CESE e SOS Corpo promovem debate sobre reforma política com mulheres negras e populares do Norte e Nordeste

A CESE e a organização pernambucana SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia reuniram lideranças do Norte e Nordeste na última quinta-feira (9 de abril), no auditório da Coordenadoria Ecumênica de Serviço, para discutir a reforma política e mecanismos para garantir a maior representatividade de mulheres negras e populares nos espaços de decisão e poder. A mesa contou com a presença da ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Luiza Bairros; Sílvia Camurça, representando a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB); e Maria das Dores do Rosário Almeida, mais conhecida como Durica, pela Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). A mediação foi feita por Rosana Fernandes, assessora de projetos da CESE.

O evento contou com a participação de cerca de cem representantes de movimentos, organizações sociais e poder público e faz parte das atividades do Projeto “Mulheres Negras e Populares: Traçando Caminhos, Construindo Direitos”, realizado pela CESE e SOS Corpo, com financiamento da União Europeia. Cartazes, camisetas, recortes de jornais, artes manuais, revistas e diversos utensílios compuseram a exposição montada nos corredores da CESE pelas 40 representantes convidadas do Norte e Nordeste, instigando ao conhecimento da história de luta de suas organizações e compartilhamento de experiências.

“Nada melhor que reunir lideranças para pensar os rumos do movimento social brasileiro, dentro de um contexto político polarizado e da urgência de uma reforma política”, avalia Rosana Fernandes. De acordo com Sílvia Camurça, o país passa por “um momento favorável para discussão da reforma política, mas, ao mesmo tempo, difícil pelo cenário político polarizado, com discussões inflamadas. Há pouco espaço para participação popular, processualmente desqualificada pelo Congresso Nacional”.

Durica aponta a necessidade de avançar no próprio discurso de gênero, percebendo as diferenças de condições e enfrentamentos vivenciadas entre mulheres negras e brancas. “É preciso que as desigualdades vividas entre as mulheres sejam vistas nos mais diferentes espaços, sejam eles políticos, no mercado, nos afetos e frente ao racismo institucional”, acrescentou.

Luiza Bairros destaca que não há como pensar a reforma política sem pensar a democracia interna dos partidos. “Porque nós, como mulheres e negras, não podemos esperar que os partidos nos digam que caminhos devemos seguir”, pontua. Ela lembrou ao público que não haverá avanços nas políticas de gênero e raça se não houver ampliação na representação política desses grupos nos espaços de poder.

Jenair Alves, representante do Inter-Redes do Nordeste e Fórum Nacional da Juventude Negra, veio de Natal para o evento e considerou as discussões afinadas com as reflexões que o movimento tem feito. “Ainda são grandes os dissensos sobre a reforma política, sobre como poderia ser”, revela a militante. Já para Suely Santos, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, a ação liderada pela CESE e SOS Corpo inaugurou uma oportunidade de discussão do tema no âmbito das mulheres, num potente recorte racial e privilegiando a opinião e a experiência das líderes de organizações do campo de raça e gênero.

Troca de experiências
O evento abriu o seminário que seguiu pelos dias 10 e 11 de abril em Salvador, reunindo 40 mulheres dos nove estados do Nordeste e de três estados do Norte (Amapá, Pará e Tocantins), para analisar coletivamente os desafios e possibilidades de atuação e articulação dos movimentos de mulheres nestas regiões.

As participantes concluíram que fatores como a dupla jornada de trabalho, a falta de autonomia financeira, o machismo introjetado na sociedade são alguns dos fatores que dificultam a participação política de mulheres e jovens.

Para Terlúcia Silva, da Bamidelê – Organização de Mulheres Negras da Paraíba, é muito valioso fortalecer politicamente mulheres, mais especificamente as mulheres negras, que têm baixíssima representatividade seja no poder executivo, seja no legislativo ou no judiciário. “As barreiras são muitas para que esse segmento possa participar do sistema político e esse evento é importante por reunir representantes do Norte e Nordeste pensando nisso” acrescentou Maria de Lourdes Tavares, do Instituto de Mulheres Negras do Amapá. Para Marta Leiro, do Coletivo de Mulheres do Calafate e da Articulação Brasileira de Mulheres, são necessárias múltiplas estratégias para criar condições para fortalecer a participação de mulheres populares na política.

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