Nota contra a chacina na área rural de Colniza – MT

ONDE HOUVER ÓDIO, LEVEMOS O AMOR RESISTENTE!

“Ai daqueles que juntam casa a casa e emendam campo a campo, até que não sobre mais espaço e sejam os únicos a habitarem no meio do país”. (Isaías 5,8)

A tragédia anunciada na pequena comunidade de Taquaruçu, município de Colniza, no Mato Grosso, na tarde deste 19 de abril, tem que provocar uma onda de indignação para dar um basta à impunidade de ruralistas que na sua lógica agronegocista, não hesitam em sacrificar famílias, praticar o horror de atirar e esfaquear covardemente assentados que desde 2004 lutam pelo sagrado direito à terra porque nelas trabalham e alimentam as comunidades e o país.

Ai de vós que insaciavelmente juntam um campo a outro, interrompendo vidas e sacrificando esperanças. Não há como dissociar tanta violência do clima de desgoverno em Brasília – de Temer e do ministro da Justiça, ruralista Osmar Serráglio, com a ofensiva da ‘bancada do boi’ que vê a terra como mero meio de produção, como a mata a ser domada pelo gigantismo de suas máquinas vorazes, contaminando as águas, espalhando veneno e monocultivos – criando desertos verdes de uma agricultura exportadora que não respeita fronteiras, nem aqueles pobres, que um dia possuirão a terra, porque nela vivem e trabalham, porque com ela mantêm raízes e a veneram como a uma mãe, Pachamama.

Não se trata de fato isolado. Relatório recente lançado pela CPT evidencia a piora das condições de vida e ameaças no campo brasileiro – os conflitos aumentaram 26% com mais de 1500 casos relacionados a luta pela terra, por água, questões trabalhistas e trabalho escravo. O número de assassinatos aumentou em mais de 20%, assim como de encarcerados (185%) e ameaçados (440%). Pará, Mato Grosso e Rondônia despontam entre os mais violentos. Nos últimos anos foram mais de 120 pessoas assassinadas no campo do Mato Grosso. “Ninguém nunca foi preso”, disse um assessor da CPT. Crescentemente, acobertados por um sistema predador, setores do agronegócio lançam sementes de ódio e injustiça.

Os conflitos na região vêm de longe, e já em 2007, Colniza recebeu a indicação da “cidade mais violenta do Brasil” em uma pesquisa feita pela Organização dos Estados Ibero-americanos, alcançando uma média absurda de 165,3 assassinatos por 100 mil habitantes. Em antiga reportagem, o jornalista comentava:”Em Colniza não se faz muita ameaça. Quando o sujeito descobre que tem gente contra ele, já está morto”, como se pode atestar pelos cemitérios clandestinos espalhados na região. Neste último cerco, sacrificaram nove trabalhadores, entre os quais um pastor da Assembleia de Deus, ficando a suspeita de que eram da mesma comunidade religiosa. O pastor, Sebastião de Souza, de 57 anos, foi o mais torturado, diz a polícia. De surpresa, homens encapuzados, pobres diabos assassinos a soldo de fazendeiros, ceifando vidas e criando clima para radicalizar leis de morte e exclusão como a PEC 215 que quer deixar com o Congresso a decisão sobre terras indígenas e quilombolas, o afrouxamento do código mineral e da Reforma Agrária, e facilitar a venda de terras a estrangeiros.

No contexto da luta dos povos indígenas no Acampamento Terra Livre e dos 21 anos do massacre de Eldorado de Carajás, a CESE se solidariza com as famílias enlutadas, com as associações e grupos locais, com a Assembleia de Deus, com a CPT, a Prelazia de São Félix e a Diocese de Juína, animando-as à resistência da luta por justiça; que os bandidos e seus mandantes sejam punidos; que as instâncias nas diferentes esferas de governo e do estado, entrem em cena para conter a sanha dos saqueadores da biodiversidade e das populações, em benefício da Vida e o restabelecimento da Paz no campo.

Salvador, 24 de abril 2017

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