LEONARDO BOFF APONTA CAMINHOS DE ESPERANÇA PARA UM MUNDO DO BEM VIVER

Da Crise à Esperança: Novos Caminhos para um Mundo do Bem Viver foi o tema que trouxe o Professor e Doutor em Teologia, Leonardo Boff, à Salvador. O evento, promovido pelo Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) e pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), com apoio do Museu de Arte da Bahia (MAB), aconteceu dia 25 de maio (quinta-feira), no auditório do MAB.

O Diálogo com Leonardo Boff reuniu cerca de 500 pessoas, entre professores, estudantes, religiosos, representantes de organizações, movimentos sociais e poder público, além de profissionais liberais. O objetivo do evento foi levantar reflexões e debates sobre os desafios e as possibilidades para a construção de um projeto de desenvolvimento de inclusão e de justiça social e ambiental, diante dos retrocessos políticos, sociais e ecológicos vividos atualmente no Planeta.

O encontro teve início com uma fala sobre a crise, que, para Boff, é uma grande crise de civilização, gerada pelo capitalismo. “As grandes corporações e o capital financeiro estão por trás do golpe parlamentar no Brasil. A mesma coisa que fizeram no Paraguai, na Venezuela, estão fazendo no Brasil. Quando surgem governos mais progressistas, eles tratam de agir. É o golpe do neoliberalismo”, explica.

Boff aponta ainda que o projeto pautado pelo neoliberalismo no Brasil é selvagem e sacrifica o povo. “Querem um Brasil menor, um Brasil para poucos. A ética não conta para eles. Só o que é materialista, econômico. O projeto que temos que lutar é de um Brasil para todos. Temos que ter nossa própria tecnologia, a nossa soberania com nossos próprios recursos, com sustentabilidade. Somos vítimas do capital. Passamos de uma sociedade com mercado para uma sociedade de mercado, onde os bens e serviços da natureza – os índios chamam de bondades da natureza – estão cada vez mais esgotados. O capitalismo encontrou um limite que é o esgotamento da natureza, mas encontrou a forma especulativa que é o dinheiro reproduzindo dinheiro.”, reforça.

Para ele, a possibilidade de superação desse sistema que foi internalizado e naturalizado pelos povos de todo o mundo deve ser inspirada por uma mudança de estrutura de produção, que considere a natureza, o solo, as pessoas. Segundo teólogo, a Encíclica da Ecologia Integral, elaborada pelo Papa Francisco, não foi escrita apenas para os cristãos, mas para toda a humanidade. “Precisamos salvar a nossa “Casa Comum”, como diz o Papa, a única casa que temos. A Terra não precisa de nós. Nós precisamos dela. Pode ser que ela encontre uma maneira de nos eliminar, mas continuará adiante sem nós. É uma possibilidade real. Mas podemos mudar nossa forma de viver, nosso modo de habitar a terra, ir na direção do futuro.”, argumenta.

Boff ressalta ainda o tipo de mundo que se vive hoje tem que acabar porque ele é altamente destrutivo. “A economia da humanidade vai ser erguer pela ecologia e pelo equilíbrio de todos os elementos, com a natureza e não contra a natureza. O Brasil pode ser uma potência hegemônica porque é onde mais tem água doce no mundo. Pode ter a mesa posta para o mundo inteiro. Podemos ter isso desde que a economia se oriente pela ecologia”, diz.

O teólogo aponta ainda que o caminho para resgatar a esperança depende de cada um. “Seja uma semente do novo. Comecem vocês a criar o novo. É da semente que vem as raízes, as copas, os troncos. O pior que podemos fazer é não fazer nada. Como nunca antes, a história nos conclama para um novo começo, para um modo sustentável de viver. Todo ser humano tem direito à terra, teto e trabalho. O Papa diz isso por quatro vezes na Encíclica. Não podemos esperar nada de cima, porque de cima só vem exploração”, finalizou.

Para Nélia Nascimento, historiadora e representante da organização não governamental, Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), a palestra de Leonardo Boff trouxe uma análise de conjuntura e da crise para além da esfera política, mas focando a esfera econômica. “Ele foi bastante didático quando faz uma trajetória da crise do capitalismo desde o ano de 2009, passando pela relação entre a China, a Rússia e os Estados Unidos, até chegar na nossa responsabilidade para a mudança. Ele trouxe um caminho a seguir para quem está sem perspectiva de que a mudança é possível”, avalia.

O evento foi promovido pelo Sasop (Serviços de Assessoria a Organizações Populares Rurais) e Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), com apoio do Museu de Arte da Bahia (MAB), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA).

Mais fotos do evento estão disponíveis no Facebook da CESE: https://goo.gl/p6GYlZ
Confira a gravação completa do evento no YouTube da CESE: www.youtube.com/Cesecomunica

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