[:pb]Novo presidente do Conjuve avalia possibilidades de incidência das juventudes no atual cenário político do Brasil[:]

[:pb]Eleito recentemente como presidente do Conselho Nacional de Juventude, Daniel Souza avalia, em entrevista a CESE, o atual cenário político e econômico do Brasil e as possibilidades de articulação e incidência das juventudes. O baiano de 28 anos, que é membro da Rede Ecumênica da Juventude, também reflete sobre a importância da pauta do ecumenismo compor a agenda de trabalho do Conselho. “A tarefa que assumi, em sinal de muita unidade do Conjuve, é também uma tarefa conjunta, da Reju e do movimento ecumênico. É, portanto, um sinal de confiança e de reconhecimento do ecumenismo, uma movimento guiado por um projeto: a construção de uma casa comum realmente justa e habitável para todas as pessoas. Por isto, avalio que este lugar que ocupo também precisa ser compreendido como um espaço de fortalecimento e de incidência das organizações ecumênicas, um espaço de contribuição para a luta diária que realizamos em tantos lugares do país, envolvendo tanta gente”. Confira a seguir a entrevista completa:

CESE – Quais são os principais desafios da participação no Conjuve, diante da atual crise política e econômica que o País enfrenta?

Daniel Souza – O momento político pelo qual passamos não é fácil. O cenário é nebuloso. De um lado temos o congresso mais conservador desde o começo da ditadura militar, marcado pela busca incessante da redução de direitos historicamente garantidos e sob a liderança da oposição – com ataques periódicos à democracia e ao mandato da presidenta Dilma. Do outro, no Governo, temos um significativo esgotamento do projeto político que levou o país aos importantes patamares nestes últimos 12 anos e algumas poucas tentativas mais criativas de atuação.
Neste cenário, o CONJUVE tem como um grande desafio a disputa do projeto de país. Com qual Brasil nós sonhamos? Há desafios específicos para construirmos este Brasil que desejamos e que deve ser guiado pela conquista de mais direitos, pela defesa das liberdades de viver e de amar, pelo fim dos preconceitos e pela garantia da vida da juventude, especialmente no enfrentamento ao genocídio da juventude negra. Por isto, temos como tarefa colaborar na desconstrução das narrativas conservadoras elaboradas pela bancada do boi, da bíblia e da bala; como também, colaborar na denúncia e crítica ao equivocado ajuste fiscal apresentado pelo Governo, que dentre tantos erros políticos exclui das instâncias do Planalto a Secretaria Nacional de Juventude, construída em 2005 como um marco das lutas dos movimentos sociais.

Nesta configuração, outra tarefa que nos é posta é ampliar ainda mais a participação social, os diálogos com os movimentos sociais de dentro e para além do conselho, num cenário de ampla unidade na defesa da democracia, na crítica aos retrocessos no congresso e no Governo e na capacidade de defendermos ainda mais as políticas de juventude, tarefa que estamos realizando desde o começo desta crise.

CESE – Vivemos em um contexto de retrocessos de direitos que atingem principalmente a juventude. Nesse cenário, o Conselho conseguiu dar alguns passos importantes. Que outras contribuições o Conjuve pode oferecer frente a essas ameaças?

Daniel Souza – Neste período, vale como um grande destaque toda a mobilização realizada pelo CONJUVE e tantos movimentos sociais e outros conselhos para disputar na sociedade o tema da redução da maioridade penal e barrar no Congresso a sua continuidade, com todos os golpes e acordos subterrâneos liderados por Eduardo Cunha. Estamos atentos para os próximos passos que podem ser dados neste tema.

Mais recentemente, a pauta de retrocesso também se colocou de maneira mais efetiva no Governo Federal, com a possível extinção da Secretaria Nacional de Juventude e a fusão de três ministérios em um novo espaço, o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. É o ajuste fiscal mostrando a quem serve. Sobre a possível extinção da SNJ, a sociedade civil do conselho liderou toda uma campanha com notas públicas (com a assinatura de diversos movimentos e organizações, como a CESE e o Fórum Ecumênico ACT Brasil), incidência no congresso e com ministros e a ocupação das redes pelo #FicaSNJ. Embora não se tenha ainda uma definição, há um certo consenso em instâncias do governo que não se pode extinguir a secretaria.

Para enfrentar a pauta conversadora e os retrocessos, temos saído de uma política da simples reação. Temos assumido, também, um caminho propositivo. Vale destacar a regulamentação do Estatuto da Juventude, uma luta do Conselho desde 2013 e toda a mobilização que estamos realizando na construção da 3a Conferência Nacional de Juventude, com ampliação dos modos de participação, o incentivo à mobilização social, a garantia das liberdades. Com a Conferência, estamos nos movendo para além da reação à agenda conservadora, mas estamos tentando, como um ensaio, colocar na rua e nas redes o país que nós tanto desejamos e que ajudará na construção do Plano Nacional de Juventude.

CESE – Uma proposta de eixos de atuação para o Conjuve foi sobre Estado laico e superação de intolerâncias. Como articular essa pauta tendo a juventude como seu eixo principal?

Daniel Souza – Esta é uma tarefa que ainda precisa ser feita na construção de políticas públicas de juventude. Tomo como referência a intolerância religiosa. Em 2012, a Rede Ecumênica da Juventude (REJU), rede que faço parte, entregou uma carta ao Governo Federal, especialmente à coordenação de diversidade religiosa da Secretaria de Direitos Humanos, pedindo que toda a política e construção do Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa assumisse a interface com a juventude. O Plano não andou, nem a articulação com as Políticas Públicas de Juventude. Mais recentemente, estamos liderando esta tarefa no conselho, com a atuação do Grupo de Trabalho de Juventude Negra e Povos e Comunidades Tradicionais, que tem assumido o combate à intolerância religiosa como um de seus eixos de atuação. Além disto, no processo de construção da 3a Conferência, temos a “Etapa de Povos e Comunidades Tradicionais”, que dentre tantas temáticas articuladoras, também possui o fim da intolerância religiosa e o enfrentamento ao racismo institucional como um elemento central. Os resultados desta etapa servirão como subsídios para a construção do Plano Nacional de Juventude.

CESE – Como você avalia sua contribuição neste espaço de participação para fortalecer a luta do movimento ecumênico no Brasil?

Daniel Souza – Na minha posse como presidente do Conselho, retomei a história do movimento ecumênico e a sua luta pelos Direitos Humanos. Recordei os nomes de jovens ecumênicos, que como eu e todas as minhas parceiras e parceiros da REJU, lutaram por um Brasil mais justo. Relembrei Heleny Guariba e Ivan Mota Dias. É neste estrado que vem a atuação da REJU e a minha atuação enquanto presidente do CONJUVE. Sei e reconheço o lugar de onde venho e onde me construo: no ecumenismo. A tarefa que assumi, em sinal de muita unidade do CONJUVE, é também uma tarefa conjunta, da REJU e do movimento ecumênico. É, portanto, um sinal de confiança e de reconhecimento do ecumenismo, uma movimento guiado por um projeto: a construção de uma casa comum realmente justa e habitável para todas as pessoas. Por isto, avalio que este lugar que ocupo também precisa ser compreendido como um espaço de fortalecimento e de incidência das organizações ecumênicas, um espaço de contribuição para a luta diária que realizamos em tantos lugares do país, envolvendo tanta gente. E isto tem sido reconhecido por muitas entidades que compõem o Fórum Ecumênico ACT Brasil, como as grandes parcerias de sempre da REJU: CESE, o CONIC, KOINONIA, a FLD e tantas outras organizações.
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