Associados do Sindipetro-BA visitam quilombo apoiado pela CESE

A comunidade quilombola de São Francisco do Paraguaçu-Boqueirão (vila da cidade de Cachoeira-BA) foi o destino escolhido para a visita organizada pela CESE em parceria com o Sindicato dos Petroleiros da Bahia no último sábado (7). Cerca de 30 associados do Sindicato percorreram cerca de 120 quilômetros rumo ao Recôncavo baiano e puderam conhecer de perto não só as belezas naturais da região, mas seu patrimônio cultural e especialmente a história de luta pelo território que os quilombolas ancestralmente ocupam.

 

“Nós estamos aqui enquanto sindicalistas conhecendo a realidade dessa comunidade para fortalecer essas resistências que foram tão suprimidas buscando resistir à opressão dos latifundiários e defender as suas terras, suas famílias, filhos e netos”, explica sobre o objetivo da visita a diretora de gênero e raça do Sindipetro, Rosângela dos Santos.  “Essa parceria com a CESE é importante para que nós possamos dar as armas necessárias para que eles possam sair vitoriosos dessa luta tão desigual e contribuir para que continuem em suas terras, que é de direito”, pondera Rosângela.

Dia de quilombo

“Era lá que nossos ancestrais se escondiam quando fugiam”, aponta Eugênio dos Santos para a direção onde começou o Quilombo Boqueirão (que compreende 5 mil hectares de terra e abriga hoje cerca de 450 famílias quilombolas).

A visita começou com uma apresentação da Associação dos Remanescentes do Quilombo de São Francisco do Paraguaçu-Boqueirão para os aposentados, seguida de incursão à Casa de Farinha e ao apiário, revelando o patrimônio cultural dos quilombolas. As ruínas do Convento de Santo Antônio (tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) foram apresentadas por um dos coordenadores da Associação, Alexandro Conceição dos Santos (mais conhecido como Da Mata), que contou que a edificação levou mais de 20 anos para ser construída – 1660 a 1686.

A apresentação do grupo de samba de roda e a feira com produtos locais (azeite, camarão, frutas) também movimentou a visita.

 

A roda de diálogo costurou o percurso para o entendimento dos aposentados e diretores do Sindipetro sobre a história de luta por território dos quilombolas. “Se vocês estão nessa terra é por nossa resistência”, destaca Demervaldo dos Santos (apelidado de “Sumido”), um dos coordenadores da Associação.

“Moro aqui há mais de 300 anos. Meus pais, avós, bisavós, tataravós nasceram aqui”, conta o também coordenador, Crispim dos Santos (Rabicó), mostrando sua estreita relação com o território. Rabicó conta que 14 fazendeiros locais travam disputa com os quilombolas pela terra, “jogando cães e armas”, no que é complementado por Da Mata. “Policiais já entraram aqui atrás da gente. Se não estivéssemos fora em Maragogipe, eu, Rabicó e mais duas lideranças estaríamos mortos”, relembra. Da Mata ainda conta que a perseguição ao quilombo já rendeu a destruição da sede em três oportunidades – além do episódio da divulgação de uma matéria pela Rede Globo, que acusou, erroneamente, a comunidade de crimes ambientais e fraude.

 

Tendo em vista essa realidade de abusos, Rabicó coloca na roda: “o povo fala mal de direitos humanos, mas é muito necessário. Pessoas entraram em minha casa com armas, fiquei meses sem dormir”, destaca, relatando sua experiência e convidando os presentes à reflexão.

Volta pra casa

Cleuza Santos, do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas, fala do que vai carregar da sua experiência pela primeira vez em um quilombo. “Só conhecia pela TV. Tem uma energia muito forte, nos identificamos com nossas raízes, afinal foi de quilombo que eu vim. Quero levar esse conhecimento para a categoria. O Brasil não está vendo essa realidade e esse povoado precisa ser reconhecido”, constata.

“É uma experiência nova. A gente, petroleiro, precisa fazer essas visitas, acompanhar dificuldades para que possamos no dia a dia fazer essa discussão que já fazemos na empresa, levar essas dificuldades para poder público e somar forças com as pessoas”, resume o diretor do setor de aposentados do Sindipetro, Francisco Ramos da Rocha.

 

 

 

 

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *