Conjuntura sócio-política, econômica e religiosa de direitos e justiça para as mulheres

Mulheres Direitos e justiça Compromisso EcumênicoCobertura do evento que aconteceu entre os dias 18 e 20 de novembro em São Paulo.
Fonte CONIC

 

No dia 18 de novembro, o Encontro começou com a mesa “Conjuntura sócio-política, econômica e religiosa de direitos e justiça para as mulheres”, a pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana e teóloga feminista Cibele Kuss (FLD) apresentou uma análise da conjuntura política atual apontando para o quadro de retrocessos no plano dos direitos já conquistados e, em especial, as consequências da misoginia sofrida pela presidenta eleita Dilma Rousseff, durante todo o processo de seu impedimento, para a vida das mulheres brasileiras. Uma das consequências visíveis desse processo são é a deslegitimação da participação das mulheres na política e em outros espaços de poder e representação. Em seguida, Maria Matilde Alvarez Valdes (migrante colombiana da Pastoral da Mobilidade Humana relatou sobre a situação das mulheres refugiadas no Brasil. Ela relatou experiências de xenofobia vividas por ela e sua família. Um exemplo foi a dificuldade de seu filho ser acolhido na escola pública. Seu filho não sabia a língua portuguesa, por isso, não era aceito nas escolas públicas. A orientação era que ela deveria pagar uma pessoa para ensinar português ao seu filho para então matriculá-lo. No entanto, Matilde e sua família não tinham dinheiro para isso. Foi um processo difícil até ela conseguir matricular seu filho. No entanto, Matilde também destacou a solidariedade que recebeu de pessoas brasileiras, que a ajudaram tanto a matricular seu filho na escola quanto na inserção na sociedade brasileira. Apesar de tudo, diz ser muito grata ao Brasil que a acolheu.

Na segunda mesa da manhã, “Bíblia- direitos e justiça para as mulheres, a teóloga anglicana Bianca Daebs provoca a reflexão sobre a temática a partir da hermenêutica feminista da narrativa bíblica sobre Dalila e Sansão. Deste modo, Bianca nos instigou a pensar sobre como a teologia patriarcal não dialoga com as mulheres e promove, não apenas, a exclusão das mulheres nas histórias bíblicas, mas realizam exegeses marcadas por preconceitos de gênero e descontextualizadas historicamente. Após cada palestra, as participantes agrupadas em mesas de conversa. As mesas forma nomeadas com o nome de mulheres que lutaram pelos direitos das mulheres e cujas histórias de caracterizam por usa atuação no movimento ecumênico. Nas mesas de conversa, as participantes não apenas refletiram, mas também propuseram ações e incidências políticas efetivas em favor das mulheres. Na parte da tarde, as participantes saíram em grupo para contar umas às outras sobre o que fizeram ou não pelo caminho, depois transformaram em arte suas caminhadas pelo movimento ecumênico. Houve um momento específico em que cada uma pode falar de sua obra de arte produzida. Na oração da noite, coordenada pela estudante de teologia Sabrina Senger e pela Pastora Paula Naegle fomos inspiradas a pensar nos diferentes sabores que experimentamos durante a nossa caminhada ecumênica.

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No dia 19 de novembro, o Encontro contou com a mesa “História das mulheres” Claudete Ulrich (teóloga e professora da Faculdade Unida-Vitória) e a antropóloga Tatiane Duarte (UnB) que pesquisa a presença e protagonismo das mulheres no movimento ecumênico, resgatando a história das organizações ecumênicas, os cursos de teologias feministas nas faculdades de teologia e os encontros ecumênicos promovidos pela Década ecumênica de solidariedade das igrejas com as mulheres (1988-1998) implementada pelas igrejas-membro do CMI no Brasil e da Nova Década– Ação Ecumênica de Mulheres (1999-2008). No levantamento histórico, chamam a atenção e as ausências das mulheres na historiografia e na história ecumênica. Apesar das mulheres terem sido importantes protagonistas desse movimento, suas histórias não estão registradas. Há urgência em conhecer e dar visibilidade a estas histórias. Para tanto, é necessária uma análise crítica do próprio ecumenismo, que registra a história de lideranças masculinas e ignora a história das lideranças mulheres. A partir dessa constatação, importa pensar novas formas de atuação ecumênica que promova de fato justiça e igualdade para as mulheres.

Em seguida, a teóloga e Reverenda da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil Sônia Gomes Mota (CESE) provocou o debate, a partir da reflexão da mesa anterior, sobre o que fizemos e o que não fizemos pelo caminho. Para isso, as mulheres se reuniram mais uma vez à mesa para destacar os avanços e os retrocessos em suas comunidades religiosas no que diz respeito aos direitos e a justiça e igualdade de gênero. Como avanço foram destacados a ordenação de mulheres, criação, em algumas igrejas, de Coordenação de Gênero, curso em comunidade sobre violência de gênero. Como retrocesso, chamam a atenção o aumento do clericalismo, o fortalecimento da utilização de textos bíblicos para justificar a submissão e silenciamento das mulheres, entre outros.

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Na parte da tarde, na mesa “Desafios para o movimento ecumênico de mulheres – direitos e justiça”, a Reverenda Glória Ulloa, Presidente do Conselho Mundial de Igrejas/CMI para América Latina) apresentou o histórico do CMI na temática sobre direitos das mulheres nas igrejas e na sociedade. Glória fez ainda considerações sobre as mesas temáticas do evento e nos instigou a pensar sobre as ações futuras do movimento ecumênico de mulheres para superar as injustiças e desigualdades de gênero em suas comunidades religiosas. Reunidas e conversando à mesa, instigadas a pensar sobre “O que é que faremos pelo caminho?”, os grupos de mulheres refletiram e propuseram ações neste sentido.

O encontro terminou no domingo, 20 de novembro, com a aprovação do documento final do Encontro, a ser divulgado nos próximos dias, e com uma celebração, presidida pela Reverenda Sônia Mota e Pastora Claudete Beise Ulrich, que destacaram o dia Da Consciência Negra com destaque para o protagonismo de mulheres negras na luta por justiça. Ao final, cada participante recebeu uma Aboyomi, pequenas bonecas feitas em tecido por mulheres negras transportadas nos navios negreiros. Essas bonecas serviam de acalanto para os filhos dessas mulheres. As mães africanas rasgavam retalhos de suas vestes e a partir delas criavam pequenas bonecas feitas de trança ou nós, que serviam como amuleto de proteção. Essas bonecas são símbolo de resistência. Abayomi significa “Encontro Precioso” em Iorubá.

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Foi criado um grupo, no Facebook, para aprofundar os debates do encontro: clique aqui e acesse.

Fonte CONIC  www.conic.org.br.

Texto: Tatiane Duarte
Revisão: Romi Bencke
Fotos: Tatiane Duarte

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