Seminário do Julho das Pretas discute participação política das mulheres negras

Com uma homenagem a Maria Carolina de Jesus, as poetisas Vera Lopes e Emilie Lapa abriram na noite desta quinta (23), no Espaço Cultural da Barroquinha, o Seminário “A participação das Mulheres Negras na Política”, uma realização do Odara-Instituto da Mulher Negra com apoio da CESE, dentro da programação de atividades do Julho das Pretas em Salvador (BA).

A mesa de abertura “Estratégias e desafios” contou com a participação da assessora de projetos e formação da CESE, Rosana Fernandes, a Ialorixá Raidalva Santos (Ilê Axé Oyá Tolá), Benilda Brita (Nzinga Coletivo de Mulheres Negras – BH), Dulce Pereira (professora da Universidade Federal de Ouro Preto – MG) e Olívia Santana (Secretária Estadual de Políticas para as Mulheres – BA). A mediação foi feita por Valdecir Nascimento (Odara).

Diante das cerca de 250 pessoas presentes, Olívia Santana lembrou que a data (25 de Julho – Dia Internacional da Mulher Afro- Latino Americana e Afro-Caribenha) foi construída pelo movimento de mulheres em encontro realizado em 1992 em Santo Domingos (República Dominicana). “Em 1996 questionávamos: ‘o que faríamos para data pegar?’ Não sabíamos ao certo, só sabíamos que era uma luta justa e plantamos sementes. E agora olha o quanto cresceu, esta sala cheia. Em diversos países mulheres negras estão sintonizadas [refletindo sobre] desigualdade de gênero e desigualdade social”, comemora.

A secretária de Políticas para as Mulheres ainda destaca o caráter racista, sexista e machista do Congresso e da falta de representatividade de mulheres negras do Estado na Casa. “A estampa simbólica da Bahia é a baiana do acarajé, a mulher negra, mas ela não tem espaço para legislar: nenhuma foi eleita”.

Para além da ocupação de cargos, Rosana Fernandes aponta para a necessidade de mulheres negras ocuparem espaços de decisão. “Precisa disputar diligência de partido, lugar em que se decide quem vai sair como candidato, quem faz acordos políticos. É importante subverter a lógica. Quando o companheiro diz ‘companheira, venha me apoiar’, diga ‘venha me apoiar você!”, exemplifica, destacando a importância da forma como a mulher negra se impõe no espaço de poder conquistado.

“Olhei as minhas mãos negras, acariciei o meu nariz chato e o meu cabelo pixaim e decidi ficar como nasci”. Com as palavras de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, de Maria Carolina de Jesus, e atenta às questões que delineiam a identidade da mulher negra, Benilda Brita ressalta que a cultura brasileira é tão eurocêntrica, que poucas mulheres têm coragem de ocupar espaços de poder. Como aposta para o fortalecimento da luta e avanço na conquista de direitos, a professora da Universidade Federal de Ouro Preto (MG), Dulce Pereira, aposta na sororidade entre mulheres negras, no feminismo negro.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *