Diálogo reúne representantes de diversas expressões de fé em defesa do Estado Laico

A Coordenadoria Ecumênica de Serviço realizou na noite desta terça (10) a Roda de Conversa “Como ser luz no mundo e sal da terra em um Estado Laico?”. O evento faz parte da programação, em Salvador (BA), da Semana de Oração pela Unidade Cristã 2016.

Os participantes adentraram o auditório da organização, iluminando o espaço com velas em mãos, conotando a simbologia do tema da Roda. Sônia Mota, diretora executiva da CESE e pastora da Igreja Presbiteriana Unida, abriu as falas, convidando à reflexão sobre a interferência de manifestações de fé em decisões políticas (nos âmbitos do Judiciário, Executivo e Legislativo) e sobre o papel dos cristãos no enfrentamento a essa realidade.

A teóloga Bianca Almeida e o pastor Bruno Almeida (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil) fizeram um apanhado histórico de estados teocráticos e uma contextualização da atual realidade política brasileira. Pegando como exemplos o Egito Antigo e Israel, Bianca pondera como essas ligações estreitas entre Estado e Religião, quando acontecem, são danosas, prejudicando determinados grupos religiosos.

“Nós, como igrejas, não devemos nos comportar como Estado. É claro que a Igreja não pode abrir mão de seu papel político, o Evangelho nos impele a cuidar dos outros, ter função profética. O cristão é aquele que conhece a história de seu povo e tem papel de denunciar, mas atuando dentro da posição política de cidadão, não na de Estado”, defende a teóloga.

Para instigar a Roda de Conversa, frases ditas por deputados e deputadas de todo o Brasil na votação do impeachment no último dia 17 de abril foram declamadas pelos participantes, relembrando a presença marcante de discursos religiosos fundamentalistas nas decisões políticas.

Tárcito Fernando, de Koinonia Presença Ecumênica, trouxe para a Roda um comentário que viu em redes sociais: “O que está mais distante, laico do Estado ou cristianismo da Igreja?”. E passou a provocação aos presentes: “antes de refletir sobre Estado Laico, precisamos discutir sobre liberdades laicas. Vejo discursos internos que defendem laicidade do Estado, mas respeitam liberdades só até certo ponto, dependendo de seu posicionamentos, como por exemplo, em relação ao aborto”.

A assessora de projetos e formação da CESE, Viviane Hermida, destaca o crescimento do domínio de grupos religiosos em mídias como rádio, TV e cinema, o que contribui para a propagação e homogeneização de concepções conservadoras. Viviane também puxa as reflexões para o contexto local, lembrando que no ano passado foi criado o Dia Municipal Antiaborto, que será comemorado no dia 13 de maio em Salvador.

Júnior Amorim, da Igreja Presbiteriana Unida de Itapagipe, reforça a necessidade de não se abandonar os símbolos que são caros aos cristãos. Na visão do presbítero, é preciso desassociá-los dos interesses de grupos conservadores de direita, retomando seu sentindo de lutas por libertação. “Esses grupos são articulados e nós, muito acanhados. Como movimento ecumênico pode colaborar para a unidade e ampliar agenda de contracultura?”, indaga.

Cercado de todos os participantes, com velas em mãos, Henrique Peregrino, da Comunidade da Trindade, encerrou a Roda de Conversa com uma mística final, convidando a todos e todas a “ser sal da Terra, trazendo sabor às jornadas, e luz do mundo, trilhando o caminho aberto por Cristo”.

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