[:pb]Marcha das Mulheres Negras reúne 30 mil em Brasília (DF)[:]

[:pb]Foi sob as bênçãos das yalorixás que a “Marcha das Mulheres Negras: contra o racismo, a violência e pelo bem viver” deu os primeiros passos da mobilização nacional, que levou às ruas de Brasília, nesta quarta (18), cerca de 30 mil mulheres representantes de uma ampla diversidade de campos: mulheres de terreiro, quilombolas, gestoras políticas, jovens, trabalhadoras, sindicalistas, movimento LGBTT, sociedade civil e de organizações e grupos populares de todo do Brasil.

“É um dia histórico para nós. Não estamos aqui para comemorar, estamos marchando para dizer não aos projetos retrógrados que tiram os direitos das mulheres. Somos mulheres de diversas religiosidades, com fé comum contra discriminação, morte de nossa juventude negra. Nós somos as pretas que parimos esse Brasil e queremos que o Brasil seja um estado democrático de direitos, exclamou, emocionada, a deputada federal Benedita da Silva, na abertura da manifestação.

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Sobre a sororidade que marcou a articulação histórica, Maria Luiza Nunes, do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA), destacou a riqueza de se ver mulheres negras de vários segmentos, todas juntas pelo bem viver. E destacou as origens da Marcha. “Ela foi gerada no útero da Mãe Amazônia. É na invisibilidade que se cria a resistência, do coração da Amazônia para o coração do país.

Sarah Neves -CEDENPA

Sarah Neves -CEDENPA

Também do CEDENPA, Sarah Neves traz como pauta a ausência do olhar do Estado do Pará para as questões raciais da região. “Enquanto mulher afro-amazônica, eu trago a necessidade de visibilidade. Em todos os aspectos nós somos invisibilizadas, principalmente no nosso estado, que não enxerga essa população preta, que a nega e tenta enxergar no máximo a miscigenação entre o branco e o índio. A gente está aqui pra dizer que a gente existe lá no Pará e que estamos resistindo e combatendo esse machismo, esse racismo e essa violência todos os dias”, bradou.

Maria de Lourdes Siqueira (às esq.) e Dete Lima, da diretora do Ilê Aiyê

Maria de Lourdes Siqueira (às esq.) e Dete Lima, da diretorIa do Ilê Aiyê

Da Bahia, a Caravana Carolina de Jesus trouxe sua bandeira de reflexão sobre a situação histórica das mulheres negras no Brasil, que ainda as mantêm em alta vulnerabilidade. “Elas são as base de nossa economia. Com mulheres negras nessas condições, impossível alcançar nível de país desenvolvido”, avalia Trícia Calmon, integrante da Caravana. Sobre a Marcha, comemora que, após três anos de trabalho, conquistou adesão de outros movimentos, mas sem perder protagonismo. “É sinal de maturidade”, pondera.

Não parece, mas no fim a arma está apontada para nós mulheres negras e pobres”, avalia Dyarley de Oliveira, mostrando outra faceta da mobilização: a situação de vulnerabilidade que acerca as mulheres negras. “Moro na Estrutural, onde tem o maior número de negros e negras em Brasília. Nossos companheiros são mortos, nossos filhos encarcerados, ainda mais com a redução da maioridade penal. A educação não é de qualidade. E para nós, resta cuidar dos filhos dos brancos. Somos a força vital desse país, quem mais contribui, mas quem menos recebe”, conclui a integrante do Coletivo da Cidade.

Foto legenda: A minha luta, minha causa aqui é lutar contra o racismo e discriminação contra as mulheres negras de terreiro” , coloca Maria Flávia de Oliveira Silva, Juazeiro do Norte-CE), (à esq)

“A minha luta, minha causa aqui é lutar contra o racismo e discriminação contra as mulheres negras de terreiro” , coloca Maria Flávia de Oliveira Silva, Juazeiro do Norte-CE), (à esq)

As guerreiras indígenas também levaram sua contribuição à‪ Marcha das Mulheres Negras‬. Thiaia Ramos Moraes, da Nação Pataxó hã-ha-hãe, conta que junto com as Tupinambá de Olivença, representam as diversas etnias brasileiras. “Viemos todas por um objetivo só. Lutar contra o racismo, que também atinge as mulheres negras”. Também protestaram contra a aprovação da PEC 215, que quer transfere do Executivo para o Legislativo a decisão sobre demarcação de territórios indígenas.

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Na luta pela democratização da comunicação e regulação da mídia (com ênfase no respeito aos direitos humanos), o Intervozes registrou presença na mobilização. Ana Claudia Silva Mielke destacou a baixa representatividade de mulheres negras na mídia e como esse fator afeta a construção do imaginário social, já que 97% dos lares brasileiros têm ao menos um aparelho de televisão.

À direita, Regina Menezes Lopes (MPP)

À direita, Regina Menezes Lopes (MPP)

O Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) mostrou a principal pauta que aflige as marisqueiras no momento, que é a retirada do seguro-defeso. “Querem tirar o direito da pescadora artesanal. A marisqueira que não vai em busca do marisco, ela não é considerada como marisqueira, isso é injusto. Porque a mesma mulher que vai ao mar, que pesca, é a mesma que cuida, ela mesma que vende. Então não tem separação”, explica a representante do MPP, Regina Menezes Lopes.

A chegada ao Palácio do Itamaraty também foi momento de protesto contra os retrocessos dos direitos de mulheres. CLIQUE AQUI E CONFIRA A MANIFESTAÇÃO “FORA CUNHA”

Tiroteio
Na passagem da Marcha diante da Esplanada dos Ministérios, o grupo acampado em frente ao Congresso (que defende a volta dos militares ao poder) disparou tiros ao alto contra os manifestantes da Marcha. Os dois policiais foram presos no fim início da tarde desta quarta-feira.

Atividades culturais
Na volta ao Ginásio Nilson Nelson, ponto de partida da mobilização, as delegações de todo o país foram recebidas com almoço, exposições da feira de artesanato, roupas e acessórios e com apresentações musicais. Quem corou a Marcha histórica das mulheres negras foi o Ilê Aiyê. CLIQUE AQUI E CURTA UM PEDACINHO DO SHOW DO ILÊ
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