CESE e MALUNGU promovem rodas de conversa sobre gênero e raça para aproximação de mais mulheres quilombolas às temáticas

Uma metodologia que inspire o autocuidado e uma reflexão sobre a importância e valorização das mulheres. Estas foram algumas das propostas para as “Rodas de Conversa Cá Entre Nós Mulheres”. Ao todo, foram cinco encontros promovidos pela MALUNGU – Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará em parceria com a CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço.

As rodas são a sequência de três encontros que aconteceram em 2020, os quais tinham como proposta um fortalecimento institucional da MALUNGU. Toda a iniciativa conta com apoio da Fundação Ford. Além do enfrentamento à desigualdade de gênero, os encontros também abordaram discussões sobre fortalecimento da luta antirracista, defesa dos territórios e comunidades tradicionais, um olhar para a ancestralidade, entre outros.

Os encontros foram oferecidos para mulheres do interior da MALUNGU: ao invés de focar em lideranças, foram beneficiárias desta ação mulheres de cinco regionais da Coordenação que nunca participaram ou tem pouca experiência de participação em momentos assim. As rodas envolveram as regionais Guajarina e Tocantins (14/05), Baixo Amazonas (20/05), Marajó (21/05) e Nordeste Paraense (25/05).

Foto: MALUNGU / VII Encontro de Mulheres Negras Quilombolas, em 2014

Rosana Fernandes, integrante do Setor de Assessoria de Projetos e Formação da CESE, destaca o andamento de algumas reuniões posteriores aos encontros para se pensar mais atividades para o segundo semestre de 2021, como sequência dentro dessa proposta. “Um dos nossos principais objetivos é contribuir para que essas mulheres se organizem em coletivos, grupos, em outro momento. Estimular a auto-organização delas”, completa.

Rosa Marques, Assessora Executiva da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, atuou como facilitadora em todas as cinco rodas. Rosa tem Mestrado em Ciências Sociais pela UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, com área de concentração em Políticas e Práticas Sociais. Valéria Carneiro, Coordenadora Executiva de Igualdade de Gênero da MALUNGU, também acompanhou os encontros.

Para Valéria, estas rodas são muito importantes para que essas mulheres quilombolas sejam reconhecidas e saibam que existem outras que estão na luta contra o racismo, o machismo e uma sociedade que as rotula. “É importante saber que do outro lado da tela, em muitos quilombos, tem uma mulher que tá tendo oportunidade de falar sobre seu problema. Só o fato dela participar já é importante, pelo tanto de informação trazida ali”.

Uma mulher quilombola* que participou da roda de conversa com a Regional Marajó diz a experiência foi importante, tanto para desabafar quanto para fazer a escuta da fala de outras mulheres. “Foi maravilhoso. Eu consegui desabafar, me mostrar sem medo de julgamentos. Eu espero muito que outras mulheres consigam se encontrar nessas rodas e que elas aconteçam mais vezes. Mesmo sendo on-line, eu me senti acolhida por aquelas mulheres que estavam me ouvindo, prestando atenção no que eu estava falando”.

Rosana Fernandes destaca que a escuta dessas mulheres sobre o autocuidado, o dia a dia e seus desafios com o racismo, o preconceito, as desigualdades e opressões das mulheres quilombolas revelou que é fundamental garantir e estimular a organização e participação das mulheres em espaços específicos, para fortalecimento da luta por de direitos das comunidades e das mulheres quilombolas.

“São as mulheres que estão nas comunidades quilombolas e que estão fazendo acontecer, fazendo a luta seguir adiante! Sempre foi assim, e é importante que isso seja reconhecido, que seus direitos sejam respeitados!”, finaliza.

*Esta pessoa teve seu nome ocultado por questões de segurança