#CloseCerto – Saúde integral para as juventudes

Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.
Paulo Freire

Me cansei de lero-lero. Dá licença mas eu vou sair do sério. Quero mais saúde! Me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor, mas ninguém sai de cima, nesse chove-não-molha. Só sei que agora eu vou é cuidar mais de mim!
Rita Lee

Saúde é muito mais que o antônimo de doença, saúde é bem estar, é vida, é abundância e, segundo a Organização Mundial de Saúde, OMS, “saúde é o completo bem-estar físico, mental e social e não a simples ausência de doença”.
A partir dessa definição, notamos a complexidade do tema, o que exige de nós uma reflexão mais aprofundada sobre seu significado, baseando-se em ações intersetoriais e interdisciplinares.

Paulo Freire pode nos ajudar nesse entendimento, já que, conhece¬dor das fragilidades humanas, fez surgir um novo modelo articulador para o enfrentamento dos desafios sociais, tanto no campo da educação, como em outras áreas, como assistência social, direitos humanos, reforma agrária, desenvolvimento e saúde integral.

A articulação proposta por Freire representa a interdisciplinaridade, tão comentada nas ciências, em geral na educação e na saúde em particular. Pro¬põe a possibilidade de uma pedagogia fundamentada na práxis, inserida numa política de esperança, de luta revolucionária, de amor e de fé no ser humano.

O pensamento de Freire ainda é contemporâneo e inspira a teoria e a prática da educação. Traz o ser humano como um ser social, inserido em um contexto socioeconômico e cultural que influencia suas relações com o mundo. Os valores, conceitos, concepções e crenças condicionam a forma de estar no mundo e, ao mesmo tempo, são condicionados pelo mundo em que se vive.

O trabalho em saúde, também caracterizado por ser um fenômeno sócio-histórico e cultural, já que respeita as dimensões subjetivas de cada individuo, objetiva a cura, a reabilitação, a prevenção, a diminuição do sofrimento e promoção do bem-estar.

No Brasil, essa oferta é oferecida por meio do Sistema Único de Saúde, SUS. Mas, antes de prosseguirmos, cabe afirmar, com convicção, que há um forte desejo por parte do governo interino-provisório, baseado em um golpe de estado, de acabar com essa forma de saúde coletiva, publica e gratuita.

O SUS é a denominação do sistema público de saúde no Brasil, inspirado no National Health Service. É considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, segundo informações do próprio Conselho Nacional de Saúde, e é descrito pelo Ministério da Saúde, por meio da cartilha Entendendo o SUS como “um sistema ímpar no mundo, que garante acesso integral, universal e igualitário à população brasileira, do simples atendi¬mento ambulatorial aos transplantes de órgãos”. Foi instituído pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, como forma de efetivar o manda¬mento constitucional do direito à saúde como um “direito de todos” e “dever do Estado” e está regulado pela Lei nº. 8.080/1990, a qual operacionaliza o atendimento público da saúde.

Com o advento do SUS, toda a população brasileira passou a ter direito à saúde universal e gratuita, financiada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme rege o artigo 195 da Constituição.

Mas o que tudo isso tem a ver com juventudes?

Tem tudo a ver!

Quando defendemos um modelo de saúde integral, estamos defendendo também o acesso a uma educação pública, laica e de qualidade, a aparelhos culturais gratuitos, a uma alimentação balanceada, a uma justiça realmente justa, que ofereça segurança pública, que respeite as especificidades da juventude, especialmente a juventude negra, empobrecida, periférica, LGBT, com deficiência e que garanta o acesso ao sagrado daqueles/as que desejarem.

Todos esses fatores associados ao entendimento que a juventude é um estágio do desenvolvimento humano relativo aqueles/as com idade entre 15 e 29 anos, contemplando hoje cerca de 51 milhões de brasileiros/as. Vale lembrar que utilizamos a definição cronológica do Estatuto da Juventude, apenas como forma de delimitarmos nosso público, não com a ideia de reduzir o debate, excluindo aqueles/as que se identificam como jovens.

De acordo com Bourdieu (1983), não se deve incidir no erro de falar de jovens como se fossem uma unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar esses interesses a uma faixa etária. Não existe uma juventude, mas multiplicidade delas, tantas quantas são as tribos existentes. Não temos a pretensão aqui de oferecer uma conceituação abrangente dessa.

Voltando à questão da saúde e juventudes

Estamos afirmando que cabe ao poder público, em todas as suas esferas (municipal, estadual e federal), garantir aos jovens o acesso aos serviços públicos de saúde de maneira integral e com qualidade.

Esses serviços devem ser humanizados e com trabalho de prevenção aos desafios que são mais presentes entre as juventudes, relativas à saúde sexual (como a gravidez precoce e as doenças sexualmente transmissíveis) e o uso e abuso de drogas (como álcool, tabaco e outras drogas como esteroides anabolizantes e, especialmente, o crack).

Para que isso aconteça com excelência, deve haver treinamento e capa¬citação profissional para os profissionais da área (professores, médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, entre outros/as). Os governos também devem estabelecer parcerias com instituições da sociedade civil que trabalhem com essas questões.

#FicaaDica

Você conhece os equipamentos de saúde destinados às juventudes da sua cidade? Seria interessante se você fizesse uma caminhada por sua comunidade, mapeando todos os equipamentos de saúde (postos de saúde, UPAs, UBSs, Centros de referências, ONGs), assim, quando algum jovem precisar, você terá esses dados em mãos e poderá ajudar. Pense nisso!

Questões reflexivas
Você tem dialogado sobre saúde integral com as juventudes?
Como você acha que sua comunidade de fé pode ajudar na promo¬ção de saúde para as juventudes?
Como você acha que pode se engajar para que os direitos à saúde das juventudes não sejam eliminados?
Para saber mais e não dar #CloseErrado
A carta de intenções da Primeira Conferência Internacional sobre Pro¬moção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá, em 1986, denominada Carta de Ottawa, assim define a promoção à saúde:

“… o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfa¬zer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente… Assim, a promoção à saúde não é responsabilidade exclusiva do setor da saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global.”
A Carta de Ottawa advoga que a saúde constitui o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, e que é somente através das ações de promoção que as condições e recursos fundamentais para a saúde se tornam cada vez mais favoráveis. Considera que esses recursos são:

paz: redução da violência;

habitação: condições dignas de moradia, tanto em relação ao espaço físico quanto ao assentamento legal;

educação: cumprimento do ensino compulsório, redução da evasão escolar e revisão da qualidade de ensino;

alimentação: garantia de política municipal de geração e de meca¬nismos de troca de produtos alimentícios e, principalmente, garantia de alimento na mesa da família;

renda: a geração de renda para todos e com volume compatível com a vivência;

ecossistema saudável: ar salubre; água potável disponível 24 horas por dia; alimentos existentes em quantidade suficiente e de boa qualidade;

o recursos renováveis: o mais importante é o próprio ser humano, que se renova cada vez que se recupera de um mal-estar… Os ser¬viços de saúde devem estar aptos para atender às pessoas em todos os seus níveis de complexidade, seja com recursos próprios ou em parceria com outros municípios; justiça social e equidade: a iniquidade é caracterizada pela dife¬rença de velocidade com que o progresso atinge as pessoas… ava¬liada indiretamente pela área geográfica em que o cidadão reside. Dessa forma é que se busca, através do esquadrinhamento do muni¬cípio em territórios homogêneos, observar os determinantes e suas consequências ao bem-estar. A promoção da equidade é feita pela redução dos efeitos nocivos à salubridade e pelo reforço dos fatores positivos.

A essa Conferência seguiram-se outras três que aprofundaram o con¬ceito de promoção à saúde. Assim, a Declaração de Adelaide (Austrália, 1988), a Declaração de Sundsvall (Suécia, 1991) e a Declaração de Bogotá (Colômbia, 1992) reforçam a crítica à organização dos serviços de saúde, rea¬firmando sua responsabilidade no desenvolvimento de ações de promoção, além da oferta de serviços clínicos e de urgência.

Franklin Félix é um psicólogo, educador e um dos idealizadores do coletivo Espiritismo e Direitos Huma¬nos. Atua no terceiro setor no fortalecimento do papel estratégico das organizações da sociedade civil, na defesa da liberdade religiosa, na consolidação do Estado Laico e contra a violência, discriminação e ódio decorrentes das orientações sexuais e de identidades de gênero.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *