Última etapa do Curso sobre Incidência Política reúne grupos populares em Salvador

O projeto piloto do Curso sobre Incidência Política chegou ao fim na última quarta-feira (1º de junho), com a galera reunida e certificados em mãos. Aprimoramento de marcos legais no campo de direitos, estratégias de monitoramento e avaliação das ações de incidência compuseram a programação desta 3ª etapa da formação. Desde dezembro de 2015, a iniciativa reúne em Salvador representantes de 10 organizações populares de diversos segmentos – como trabalhadoras rurais, povos indígenas, movimento ecumênico, juventude e infância, comunidades quilombolas e atingidos pela mineração – para aprimorarem ferramentas e estratégias de incidência política.

A formação faz parte do Virando o Jogo, programa de apoio ao fortalecimento de organizações nas áreas de mobilização de recursos locais e incidência política – uma iniciativa da agência de cooperação holandesa Wilde Ganzen, em conjunto com Smile Foundation (Índia), KCDF (Quênia) e CESE (Brasil), com o apoio do governo holandês.
Para entender a importância da mobilização de apoios para o êxito de ações de incidência, os participantes do curso visitaram na segunda (30) a Gamboa de Baixo e a Ladeira da Conceição (local onde ancestralmente residem e resistem marmoreiros, ferreiros e serralheiros, responsáveis pela construção do patrimônio imaterial da região). O momento foi, sobretudo, espaço de troca de experiências sobre elaboração de estratégias de resistência para permanência em seus territórios frente ao capital imobiliário e sobre a importância da articulação entre grupos populares na luta por direitos.

O coordenador geral do IDEAS – Assessoria Popular Wagner Moreira, que atua junto às comunidades da região central de Salvador no campo de direito à cidade, contribui com a discussão, destacando, ainda, a importância de se fazer uma estratégia midiática, disputando narrativas para que elas sejam construídas a partir da voz dos sujeitos dos grupos populares. E atentou o quão indispensável é estar atentando ao contexto histórico. “Não dá para quem está fazendo incidência não estar atento à conjuntura política, é preciso entender nuances do micro e estar em conexão com o macro”, alerta.

Marcos legais e conjuntura
Na 3ª etapa do curso também teve espaço o aprofundamento de estratégias em marcos legais no campo de direitos, além de atividades práticas com foco na elaboração de instrumentos como habeas corpus, habeas data etc.
Para trazer luz à utilização dessas ferramentas, o grupo se organizou em uma roda de conversa, sobre como a nova conjuntura tem trazido retrocessos para os grupos populares. “Tem momentos ricos na história; outros são uma farsa. Não é que movimentos sociais se acomodaram nos últimos anos. Depois de conseguir algumas vitórias, a gente precisa parar, vivenciar isso, é natural. Só que tudo com o tempo tende a se institucionalizar, se burocratizar. Tudo que é sólido, desmancha no ar”, aponta o assessor de projetos e formação da CESE, José Carlos Zanetti, parafraseando o filósofo e sociólogo, Karl Marx. “Mas algumas coisas ficam, como a nossa luta por direitos”, afirma, reanimando os presentes para articulação com vista ao enfrentamento dessa realidade.

Avaliando a jornada

O último dia de curso foi o momento propício para refletir sobre avaliação e monitoramento de ações de incidência. “Assim como em uma viagem, ao percorrer a estrada, precisamos olhar condições, avaliar nossa jornada para não nos perdermos no caminho e coletar indicadores para entender se estamos conseguindo alcançar nossos objetivos”, faz a analogia a facilitadora Eliziana Araújo.

Ao fim da formação, os participantes fizeram uma avaliação geral das três etapas. “O curso nos ajudou a fazer incidência política, atuando, fazendo campanhas, manifestações e realmente atuar de maneira mais participativa na defesa dos direitos da criança. Isso foi o diferencial para a nossa entidade”, reflete Magda Pereira, da Remer.
Osman Barbosa, tupinambá da Serra do Padeiro (BA), avalia a necessidade de se aprimorar mais atores locais para fazer incidência política na causa de indígena. “Esse curso vem para dar uma alavancada na luta de maneira mais sistematizada”, resume.

Lucas Mendonça, da Comissão Paroquial da Terra (Caetité-BA), ressalta a didática eficiente e dinâmica da formação. A nova coordenadora de Koinonia em Salvador, Ana Gualberto também deu seu depoimento sobre o que vai levar do curso. “A CESE é uma organização parceira-irmã de koinonia, e esse curso vai mudar a prática de koinonia Salvador”, assegura.

A diretora executiva da CESE, Sônia Mota, agradece a participação dos presentes e se mostra satisfeita com o resultado final do projeto piloto. “É nossa primeira experiência com a conclusão desse curso, tivemos toda uma expectativa em torno dele. Estamos felizes por ter investir em iniciativa que deu certo. Para a gente, foi uma experiência e um aprendizado. E ouvir de vocês o resultado, que deu certo, é muito gratificante. Significa que demos um passo e demos um passo certo.”

A brincadeira do amigo secreto marcou a confraternização final da formação, momento em que os participantes se presentearam com colares e pulseiras confeccionados por eles (as) mesmos (as) na Feira de Saberes, Sabores e Talentos, realizada na terça-feira – um momento de intercâmbio de identidades culturais da programação do Curso de Incidência Política.

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