Missão Ecumênica chega a Dourados (MS)

O dia da Missão Ecumênica já começou nesta quinta (08), em Dourados (MS), com um momento de espiritualidade. Diferentes frentes de luta, organizações, igrejas, representações religiosas e sociedade civil batem os pés em uníssono, entoam e bradam coletivamente saudações Guarani-Kaiwoá, marcando o objetivo da comitiva: prestar solidariedade às violações de direitos sofridas por esses povos tradicionais.
A pastora Romi Bencke (secretária geral do CONIC) abordou os principais pontos que movem a Missão: visibilizar as agressões sofridas pelos povos indígenas, especialmente os Guarani-Kaiowá; o apoio incondicional ao Conselho Indigenista Missionário; e a necessidade de criação da CPI do Genocídio. “São as três bandeiras pelas quais estamos aqui e voltaremos para nossos Estados como porta-vozes dessas lutas”, afirmou.

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Encontram-se presentes na mística cerca de 50 pessoas de diversas frentes: representantes dos Guarani-Kaiwoá, CESE, CONIC, CEBI, CIMI, CLAI, Igreja Protestante da Holanda, IECLB, IEAB, IPU, Koinonia, PAD, Fórum Mundial de Economia Solidária, Centro Social Marista, gestores políticos, e Tribunal Pastoral da Terra.
‪#‎MissâoEcumênica‬

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Cerca de 30 indígenas ocupam a região, que fica a 5 km de Dourados (MS), em condições similares a cenários de guerra : vivem em barracões, sem estrutura a saneameno básico, alimentação e com acesso à água prejudicado pela contaminação por aviões que despejam agrotóxico sobre a região. “Minha família toda, 8 pessoas, meu marido, filhos, tia foram assassinados por atropelamentos e envenenamentos”, conta Damiana, apontando para o cemitério da comunidade.
Dom Flávio (CIMI) destaca ainda que as famílias estão sujeitas à violência por estarem perto da rodovia, na rota do narcotráfico. “Essa região ainda não foi identificada, estamos lutando por isso. Os Guarani Kaiowá estão sujeitos a um despejo iminente”, esclarece.

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A última parada da Missão Ecumênica foi marcada pela visita aos tekohas de Guyra Kambi´y e Aty, localizados no município de Douradina (MS), dentro do território indígena Lagoa Rica-Panambi.
Guyra Kambi´y significa algo como “local onde os pássaros repousam para beber água”. Trata-se de um tekoha com extensão de 12 mil hectares, já identificado e reconhecido pelo Estado Brasileiro. Com a demora na demarcação das terras, os indígenas iniciaram a retomada há semanas atrás – já que mais de 15 famílias vivem confinadas em cerca de apenas 2 hectares, sem terem condições de praticar agricultura e viver de acordo com suas culturas e tradições.
A simbologia do nome do tekoha é quebrada diante dos casos de violência, racismo e inclusive denúncias de doação aos Guarani-Kaiowá de produtos com data de validade vencida por comerciantes locais. E há cerca de três semanas, forças paramilitares ruralistas atacaram a região. “Nossa cruz sagrada foi queimada quando partimos para a retomada. Ela representa nossa vida espiritual, nossa proteção que levamos juntos para nossas batalhas”, explica, com pesar, o cacique Ezequiel, acrescentando que, no total, houve 16 ataques de jagunços no último mês no Cone Sul. “É um estado de genocídio, cuja raiz está na paralisação dos processos de demarcação de nossas terras”.
“Eles costumam dizer que somos invasores, mas nossos ancestrais viviam nessa terra, continuamos aqui lutando por nossos direitos. Não vou cansar de dizer, como não vou cansar de lutar até o último momento”, determina o cacique.
A visita a Guyra Kambi´y foi encerrada com a entrega de um manifesto dos Guarani-Kaiwoá com o relato das violações de direitos que estão vivenciando aos representantes da Missão Ecumênica e a coleta de assinatura de todos os presentes como expressão de solidariedade aos grupos originários.

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