua administração ocorra com a participação de todas as pessoas que o habitam e em benefício de todos/as, em clima de respeito mútuo (ecumenismo). Ao afirmar essa dimensão, não queremos esquecer que nós mesmos/as somos os/as arquitetos/as da situação em que a Casa Comum, o Meio Ambiente, se encontra, “nós mesmos somos a terra” (cf. Gen 2:7).
Diante dessa situação, pergunta-se por um outro mundo possível onde se supere esse modelo de desenvolvimento baseado no consumo exacerbado, na ganância e na destruição da “casa comum”. Além de reconhecer e denunciar o atual modelo de desenvolvimento econômico que ameaça o planeta, é necessária uma diaconia do cuidado para com o ambiente e seus/suas habitantes.
Para nós, o conceito de “criação”, antes de ser uma teoria científica, é um testemunho de fé. Entendemos que o mundo é dom gratuito de Deus, dado a seus/suas habitantes como concessão a ser cuidada e administrada responsavelmente. Nosso planeta foi criado “muito bom” (Gn 1,10.28.31); e os seres humanos receberam a tarefa de cuidar bem dele (Gn 2,15).
Essa diaconia do cuidado não pode ser confundida com domínio absoluto e prepotente do ser humano sobre as outras criaturas e sobre outras dimensões, orgânicas ou inorgânicas, como se interpretaram erroneamente e fora de contexto algumas afirmações bíblicas. Estamos sendo convidados/as para uma mudança de paradigma que nos permita viver, crescer e sustentar o planeta em que vivemos.
A arrogância humana de querer, em sua ânsia de poder, exercer o domínio total sobre o que nos foi dado por Deus é, pelo contrário, considerada origem de todos os males (Gn 3,5ss). Essa mesma prepotência se expressa no racismo, no patriarcado e na exploração de mulheres. Por isso, uma Política de Justiça Socioambiental e Climática também precisa dialogar com as Políticas Institucionais de Gênero e Raça da CESE. Estas políticas reconhecem que são muitos/as os/as vulnerabilizados/as, como as populações negras, povos indígenas e as mulheres, que têm vivenciado no seu cotidiano o impacto desse modelo de produção e consumo que não favorece a construção da autonomia econômica e as condena a sobrepostas e variadas formas de violências.
Nessa trajetória, a organização encontra a Teologia Ecofeminista e, nela, subsídios para denunciar como a exploração e a destruição da casa comum estão vinculadas com a subordinação e opressão das mulheres e propõe uma mudança de paradigma orientada a harmonizar natureza, equidade de gênero, racial e étnica e justiça social. O patriarcado não só naturalizou a desigualdade entre homens e mulheres em nossa cultura, mas promoveu também, a partir de sua lógica de dominação e abuso do sistema econômico de exploração, estupro e subjugação da natureza e das pessoas, que causam pobreza, exclusão e morte (…). A opressão das mulheres e a destruição do planeta advêm do mesmo sistema patriarcal.
A diaconia do cuidado aprendeu com culturas e espiritualidades tradicionais, originárias e ancestrais a resgatar a espiritualidade ecológica. Redescobriu-se que o ser humano é parceiro e não dono dos outros seres criados. Memória disso é a narrativa que fala do ser humano ter sido criado do “pó da terra” (’adamah: Gn 2,7). Ou seja, seres humanos e terra são compostos pelo mesmo material, o que revela a interdependência e supera a visão antropocêntrica que por séculos marcou a posição de privilégio dos seres humanos em relação aos demais seres do planeta.
O fato de termos uma única “casa” – planeta – onde as mais diversas culturas e convicções religiosas querem viver em harmonia constrange a uma diaconia solidária de respeito mútuo. A vocação ecumênica da CESE – transparente em seu próprio nome – a impele a vencer exclusivismos e fundamentalismos e a dialogar e aprender com outras tradições e práticas religiosas como forma de contribuir com a busca de soluções de problemas que afetam a todos/as e com a descoberta de meios para a preservação e a convivência harmoniosa dentro da Casa Comum.
A CESE dialoga com princípios como o do Bem-Viver, afinados na busca de modelos de desenvolvimento ambientalmente justos, sustentáveis e inclusivos sob o ponto de vista social, econômico e cultural. Dialoga ainda com movimentos, associações, grupos populares que se comprometem em proteger o próprio território com os seus valores naturais e culturais. Realidades sociais que muitas vezes não são valorizadas, às vezes são até obstaculizadas, porque não produzem dinheiro, mas, na realidade, contribuem para uma revolução silenciosa, uma revolução do cuidado.
Aprende também com os povos de terreiro a reconhecer a presença do sagrado em elementos naturais como água, fogo, ar, terra e folhas. Dialoga com povos indígenas e comunidades tradicionais para aprender, dar visibilidade e fortalecer seus modos de vida alicerçados na ancestralidade, no conhecimento tradicional, na vida em comunidade e na relação harmoniosa com a natureza. Humildemente reconhece que estas populações são, em grande parte, guardiãs da socioagrobiodiversidade e têm muito a nos ensinar, a “parir” novos céus e nova terra (Is 65,17).
CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL E CLIMÁTICA E BEM-VIVER
O modelo de desenvolvimento na atualidade, baseado no neoextrativismo, se soma à expansão do capitalismo neoliberal e à desregulamentação e é incompatível com a democracia e o Estado democrático de direito. Ele produz a degradação ambiental, a privatização dos bens naturais, o latifúndio, a monocultura, o agro e hidronegócio, a violência nos centros urbanos e no campo, a destruição dos direitos sociais. A desregulamentação cresce na área ambiental e favorece os setores econômicos, tal como o agronegócio, que é um setor químico-dependente e exige a flexibilização das normas e liberação de grandes quantidades e variedades de agrotóxicos no país. A desregulamentação afeta também, por exemplo, o setor da mineração e os serviços públicos nas cidades, entre outros.
Com o avanço desse modelo do agrohidronegócio, o que vemos é a morte das bases de sustentação da vida, morte de rios, exaustão e poluição de aquíferos, desmatamento das florestas, bosques e matas, contaminação química, destruição da biodiversidade, emergência climática… A mercantilização dos bens comuns traz sofrimento à natureza e à humanidade, que também a integra. Além disso, somente uma pequena parte da população se beneficia do bem-estar produzido por esta economia. Ao mesmo tempo em que a natureza sofre com a agressão da exploração predatória pelos detentores do poder econômico, a agricultura familiar, os extrativismos comunitários, são diminuídos e as populações tradicionais são alijadas de seu ambiente de vida e trabalho.
É nesse contexto que emerge a concepção de Justiça Socioambiental e Climática, se constituindo para a CESE como referência de uma sociedade que respeita a sociobiodiversidade, com equidade de condições e de oportunidades para a sua plena afirmação, assegurando direito ao acesso livre aos bens comuns (naturais, culturais), de maneira a permitir a existência e a reprodução social, econômica, ecológica e cultural de grupos humanos na relação com seus ambientes naturais (ecossistemas) ou construídos (cidades), assegurando a saúde e sustentabilidade destes, e refutando que as decorrências nefastas do modelo de desenvolvimento hegemônico e das mudanças climáticas recaiam de maneira desproporcional e magnificada sobre populações vulnerabilizadas.
O aspecto da justiça climática é ressaltado pelo reconhecimento que, embora as mudanças climáticas nos insiram em uma crise de escala planetária, seus efeitos não são sentidos da mesma maneira em todos os lugares e nem por todos os segmentos da população. Os piores e mais devastadores efeitos da crise climática – por exemplo, calor extremo, enchentes e quebras de safra – são sentidos de forma desproporcional por países e comunidades do Sul Global e, nesses, pelas populações mais vulneráveis.
É fundamental ainda que seja produzida a intersecção entre sustentabilidade ambiental e igualdade social, de gênero e de raça/étnica, pois, sem essa, é impraticável um planeta sustentável e justo.
Para enfrentar todo esse cenário dissociativo e alienador, defendemos um contraponto necessário quando pensamos na lógica de desenvolvimento hegemônica. A CESE busca fortalecer e também aprender com povos originários, quilombolas e tradicionais e, através da ecologia de saberes, reconhece nessas populações acervos sociais, culturais, tecnológicos e políticos que as fizeram guardiãs da socioagrobiodiversidade e de seus territórios de vida.
A partir da noção de bem-viver, esses povos inauguram um leque de possibilidades para a construção de projetos emancipatórios. Trata-se de processos que se produzem a partir de histórias de lutas, resistência e propostas de transformações; de uma ideia que se funda a partir de experiências locais, mas também dialoga com contribuições provenientes de diversas outras regiões e cidades do mundo. Tudo isso configurando uma multiplicidade de sujeitos, experiências e projetos democráticos de construção de sociedades sustentáveis em contextos urbanos e rurais.
A CESE concebe papel decisivo também ao bem-viver no contexto das cidades. A relação entre o Direito à Cidade e o bem-viver anima a vida cotidiana e o imaginário social para conceber outra perspectiva ótica e ética, e acena para uma profunda transformação cultural dirigida a outros sentidos de produção, circulação e consumo. Propõe ainda o aprofundamento da dinâmica democrática da participação; o evidenciamento da relação entre seres humanos e cidade; a afirmação do direito à cidade (terra, moradia, saneamento ambiental, entre outros) como direitos humanos inalienáveis; a prioridade para os direitos coletivos; a compreensão do direito a ambientes e espaços acessíveis para todas as pessoas; a concepção de uma economia baseada na comunidade; o exercício da cooperação, não da competitividade; e o respeito à multiculturalidade.
ORIENTAÇÕES PARA PRÁTICAS INSTITUCIONAIS
A Política de Justiça Socioambiental e Climática da CESE traz orientações políticas para práticas institucionais distribuídas em 6 (seis) Itens.
4.1 Gestão
Na gestão de uma organização da sociedade civil como a CESE, se busca estimular a equipe de trabalho a trilhar um caminho da construção de uma nova cultura institucional que incorpore princípios e critérios de gestão socioambiental em suas atividades rotineiras, promovendo a economia de bens naturais e a redução de gastos institucionais por meio do uso racional dos recursos, da gestão adequada dos resíduos, das compras sustentáveis e da promoção da sensibilização, capacitação e qualidade de vida no ambiente de trabalho e no entorno, além de estimular a adotar medidas que contribuam para um (re)pensar os padrões e relações de consumo. Elas repercutem nas relações com outras instituições e nos posicionamentos políticos, orientados pela busca por Justiça Socioambiental e Climática. Tais ações se desenvolverão em diferentes aspectos:
- Em relação à sede, considerar a adoção de inovações sociais que possibilitem o uso e reuso da água de maneira sustentável; a priorização de fontes de energias renováveis e padrão de construção e reforma que tome em conta o menor impacto ao meio ambiente;
- Adoção de uma política de compras e de contratação de serviços que prime pela sustentabilidade, priorizando relação com grupos da economia popular e solidária, produtos agroecológicos, produção feita por mulheres…
- Zelar pela relação respeitosa com o entorno e com a vizinhança…
- Não efetivação de contratos de serviços ou de compra com empresas que sejam violadoras de direitos (trabalhistas, ambientais, das mulheres, do povo negro, das juventudes etc.).
- Estimular e/ou priorizar a contratação de organizações e grupos do meio popular, reconhecidos pela prática justa com os bens naturais, para prestação de serviços nas atividades desenvolvidas pela CESE;
- Analisar as parcerias visando evitar estabelecer vínculos com organizações que produzam – ou sejam reconhecidas – por violações de direitos e/ou práticas geradoras de impactos ou conflitos socioambientais.
4.2 Relações Ecumênicas e Diálogo Inter-religioso
Ao concebermos a relevância da Terra a partir da opção que a CESE faz dessa Casa Comum como elemento fundante da sua missão e atuação, observa-se que o conjunto de hábitos fundamentais que delineiam o seu comportamento institucional, suas práticas e sua cultura baseadas em valores e princípios, se assenta na diversidade religiosa como elemento constituinte e fundamental.
A diversidade religiosa, mas também a de convicções, estruturando valores e princípios da CESE, pode contribuir sobremaneira para uma aproximação com diversas formas de vivenciar o sagrado e ajudar a compreender e a construir pontes alicerçadas no respeito mútuo com as mais diversas expressões de fé e de convicções, a exemplo das religiões de matriz africana, indígenas, orientais… Estamos todos/as juntos/as nesta construção, nessa busca, em que cada segmento, grupo ou tradição se remete ao diferente, numa perspectiva de promoção de aprendizado cotidiano e revelador, como num coral com muitas matizes de vozes.
A partir dessa perspectiva em termos de relações ecumênicas e diálogo inter-religioso, se buscará promover:
- Contribuição na direção da superação da lógica que coloca o ser humano como o centro do mundo (antropocentrismo), com estabelecimento de outras formas de convivência com a natureza;
- Apoio a iniciativas de grupos e movimentos que buscam fazer os enfrentamentos aos fundamentalismos políticos e religiosos e, no contexto desse debate, aprofundar a compreensão sobre as interfaces entre racismo religioso e ambiental;
- Formação e campanhas de enfrentamento ao racismo religioso e fundamentalismos;
- Contribuição para a formação ecumênica e inter-religiosa da equipe da CESE e, na medida do possível, de grupos e movimentos parceiros;
- Sensibilizar e estimular as igrejas associadas para o compromisso com as causas ambientais e climáticas, incentivando-as a adotarem práticas diaconais, reflexões bíblicas e espiritualidades inspiradas no tema.
4.3 Comunicação e justiça socioambiental
Sensibilização dos públicos da CESE para promoção da justiça socioambiental e climática em contexto urbanos e rurais. A comunicação buscará, na produção de seus conteúdos:
- Contribuir para a compreensão da relação sociedade-natureza em diferentes contextos, promovendo a importância dos diversos biomas brasileiros, territórios, inclusive os territórios urbanos, valorizando a diversidade cultural e os modos de vida das populações associadas a esses ambientes;
- Ajudar a reforçar o vínculo e o sentimento de pertencimento à natureza em contextos urbanos e rurais;
- Contribuir para a promoção e vocalização dos sujeitos políticos e sua relação com os ambientes com uma abordagem que pronuncia a visibilidade de mulheres e juventudes em defesa dos direitos socioambientais;
- Dar visibilidade aos povos e comunidades tradicionais, quilombolas e povos indígenas, buscando a afirmação de seus modos de vida, efetuando denúncias acerca de violações dos direitos socioambientais e as ameaças à integridade e à vida desses sujeitos, promovendo, sempre que possível, a disputa de narrativas acerca desses conflitos, valorizando histórias de vida; resistências e anúncios;
- Dar visibilidade às histórias de defensoras e defensores ambientais e às suas agendas;
- Divulgar campanhas de solidariedade às emergências fruto das mudanças e das injustiças climáticas (enchentes, secas, queimadas, deslizamentos…);
- Divulgar práticas socioambientais que promovem a justiça socioambiental e climática (tecnologias sociais, agroecologia, reciclagens, eventos);
- Articular com grupos de comunicadores/as das igrejas, a fim de fortalecer a Justiça Socioambiental em rede;
4.4 Serviço de projetos
Buscará impulsionar iniciativas provenientes de populações vulneráveis do campo e da cidade, organizados coletivamente para a defesa de direitos. De maneira especial, apoiará organizações de mulheres, população negra e juventudes. A ideia é que estas iniciativas fortaleçam o paradigma de sociedades sustentáveis, seja na relação com a natureza, seja em relação a ambientes urbanos, fortalecendo perspectivas em torno do bem-viver, socioeconomia popular e solidária, economia do cuidado, ecofeminismo e as condições de sua materialização em territórios específicos, urbanos ou rurais. Para efetivar essa perspectiva, o PPP – Programa de Pequenos Projetos se orientará a:
- Não apoiar projetos de organizações com passivo ambiental;
- Valorizar modos de vida, populações e comunidades tradicionais, povos indígenas, quilombolas, guardiãs e guardiões de sementes, mulheres que conservam a biodiversidade, a água, os bens comuns nos contextos urbano e rural;
- Considerar a questão da justiça socioambiental no tratamento dos projetos, estimulando o olhar dos grupos para essa questão;
- Manter e estimular a meta de aplicação de recursos para ações nesse campo de meio ambiente orientado à justiça socioambiental;
- Estimular chamadas para projetos nessa área, estabelecendo processos pedagógicos com grupos que possam alimentar a reflexão da CESE;
- As questões de gênero, raça, etnia, classe e território devem se imbricar na abordagem dos projetos como possibilidade e, na medida do possível, estabelecer relação com os grupos da economia popular e solidária popular, da agroecologia;
- Orientação para que gastos do projeto sigam a lógica de sustentabilidade (alimentação, compras, escolha de fornecedores…);
- Considerar a questão da justiça ambiental e a conexão de lutas locais com espaços de articulação, sempre que possível;
- Desenvolver e aprofundar, quando possível, a discussão sobre a Justiça Climática junto a encontros de planificação, monitoramento e avaliação de projetos;
- Apoiar projetos emergenciais levando também em conta a tendência de aumento de situações emergenciais em função das mudanças climáticas e da injustiça ambiental, considerando as regiões e biomas prioritários;
4.5 Diálogo e Articulação
Para aproximar o trabalho ecumênico dos movimentos populares e manter a sintonia da CESE com as lutas populares:
- A política de Justiça Socioambiental e Climática se constitui como um balizador para a relação com agências, mobilização de recursos e Igrejas, orientando as ações da CESE;
- Comunicação com os projetos e parceiros institucionais, referenciada na política de Justiça Socioambiental e Climática;
- A CESE participará de espaços de diálogo e articulação afins à sua política.
4.6 Formação
Afirmação de uma formação crítica que possibilite reflexões sobre o modelo de sociedade, as relações dos seres humanos com o ambiente e as outras espécies, a desigualdade no uso dos bens comuns e o desproporcional impacto dos danos ambientais nas populações marginalizadas. A Formação buscará:
- Eleição de temáticas que conectem a atuação da CESE com as questões relevantes para os grupos, povos, organizações e movimentos sociais com quem a CESE se relaciona;
- Impulsionar uma formação em que se promova uma postura “para fora”, voltando-se para a esfera pública e para a incidência política;
- Desenvolver uma formação baseada na educação popular que seja um contraponto a uma imposição de conhecimentos sobre as populações locais que tiveram (e têm) seus conhecimentos locais/tradicionais/ancestrais desvalorizados ou exterminados;
- Proporcionar a ecologia de saberes para romper com essa monocultura de um só saber, valorizando os outros saberes produzidos pela luta dos/as oprimidos/as na luta por justiça socioambiental e climática;
- Buscar a relação da justiça socioambiental e climática com a perspectiva de gênero, raça, etnia, nos processos de formação (internos e externos);
- Nas formações, valorizar distintas e múltiplas cosmovisões que alimentam as expressões de vida, manifestas nos jeitos de ser, pensar e agir dos seres humanos;
- Envolver as juventudes nas formações socioambientais;
- Impulsionar uma formação que resulta em novas emergências políticas de povos historicamente desconsiderados como parceiros da resistência;
- Formação dos sujeitos e da população para o apoio e engajamento em políticas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas mais significativas;
- Valorizar a perspectiva vivencial, valorizando o contato e apropriação com conhecimentos transmitidos de forma tradicional, com os problemas socioambientais, os sujeitos, as tecnologias, as várias experiências afirmativas que proporcionam atitudes de respeito, apropriação e cuidado, contribuindo para um processo de consciência socioambiental;
- Estimular que a justiça socioambiental e climática dialogue com formações em outras áreas temáticas, buscando conexões, imbricamentos, interfaces;
SEGUIMENTO E ACOMPANHAMENTO DA POLÍTICA
A Política de Justiça Socioambiental e Climática não constitui um produto, bem mais o registro de um processo que nesse momento encontra seu desaguadouro, mas que terá continuidade e aprofundamento nas práticas socioambientais da CESE e na sua relação dialógica com uma diversidade de sujeitos, a partir de uma ecologia de saberes em torno desse tema. permanentes.
Dessa maneira, o seguimento com a promoção de diálogos internos e externos relacionados à conjuntura e à convivência com os biomas brasileiros, as tessituras e conectividades entre sociobiodiversidade, diversidade étnica e cultural, racismo ambiental, feminismos, mudanças climáticas, economia do cuidado, bem-viver, alternativas sistêmicas, espiritualidade, neoextrativismo e tantas outras possibilidades seguirá pulsando como inquietudes e necessidades de aprofundamento e atualização permanentes.