[:pb]“As barragens operam no limite há três anos”, alerta Maria Júlia Zanon, dirigente do MAM [:en]“The dams have been operating at maximum capacity for three years,” says Maria Julia Zanon, director of the MAM[:]

[:pb]A tragédia de Bento Rodrigues (MG) é anunciada, de acordo com a dirigente do Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM) Sudeste, Maria Júlia Zanon. No último dia 05/11, duas barragens de rejeito mineral (que pertencem a Samarco Mineração S.A – empresa controlada pelos grupos Vale e BHP Billiton) romperam no distrito de Bento Rodrigues, que pertence ao município de Mariana (MG).

“Essas barragens operam no limite há três anos, o Ministério Público já tinha laudo em 2013 alertando sobre isso. Como pode, o maior complexo de produção de minério de ferro do Brasil não ser acompanhado? O fato delas terem licença ambiental não exime governo de monitorar”, pontua Maria Júlia.

Distrito de Bento Rodrigues em Mariana (MG) soterrado pela lama - Foto: Douglas Magno/O tempo

Distrito de Bento Rodrigues em Mariana (MG) soterrado pela lama – Foto: Douglas Magno/O tempo

É impossível saber, na visão da ativista do MAM, os desdobramentos e impactos sobre essa comunidade, já que é uma área rural, de agricultura familiar. A lama tóxica já ultrapassou em 100 km os limites do distrito de Bento Rodrigues, atingindo o Rio Doce (que já está assoreado) e chegando ao Espírito Santo.

Dados oficiais divulgados até o momento revelam a morte de apenas duas pessoas, mas relatos da população local dão conta de no mínimo 120. “Percebemos que existe uma blindagem, famílias estão sem informações corretas, sem uma lista de desaparecidos”, denuncia Maria Júlia, lembrando que essa tragédia poderia ser evitada, caso não houvesse negligência no planejamento em caso de emergências como essa. “Se tivesse o mínimo de preocupação, todas as pessoas poderiam ter escapado. Quem sobreviveu foi por conta própria, uns ajudando os outros, professores tiraram alunos das escolas sozinhos”, relata.

Confira o dossiê completo produzido pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB):

Tragédia anunciada

O dia 05 de novembro de 2015 vai ser lembrado para sempre como mais um dia que o lucro desmedido é colocado na frente da vida do povo. Por volta das 16 horas, a barragem do Fundão, propriedade da Samarco Mineração, localizada no município de Mariana, Minas Gerais, rompeu-se e liberou um mar de lama. A enxurrada lama atingiu outra barragem de rejeitos da mineradora, a barragem de Santarém, que também se rompeu despejando todo seu conteúdo no distrito de Bento Rodrigues, localizado a 15 Km do centro de Mariana. O distrito onde viviam 620 pessoas foi atingido pela torrente e teve 90% de suas casas destruídas.

Os moradores, sem receber nenhum aviso da empresa, correram ao ouvir o som do rompimento da barragem. Fugiram às pressas para os morros e partes altas do distrito. Vários moradores relataram terem visto pessoas serem levadas pela enxurrada. Casas, escolas, rede elétrica, estradas, tudo foi destruído. Os moradores ficaram ilhados e começaram a ser resgatados de helicóptero por bombeiros.

A lama continuou descendo atingindo mais vilarejos no caminho. O município de Barra Longa, distante aproximadamente 70 Km do local da barragem, também foi atingido. A lama invadiu o centro da cidade, mais de 100 pessoas ficaram desabrigadas e muitos moradores ficaram ilhados na zona rural.

As estimativas das autoridades são de mais de 2000 atingidos. Nesse número não estão incluídos todos os municípios que terão abastecimento de água comprometido, rio contaminado e morte de peixes.

Mortos e desaparecidos
Há números controversos de mortos e desaparecidos. Segundo os bombeiros mais de 500 pessoas foram resgatadas. As autoridades confirmaram a morte de três pessoas: um funcionário da mineradora que teve um mal súbito no momento do rompimento, um homem encontrado no Rio Doce próximo a Barra Longa e uma criança de 7 anos do Distrito de Bento Rodrigues que foi levada pela lama. A Samarco apontou 13 trabalhadores desaparecidos. A prefeitura divulgou a lista oficial de atingidos que constam 12 pessoas de Bento Rodrigues, totalizando portanto 25 desaparecidos. Militantes do MAB conversaram com diversos atingidos que relataram ter parentes desaparecidos, outros presenciaram o momento que a lama arrastou moradores, portanto o número de vítimas provavelmente será maior dos dados que estão sendo divulgados.

Abastecimento de água para população
A lama alcançou o Rio Doce no dia 6 e comprometeu a captação de água de várias localidades. A Usina de Candonga, localizada no município de Rio Doce a 100 Km de Mariana, paralisou a geração de energia e abriu as comportas liberando a água e lama. Segundo o Consórcio operador formado pela própria Vale e a Aliança Geração de Energia, a geração foi interrompida para evitar possíveis danos à usina.

Resíduo Tóxico
A lama da barragem era proveniente da mineração de ferro. Já se sabe que ao menos quatro cursos de água foram atingidos pelo rejeito: córrego Fundão, rio Gualaxo do Norte, rio Carmo e rio Doce. Segundo relato de trabalhadores do setor, o resíduo contém ferro e metais pesados como mercúrio e arsênio, que são elementos altamente tóxicos. Em entrevista coletiva, o presidente da Samarco afirmou que o resíduo é inerte e não prejudica os seres humanos.
Essa não é a opinião dos atingidos que tiveram contato com a lama, muitos relatam mal estar, tonturas, dor de cabeça, dor na garganta. Os voluntários que faziam o atendimento inicial das vítimas também relataram que os atingidos apresentavam sintomas de intoxicação: tonturas, náuseas, dor de cabeça e confusão mental.
O Ministério Público de Minas Gerais já designou cinco promotores para investigar as causas e responsabilidade do desastre. O promotor Carlos Eduardo Pinto informou que serão realizados testes para constatar se a lama é tóxica.

De quem é a responsabilidade?
Segundo a própria empresa, as causas do rompimento das barragens ainda são desconhecidas. Noticiários divulgaram a ocorrência de tremores observados pelo Centro de Sismologia da USP (Universidade de São Paulo). Porém, em entrevista concedida pelo professor Marcelo Assumpção, do Departamento de Geofísica da USP à Globo News, o próprio afirmou que os abalos foram de baixa intensidade. Foram tremores fracos que muitas vezes não são percebidos pelas pessoas. Segundo o professor, esse tipo de abalo pode ocorrer todos os dias e dificilmente afetariam a estrutura de uma barragem de rejeitos.

Para o MAB, a divulgação sistemática dessa informação parece uma estratégia da empresa para se eximir das responsabilidades. A empresa é responsável pela construção, manutenção e garantia de que a obra opere corretamente e em segurança. Portanto, qualquer ocorrido é de responsabilidade da mineradora.

No momento do acidente, a Samarco estava realizando uma obra de alteamento na barragem de Fundão e Germano. A empresa ainda não divulgou se houve relação dessas obras ao acidente.

A Samarco Mineração é propriedade da Vale (50%) e da anglo-australiana BHP Billiton (50%), as duas maiores mineradoras do mundo. No ano de 2014 a Samarco obteve um lucro líquido de 2,8 bilhões de reais. A Vale obteve, de abril a junho de 2015, lucro líquido de 5,14 bilhões de reais, enquanto a BHP obteve 6,42 bilhões de dólares até junho de 2015. Portanto, estamos falando de algumas das maiores empresas do mundo. Mesmo com todo esse lucro, essas mineradoras se negaram a investir o mínimo em segurança necessária para evitar uma catástrofe de tamanha magnitude.

(Com informações do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB)
[:en]The tragedy of Bento Rodrigues (MG) was a prediction made by the leader of the Movement of People Affected by Southeast Mining (MAM), Maria Julia Zanon. On Thursday, November 5, two dams of mineral waste (belonging to Samarco, a mining company controlled by Vale SA and BHP Billiton Ltd) burst in Bento Rodrigues, a town located in the municipality of Mariana in the state of Minas Gerais (MG).
“These dams have been operating at full capacity for the last three years. The Public Ministry had already submitted a report in 2013 warning about it. How can the biggest iron ore production complex in Brazil not be watched over? The fact that they have an environmental permit does not exempt the government from monitoring it “, points out Maria Julia.
It is impossible to know, in the view of the MAM activist, the consequences and impact on this community, since it is a rural family farming area. The toxic sludge has already extended 100 km beyond Bento Rodrigues city limits, reaching the Rio Doce (which is now silt) and extending out to the state of Espirito Santo.
Official data released so far has revealed the death of only two people, but local population reports estimate at least 120. “We realized that information is being withheld, families are without access to accurate data, or a missing persons report,” complains Maria Julia, remembering that this tragedy could have been avoided if there had not been negligence in planning for emergencies like this. “If there had been the slightest concern, everyone could have escaped. People who survived were on their own, helping each other. Teachers took students from the schools themselves,” she says.
Check out the full dossier produced by the Movement of People Affected by Dams (MAB)
Tragedy announced

November 5, 2015 will forever be remembered as one more day that unbridled profit was placed ahead of people’s lives. Around 4pm, Fundão Dam, owned by Samarco Mining, in the municipality of Mariana, Minas Gerais, burst and released a massive flood of mud. The mud flood reached another dam of the mining tailings, Santarém Dam, which also ruptured and poured its entire contents into the town of Bento Rodrigues, located 15 km from Mariana center. The town, where 620 people lived, was hit by the flood and 90% of their homes were destroyed.
Residents, without any notifications from the company, ran at the sound of the dam breaking, hastily fleeing to the hills and high parts of the district. Several locals reported seeing people being taken by the flood. Homes, schools, electricity and power supplies, roads, everything was destroyed. Helicopters piloted by firefighters began rescuing stranded residents.
Mud continued descending reaching more villages in its path. The city of Barra Longa, approximately 70 km from the dam site, was also hit. The mud invaded the city center, more than 100 people were left homeless and many residents were stranded in the countryside.
Authorities estimated over 2000 were affected. This figure does not include all the municipalities that will have a compromised water supply, contaminated river and fish loss.

Dead and missing

There are controversial figures of the dead and missing. According to firefighters, more than 500 people were rescued. The authorities confirmed the death of three people: an employee of the mining company that had a sudden illness at the time of the rupture, a man found in the Rio Doce near Barra Longa and a 7 year old from the Bento Rodrigues district that was carried by the mud. Mining operator Samarco named 13 workers missing. The city released an official list of victims listing 12 people missing from Bento Rodrigues, thus totaling 25 missing in all. Activists from MAB talked with various victims who reported having missing relatives, while others had witnessed the moment the mud dragged locals, so the number of victims will probably be higher than the official data being disclosed.

Population water supplies

The mud tide reached the Rio Doce on the 6th and compromised water catchment in various locations. Candonga plant, located in the municipality of Rio Doce, 100 km from Mariana, paralyzed power supplies and opened floodgates releasing water and mud. According to an operator of the joint venture formed by Vale itself and Alliança Geração de Energia (The Energy Supply Alliance), power generation was stopped in order to prevent possible damage to the plant.

Toxic Waste

Mud from the dam came from the mining of iron. It is known that at least four waterways were affected by the waste: the Fundão creak, and the rivers of North Gualaxo, Carmel and Doce. According to a report from industry workers, the residual waste contains iron and heavy metals such as mercury and arsenic, which are highly toxic elements. At a news conference, the president of Samarco maintained that the waste was inert and harmless to humans.
This was not the opinion of victims who had contact with the mud however, who reported general malaise, dizziness, headaches, and throat pain. Volunteers who provided initial treatment of the victims also reported that they displayed symptoms of poisoning including dizziness, nausea, headache and mental confusion.
The Minas Gerais Public Ministry has appointed five government officials to investigate the causes of the disaster and assign responsibility. Eduardo Pinto, an official, reported that tests would be performed to see if the mud is toxic.
Whose responsibility is it?
According to the company itself, causes of the dam bursts are still unknown. News reported the occurrence of tremors observed by the USP (University of São Paulo) Seismology Center. However, in an interview granted to Globo News by Professor Marcelo Assumpção from the USP Department of Geophysics of the USP, it was stated that the aftershocks were of low intensity with weak tremors that often go unnoticed by people. According to the professor, this type of shock can occur every day and hardly affect the structure of a tailings dam.
For MAB, the systematic disclosure of this information seems like a company strategy to evade responsibility. The company is responsible for construction, maintenance and guaranteeing that work will operate correctly and safely. Therefore, any occurrence is the mining operator’s responsibility.
At the time of the accident, Samarco was performing work to heighten the Fundão and Germano dams. The company has not stated if there was any relationship between this work and the accident.
Samarco Mineração is owned by Vale (50%) and Anglo-Australian BHP Billiton (50%), the two largest mining companies in the world. In 2014, Samarco had a net profit of R$2.8 billion. From April to June 2015, it obtained a net profit of R$5.14 billion, while BHP earned US$6.42 billion dollars by June 2015. So we’re talking about some of the largest companies in the world. Even with all that profit, these miner operators refused to invest in the minimum security necessary to prevent a catastrophe of such magnitude.
(Information provided by the Movement of People Affected by Dams – MAB)[:]

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