CESE apoia Rede Ecumênica da Amazônia no combate aos fundamentalismos e à intolerância religiosa

Em um cenário político de violação de direitos e crescimento dos discursos de ódio, os fundamentalismos avançam cada vez mais sobre o país. E representam um projeto de poder que se funda no racismo, para ameaçar a democracia e cercear os direitos das minorias.

Na Amazônia Brasileira, ambiente político de disputa pelos influentes grupos econômicos que causam destruição, violência e morte nos territórios, a situação torna-se mais grave. Tem sido frequente a perseguição e a intolerância religiosa aos povos originários e populações tradicionais, manifestada pelo fundamentalismo cristão, de igrejas neopentecostais.

Buscar estratégias para conter este movimento e fortalecer o diálogo ecumênico e inter-religioso nos estados da Amazônia Legal foram os objetivos do AMAZONIZAR, proposta apoiada pela CESE no Programa de Pequenos Projetos, em parceria com a Fundação Ford. A iniciativa é realizada pela Rede Ecumênica Amazonizar, que tem como missão ser sinal de união e diálogo no chão amazônico e prezar pelo respeito às diferenças, no combate ao fundamentalismo e à intolerância religiosa.

Foram diversas ações diaconais, entre encontros, oficinas, atos e celebrações junto a instituições religiosas, organizações da sociedade civil e comunidades tradicionais. Todas elas para ampliar os espaços de discussões formativas e fraternas entre as entidades e fortalecer a atuação dessa articulação.

“Receber esse apoio da CESE é um sinal concreto de comprometimento com várias causas, a do diálogo, da ecologia e da Amazônia.”, descreve Iuri Rogério Lima, da coordenação da Rede. O representante da organização, que também é membro da Comunidade Anglicana de Manaus, explica o pioneirismo da ação na interseção de agendas fundamentais para direitos humanos, de reconhecimento e valorização aos modos de vida tradicionais, defesa do meio ambiente e combate a intolerância religiosa: “Somos uma rede jovem, situada no coração desse grande ecossistema, que se propõe dialogar com comunidades eclesiais, de fé, e também com movimentos sociais. Temos essa perspectiva que é novidade na região.”, pontua.

O contexto brasileiro

Além de favorecer o desmatamento e o garimpo na Amazônia, o Governo Federal tem cedido espaço a missões evangélicas fundamentalistas para atuar em órgãos que deveriam defender os direitos indígenas. Segundo o Brasil Repórter, em matéria pública no primeiro ano da pandemia, sites estrangeiros ofereceram vagas para evangelizadores/as em aldeias brasileiras, disponibilizando um gráfico público sobre o nível de conversão religiosa das etnias. Para Iuri Lima essa situação tem sido porta de entrada para o crescimento do discurso de ódio e da intolerância em toda Amazônia.

“Tivemos situações em que comunidades indígenas inteiras se recusaram à aplicação da vacina da Covid 19, por conta do fundamentalismo religioso. As igrejas argumentaram que vacina era do diabo.”, descreve o coordenador, que revela outras atrocidades: “Muitas dessas comunidades tradicionais foram acometidas com discursos conservadores vindos de igrejas cristãs que diminuíram suas culturas e seus conhecimentos milenares, na área da saúde e da educação.”.

Ferramenta para discussão coletiva

Além dos processos formativos de enfrentamento as ameaças fundamentalistas, o recurso disponibilizado pela CESE viabilizou a produção da Cartilha de Combate à Intolerância Religiosa e ao Fundamentalismo Religioso na Amazônia.

A publicação possui três grandes eixos: respeito a vida, a identidade cultural e combate aos fundamentalismos, e de acordo com Iuri, foi um instrumento pensado para públicos de escolas, movimentos sociais e comunidades tradicionais. “Não é um material para academia. Pelo contrário, é para localidades atingidas por essa onda conservadora que necessitam de discussão de base. Por isso foi feito com uma linguagem acessível e bem próxima a realidade dos grupos.”.

Segundo o representante da Rede, a publicação já está sendo utilizada em diversos lugares da Amazônia, entre quilombos, terreiros de umbanda, escolas indígenas, e associações, de Manaus, Porto Velho e Macapá. “Tivemos a oportunidade de lançar na cidade mais indígena do Brasil, em São Gabriel da Cachoeira, no Acre. O bacana disso tudo foi a escuta. As pessoas que tiveram contato com a cartilha nos deram um retorno muito positivo, no sentido de respeito a cultura.”, descreve Iuri. Há também a previsão de lançamento em outras capitais da região Norte e no interior da Amazônia.

Como organização ecumênica, a CESE, continua apostando em importantes iniciativas como essas, que atuem na defesa e garantia dos Direitos Humanos através do testemunho profético das comunidades de fé. É nessa atitude de diálogo generoso que a Rede Ecumênica Amazonizar se coloca à disposição das comunidades tradicionais e a serviço da Amazônia: “Somos a expressão do coração de Deus no Jardim, que é esse grande bioma. Nossa presença, apesar de humilde e pequena, é samaritana e servidora. Acreditamos que nosso trabalho, de ser uma ponte de diálogo em rede, se torna teimosamente um traço de esperança em tempos tão difíceis.”, finaliza Iuri.

Fotos: Arquivo da Rede Ecumênica Amazonizar