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O imenso impacto gerado pelo novo Coronavírus tem trazido consequências na vida das pessoas em todo o mundo, desde as grandes cidades até as zonas rurais. Sem a expectativa de que a pandemia seja controlada no Brasil, os casos de Covid-19 e o número de pessoas mortas pela doença seguem em proporções alarmantes, avançando nas periferias dos grandes centros urbanos e se interiorizando em localidades de menor porte.

Com o objetivo de frear a propagação do vírus, governos estaduais têm decretado medidas de isolamento social com a proibição de acesso a praças, parques e às praias, bem como o fechamento de comércios, serviços e instituições de ensino, incluindo as feiras livres e eventos que concentre aglomerações. Embora sejam essenciais para conter o número de pessoas infectadas, essas medidas impactam diretamente na vida de agricultores/as que dependem da comercialização dos produtos da agricultura familiar para sobreviver.

Em sua grande maioria, os trabalhadores/as rurais se sustentam pela produção e comercialização de frutas, verduras, raízes, hortaliças, leites e derivados. O escoamento desses produtos ocorre nas feiras livres das sedes dos municípios, nos comércios locais, Ceasas e em programas governamentais como: o PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar e PAA – Programa de Aquisição de Alimentos, que têm como um dos principais objetivos adquirir produtos dos/as agricultores/as familiares e distribuir parte à população mais ameaçada pela insegurança alimentar e nutricional.

No entanto, no mandato do presidente Jair Bolsonaro houve um esvaziamento político e cortes sucessivos de recursos nos programas de incentivo a agricultura familiar. Segundo a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), havia uma previsão de somente 186 milhões reais no orçamento para financiar a compra de produtores naturais em 2020, sendo que 66 milhões estavam contingenciados até o momento em que o país recebeu os primeiros casos da Covid-19.

Com cortes drásticos em políticas e sem uma rede de logística estruturada para agricultura familiar, em meio ao isolamento social, camponeses/as têm perdido alimentos agroecológicos, enquanto trabalhadores/as informais dos grandes centros urbanos não conseguem se alimentar de forma adequada na maior crise sanitária e humanitária do Brasil.

Parceria com o Movimento Camponês Popular

Diante dessa situação, a CESE juntou-se ao Movimento Camponês Popular (MCP), através da Metodologia Dupla Participação, apoiando o projeto “Alimentos dos camponeses na mesa da população urbana em situação de vulnerabilidade” para contribuir no acesso à alimentação saudável de famílias da cidade Goiânia impactadas pela disseminação da pandemia.

Cestas básicas de alimentos agroecológicos

Além suprir a fome da população urbana mais vulnerável da capital de Goiás, a iniciativa teve como objetivo garantir uma renda mínima para as famílias camponesas, no escoamento dos seus produtos. Sandra Alves da direção estadual do MCP explica como o campo tem sofrido no âmbito econômico, social e cultural: “Os/as agricultores/as perderam os canais de comercialização da produção em função das medidas de isolamento e falta de políticas públicas para a agricultura camponesa, o que tem aumentado a desigualdade. Além disso, houve a perda cultural já que muitas festas comunitárias/religiosas tiveram que ser canceladas.”, relata a diretora.

Nesse momento, os/as agricultores permanecem com suas atividades. Apesar de grande parte dessa população se encontrar também em situação de vulnerabilidade social e econômica, o alimento, necessidade essencial à vida, é algo que não falta para as famílias.

Embora haja alimento,  segundo Jessica Britto, também integrante da direção estadual do movimento, os governos não têm assumido suas responsabilidades através de políticas públicas que garantam um mínimo de dignidade para quem vive e produz no campo. Para Jéssica : “No âmbito federal as poucas medidas que foram adotadas excluem os pequenos/os agricultores/as, como foi o caso do auxilio emergencial e o crédito através do PRONAF, as pessoas não conseguem acessar. E nos estados não há ações ou apoio para a agricultura camponesa. Quando cobramos, nos respondem que já há impacto financeiro por conta da crise e todos os recursos estão sendo priorizados para a saúde.”, informa.

Enquanto os apoios não chegam o MCP tem buscado alternativas de sobrevivência em meio a pandemia. Para o Movimento Camponês Popular, as formas de resistência estão na mobilização popular e na solidariedade entre o campo e a cidade. “Comercializar nossas produções é o nosso desafio de hoje. Estamos formando as cestas com produtos dos/a agricultores/as para entregar na casa do consumidor na cidade. E buscado também apoio de entidades e fundações como a CESE, como uma forma de escoar esses alimentos para as famílias que mais precisam.”, afirma Jéssica Britto.

No Brasil, 70% dos alimentos que chegam à mesa dos/as brasileiros/as são oriundos da agricultura familiar. Segundo a última pesquisa do Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para 90% dos municípios país, com menos de 20 mil habitantes, essa é a principal atividade econômica, responsável pelo sustento de 40% da população economicamente ativa.

Iniciativas solidárias como do Movimento Camponês Popular, que aposta no compartilhamento e na grandeza do desafio de mudar o rumo da produção no Brasil, é que tem a verdadeira força de enfrentar e vencer o novo vírus. “O apoio da CESE se torna fundamental para enfrentar a crise sanitária e econômica que vivemos, pois com o apoio conseguimos escoar parte da produção dos/as agricultores/as, o que gera renda e ao mesmo tempo faz chegar alimentos saudáveis de qualidade  para as famílias em situação de vulnerabilidade na cidade.”, declara Sandra Alves

Metodologia Dupla Participação

Durante o período da pandemia, a CESE disponibilizou recursos, através do Programa Virando o Jogo, para apoiar movimentos sociais e organizações parceiras em suas ações emergenciais de enfrentamento aos impactos da SARS-CoV-2, causadora da COVID-19. Por meio desse apoio, a CESE estimula que esses grupos mobilizem metade do recurso necessários para realizar seu projeto e em seguida dobra o valor obtido.

Para arrecadar metade do valor total do projeto, o Movimento Camponês Popular realizou uma rifa de uma novilha e angariou o valor de R$ 5.050,00. Para essa ação de mobilização de recursos, a organização contou com a articulação dos/as camponeses/as e com a solidariedade das pessoas com doações no período antes da pandemia. Para diretora estadual do movimento, ações como essas são bastantes desafiadoras, mas se fosse iniciada após o surto epidêmico não teria tanto sucesso, “creio que seria muito difícil completar a ação”, afirma Sandra, ressaltando sobre as dificuldades financeiras desse momento.

Para o projeto “Alimentos dos camponeses na mesa da população urbana em situação de vulnerabilidade” a CESE dobrou o valor para R$10.100,00.