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CESE lança publicação sobre racismo ambiental e sistemas agroalimentares no Cerrado

Lançado pela CESE no dia 23 de agosto, o livro “Racismo e Sistemas Agroalimentares”, de autoria de *Fran Paula, debate o racismo ambiental no Cerrado. A sistematização traz um pouco do registro das reflexões e aprendizados compartilhados durante a vivência dos encontros, diálogos e trocas com organizações, movimentos e povos do Cerrado. Estas atividades foram realizadas em 2021 e 2022, com o apoio do Instituto Ibirapitanga, através da iniciativa de Enfrentamento ao Racismo e Defesa dos Sistemas Agroalimentares. O apoio possibilitou à CESE realizar atividades de formação, de modo virtual e presencial, além de suporte financeiro para projetos de diversos estados do Cerrado.

O CERRADO

Pauta central da publicação, o Cerrado é um dos maiores biomas do país. Entretanto, é um dos que mais sofrem com o avanço da exploração do agrohidronegócio. Só em 2022, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram cerca de 10,7 mil km2 de área desmatada, concentrada principalmente no estado do Maranhão e do Tocantins.

No cerrado, a violência segue o ritmo do desmatamento e incêndios criminosos para abertura de áreas para o agronegócio e seus monocultivos de pastagem e da soja, como apontam os dados contidos no Dossiê Agro é Fogo. Só no ano de 2021 ocorreram 142 conflitos envolvendo o fogo criminoso em 132 comunidades, atingindo ao todo 37.596 famílias no país.

Essa região tão devastada é palco de intensas disputas entre as comunidades tradicionais quilombolas, indígenas, ribeirinhas e os agro-empresários que exploram riquezas sem pensar na biodiversidade do território, na cultural e nos modos de vidas dessas populações.

Segundo os Cadernos de Conflitos no Campo do Brasil (CPT, 2022), sobre a ocorrência dos conflitos por terra no último biênio, entre os estados com maiores números estão a Bahia, o Mato Grosso e o Maranhão. Todos têm parte significativa dos seus territórios localizados no cerrado brasileiro.

Dessa forma, as questões do campo e as questões raciais se entrelaçam. Afinal, a maior parte da população dessas comunidades é negra. As desigualdades etnicorraciais se expressam na luta pela terra, pela água e por soberania alimentar e segurança nutricional. As desigualdades sociais, os fatores classe, gênero e raça/etnia determinam quem tem acesso à alimentação e, sobretudo, quem passa fome no Brasil. É o que a publicação tem como objetivo mostrar.

*Fran Paula, autora. Quilombola, Engenheira Agrônoma, Mestra em Saúde Pública. Educadora da ONG FASE no Mato Grosso e Vice Presidenta Regional da Associação Brasileira de Agroecologia no Centro

FERRAMENTA POLÍTICA

Mais do que uma sistematização de depoimentos, a publicação se configura como uma ferramenta política de formação e de luta, para denúncia de violações e retrocessos e afirmação de direitos para os povos do Cerrado.

A autora destaca a importância da linguagem didática sobre os sistemas agroalimentares, contraponto central à exploração desenfreada, além da diagramação, que traz ilustrações que identificam elementos e pessoas do território.

“Essa publicação traz um olhar para os modelos de produção do agronegócio e suas violações. Cada vez mais as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas são impactadas pela contaminação por agrotóxicos, pela mineração, pelas hidrelétricas. Segue-se a mesma lógica colonialista, que explora os povos e não se importa com as vidas que estão ali”, destaca Fran.

A caminhada de construção desse projeto não foi solitária e o apoio do Instituto Ibirapitanga, que desde 2017 se dedica ao fortalecimento da democracia, da equidade racial e dos sistemas alimentares, foi fundamental. Manu Justo, coordenadora do Programa de Sistemas Alimentares da organização, salienta a importância da questão étnico-racial nas questões do Cerrado: “Nós entendemos que é preciso priorizar o estímulo às discussões sobre olhar racializado, às comunidades e seus sistemas alimentares, que são justos, saudáveis, sustentáveis e centrais para as transformações sociais. É importante e necessário estimular o aprofundamento das discussões sobre essa intersecção”.

Manu Justo, coordenadora do Programa de Sistemas Alimentares Instituto Ibirapitanga

REVERBERANDO

O conteúdo da publicação reverbera entre as representações das organizações que atuam no Cerrado. Demonstrando os modos de vida e a diversidade cultural dessa região, são várias as populações afetadas pelo agronegócio de diferentes formas e que veem sua luta representada. Jorlando Ferreira, da CONAQ/ Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins, afirma: “No território às vezes tem o acesso à água, porém tem dificuldade de conseguir utilizar essa água por causa do pouco recurso. Está à beira do rio, mas não tem as condições para levar essa água para cima, fazer o plantio. Não tem recurso. Não tem como falar em produção agroalimentar sem acesso a água”.

Mesmo diante de toda essa situação, os povos do Cerrado continuam resistindo. Entre eles estão as juventudes do campo e as mulheres. Um grupo muito ativo na militância é o das quebradeiras de coco babaçu. Vanessa Neco, da Rede de Agroecologia do Maranhão, relata: “Eu só tenho 30 anos. Mas nesses anos, eu tenho me reconhecido muito enquanto mulher, negra, quebradeira de coco. Trago uma ancestralidade e me fortaleço a partir desses espaços e entendo que minha missão também é fortalecer os grupos de mulheres que eu acompanho. Esse livro é uma forma linda de fazer isso, uma obra construída a partir da escuta das pessoas que estão nos territórios”.

Para um futuro mais sustentável, o consenso entre as representações está na preocupação ambiental, valorizando os sistemas agroalimentares e o reflorestamento. Francimaria Santos, agricultora da Associação Renascer, destaca: “Nos preocupa muito a questão ambiental. Tem lugares que você não vê mais certos animais, por conta dos agrotóxicos. Na minha comunidade, eu vejo de tudo (passarinho, cobra, etc.) porque o ambiente lá está controlado”.

Rosana Fernandes, assessora de projetos e formação da CESE, mediando encontro virtual entre os participantes do projeto

Nesse sentido, a CESE reverbera as queixas e as perspectivas do povo do Cerrado. ‘’A CESE defende e apoia o saber, a cultura e modos de vida das comunidades tradicionais e as religiões dos povos indígenas e quilombolas e as lutas desses segmentos para preservá-las. Entende também que são as mulheres que estão à frente destas experiências de resistência – mulheres negras, em sua grande maioria! Sabemos ainda o quanto é importante o respeito e o protagonismo da juventude. E, desta forma, a CESE tem construído uma longa caminhada junto aos povos do Cerrado, de apoio às suas lutas por Justiça Socioambiental. ‘’, afirma Rosana Fernandes, assessora de projetos e formação da CESE, sobre a publicação.

O lançamento fez parte da programação do seminário: ” Racismo, resistência e sistemas alimentares no cerrado”

Acesse a publicação na íntegra em: https://www.cese.org.br/comunicacao/publicacoes/