Ato Aquilombar reúne 3.000 quilombolas em Brasília/DF por titulação, políticas públicas e pelo fim da violência no campo

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq –  convocou a população quilombola e não quilombola para o ato AQUILOMBAR, que aconteceu no dia 10 de agosto, em Brasília/DF.  A organização do Aquilombar aconteceu em conjunto com organizações parceiras e organizações estaduais de quilombos e reuniu membros de comunidades quilombolas de 22 estados e do Distrito Federal. A CESE apoiou a participação de 384 quilombolas de 7 estados: Mato Grosso, Bahia, Tocantins, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O objetivo do ato foi mobilizar a população quilombola para denunciar os desmontes de políticas públicas e as violências e violações impetradas em seus territórios – e fora dele – e visibilizar a importância da população quilombola para o debate político, econômico e socioambiental do país. Além da passeata com ato político, os/as manifestantes também realizaram uma plenária geral com quilombolas de todo o país e participaram de uma audiência pública no Congresso para debater temas como, educação, regularização fundiária, previdência social e trabalho, racismo, saúde e censo quilombola. A programação se encerrou a noite com a exibição do filme “Do quilombo à favela – alimento para resistência negra”.

Para Sandra Pereira Braga ( Quilombo Mesquita/GO) coordenadora executiva da Conaq, o Aquilombar foi um marco histórico para o protagonismo das comunidades e do movimento quilombola:  ‘’ Encontrar essa irmandade, nós falando por nós, fazendo uma incidência no Senado, na Câmara, com a presença de muitas mulheres e juventudes, de diversas comunidades de vários estados do Brasil me emociona. Com certeza muitos atos  virão. Gratidão a Deus, a CESE e a todas as parceiras, que contribuíram para a realização desse momento de fortalecimento, de troca, de compartilhamento’’. É a segunda vez que uma mobilização quilombola deste porte acontece em Brasília. A última foi em 1995, quando completaram três séculos da morte de Zumbi dos Palmares. Seis meses depois, a Conaq foi fundada.

Marcella Gomez, assessora de projetos e formação da CESE,  que esteve presente no ato destacou: ”  Com uma programação intensa e  debates diversos que trouxeram as  pautas prioritárias das comunidades quilombolas do Brasil, o Aquilombar entra na histórica como mais uma agenda de luta, mobilização e incidência política protagonizada por povos quilombolas. De forma a agitar os corações, o ato político que ocupou Brasília, atuou também comunicando à toda sociedade sobre a potência, resistência e importância dessas comunidades  para o país, seja na segurança alimentar, na garantia de territórios tradicionais conservados, na produção cultural, na educação e entre outras. Sem dúvida, a CESE presente no Aquilombar  só reafirma nosso compromisso e aprendizados junto à essa turma aguerrida”.

A LUTA QUILOMBOLA

No artigo Os quilombos que o Brasil insiste em ignorar, Selma Dealdina, secretária administrativa da Conaq, explica que “aquilombar” se refere a mais do que a forma verbal de se referir a um esconderijo feito nos tempos do regime escravista.   “Quilombo é um símbolo de resistência contra os opressores e também um lugar de acolhimento”, salienta Denildo Rodrigues, conhecido como Biko, membro da coordenação nacional da Conaq:  “Para defender o acesso à terra, a biodiversidade, a democracia do nosso país e lutar contra o desmonte das políticas públicas, lutar para que nosso povo não seja mais assassinado”.  Um levantamento do IBGE estima (com base no último Censo, de 2010) que existam 5.972 comunidades quilombolas em 1.672 municípios do Brasil. Destas quase seis mil localidades quilombolas no país, apenas 404 territórios são oficialmente reconhecidos e menos de 200 estão totalmente demarcados e titulados. Enquanto isso, a fila de espera para essa regulamentação no Incra supera 1.700 processos.

Segundo o relatório sobre Conflitos no Campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2021 houve um aumento de 418 territórios atingidos por violência em torno da terra. Destes, 28% são em territórios indígenas e 23% em terras quilombolas.  “Nós – as comunidades quilombolas, indígenas, tradicionais – somos a fronteira que impede o agro-hidro-minério-negócio de se consolidar no campo brasileiro”, avalia Denildo Rodrigues. Ainda segundo a CPT, a violência em forma de humilhação atinge 25% dos homens e 40% das mulheres quilombolas. Entre 2011 e 2021, 21% das violências sofridas por mulheres foram estupros.  “Somos os guardiões invisíveis da floresta. Quando olhamos para a Amazônia, não nos enxergamos. Mas 68% do bioma amazônico é habitado por pessoas negras. Então a Amazônia é negra”, afirma Biko. “E quilombolas têm pagado um preço muito caro por proteger essa biodiversidade, inclusive com o corpo e o sangue do nosso povo preto”.

Com informações da @conaquilombos e jornal Brasil de Fato
Fotos: Marcella Gomez / CESE e Maryellen Crisóstomo / Conaq