CESE promove debate sobre fortalecimento institucional para organizações populares do Cerrado

Aspectos como organização financeira e a adoção de boas estratégias de comunicação são fundamentais para o fortalecimento institucional de organizações populares. Mas características menos operacionais também são essenciais. A exemplo do exercício de uma liderança coletiva, uma metodologia democrática, o empoderamento de seus/suas diversos/as integrantes, o reconhecimento de sua própria missão, entre outras.

Nas manhãs dos dias 28, 29 e 30 de abril, o Fortalecimento Institucional de organizações populares e a Luta Antirracista foram temas de oficinas realizadas pela CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço em parceria com o Instituto Ibirapitanga para membros dessas organizações. Estes foram alguns dos aspectos citados no debate como necessários para uma melhor estruturação da atuação dos grupos.

As oficinas são mais uma etapa do projeto “Fortalecendo as organizações do Cerrado no enfrentamento ao racismo”, que tem como foco principal o enfrentamento ao racismo articulado a partir do fortalecimento dos sistemas alimentares sustentáveis de comunidades quilombolas e tradicionais do Cerrado. O seu cronograma prevê a realização de atividades em conjunto com movimentos populares até o mês de outubro.

Estes encontros tiveram por objetivo proporcionar um espaço de autoavaliação das organizações. A ideia foi debater aspectos que devem ser mantidos, o que pode melhorar dentro de cada uma, mas também fazer provocações acerca da abordagem de temas inclusivos nos momentos de elaboração de projetos – sobre juventudes, questões de gênero e raça, entre outros. Cerca de 17 organizações participaram dos encontros.

No primeiro dia, foram debatidos aspectos desejáveis de uma organização forte. Do ponto de vista mais administrativo, a comunicação estratégica (interna e externa) e a organização financeira foram apontadas como muito importantes. “É preciso saber se comunicar dentro da própria organização, com outros parceiros, sujeitos políticos, com a sociedade”, aponta Olga Matos, Assessora de Projetos e Formação da CESE, que foi uma das formadoras durante a oficina.

Ela afirma que é preciso haver o enfrentamento e a não dependência da mídia tradicional corporativa, por parte das organizações. “Como usamos estratégias de comunicação para conquistar mentes e corações nessas disputas de narrativas, como no caso das queimadas no Cerrado? A mídia não pauta nossas pautas, não fala nossas línguas. É preciso se proteger deste processo de criminalização das lutas”.

Já Rosana Fernandes, também Assessora de Projetos e Formação da CESE e formadora durante a oficina, lembra a necessidade das organizações buscarem sustentabilidade. “As organizações não precisam ser ricas, mas há que se pensar formas de mobilizar recursos que não são somente financeiros. Pode ter uma boa rede de apoio, de articulação. Isso fortalece a organização no campo político”, pontua.

Ela também alerta para a necessidade de saber a fundo quem são as instituições que dizem estar apoiando a sua causa. “A CESE, por exemplo, tem critérios para recebimento de recursos. Às vezes pode ser uma empresa que está destruindo o meio ambiente, mas busca uma ação neste sentido para passar uma falsa imagem de comprometimento e responsabilidade social”.

Já do ponto de vista do coração das organizações, das motivações que guiam cada uma delas, foi apontado por integrantes dos movimentos a necessidade de uma liderança não centralizada, democrática, coletiva, fundamentada no respeito mútuo entre seus membros; a capacidade de se autoavaliar; representatividade, inclusão das mulheres, jovens, crianças, escola, discussões sobre raça; trabalho de base, entre outros aspectos.

No segundo dia de oficina, foi organizado um espaço de autoavaliação das organizações e reconhecimento de qualidades e desafios. Coisas que estão sendo executadas de forma eficiente dentro de cada organização e deve ser mantido, mas também o que cada uma sente que pode melhorar. A conversa também girou em torno de quanto as organizações conseguem debater internamente questões de gênero e raça.

O terceiro e último dia foi reservado para uma conversa sobre instruções para elaboração de projetos. Também foi combinada a formação de um grupo – que conta com a participação de jovens que estiveram presentes nos encontros – para pensar a inclusão da juventude de forma mais orgânica e ativa dentro das organizações.

Sônia Mota, Diretora Executiva da CESE, também participou do encontro e falou sobre a importância da participação da CESE enquanto parceira de luta das organizações do Cerrado. “A gente sabe que existe uma invisibilização proposital do bioma para que se possa explorar mais as riquezas, avançar nos territórios. Importante termos a oportunidade de fortalecer essas dinâmicas institucionais, afinal são vocês as grandes guardiãs do Cerrado”.