Comunicação popular é tema de iniciativa que fortalece coletivos das periferias de Recife

“No corre-corre da competição constante, será que não é hora de co-criar espaços de troca e fortalecimento coletivo?” Foi a partir de provocações como essa que a Rede Tumulto, coletivo formado por jovens negras e periféricas de Recife (PE), divulgou as atividades do projeto “Tumultuando em Rede – Imersão de comunicação e fortalecimento institucional para coletivos de juventudes”. A iniciativa, que contou com o apoio da CESE e foi realizada no final de abril deste ano, promoveu formação técnica e política na área de comunicação para coletivos das periferias da capital pernambucana e região metropolitana. Mais do que um espaço de aprendizado, o encontro buscou também promover a articulação entre os coletivos e fortalecer a organização institucional desses grupos.

De acordo com Fernanda Paixão, coordenadora e designer da Rede Tumulto, a ideia do projeto está presente desde a criação da Rede, em 2019, a partir do desejo de articular e fortalecer coletivos da Região Metropolitana de Recife. “Pensando na troca rica das estratégias de resistência entre coletivos que atuam com lutas periféricas, entendemos a importância de compartilhar o nosso conhecimento de comunicação. Utilizando das nossas expertises de comunicação nesse processo de potencializar as histórias e projetos quando expostos para o mundo”, explica.

A programação do encontro foi pensada a partir dos saberes da coordenação da Rede, composta por mulheres negras que atuam na área da comunicação, e de coletivos parceiros. Incidência política, audiovisual e memória, redes sociais, design e elaboração de projetos foram alguns dos temas discutidos entre os 14 participantes que representaram diferentes coletivos da cidade e região. Fernanda explica que os grupos foram selecionados a partir da sua atuação na luta periférica e da demanda por apoio de um núcleo de comunicação, o que fomentou o interesse deles para o dia de atividades.

“Tinham pessoas vindas de vários lugares da Região Metropolitana do Recife, inclusive de até 50 km de distância, o que não eximiu a vontade de participar daquele sábado intenso de aprendizados diversos. São idades variadas e experiências que fizeram nos enxergar com mais afeto mergulhando na necessidade de um coletivo que, pela correria do cotidiano, se faz distante”, salienta a coordenadora.

Comunicação como ato político

A escolha por fortalecer a comunicação dos coletivos não é por acaso. Para Fernanda, essa é uma área de centralidade na luta política e, por isso, utilizar as ferramentas de comunicação popular é também uma estratégia de resistência. “A gente sempre tem como objetivo o ato de comunicar de forma entendível. Então a comunicação popular é a possibilidade de acesso da maioria das pessoas que estão na periferia. Incluindo através da linguagem ou plataformas de acesso (digital ou offline). Com nossa origem e vivência periférica, conseguimos entender a forma que a periferia recebe esse conteúdo. Para nós, fazer com que a mensagem chegue é um ato político”, aponta.

A designer destaca que o balanço do encontro foi muito positivo e marca a realização de um desejo de muito tempo. “Para a Rede Tumulto, foi um processo muito emocionante, pensado e esperado desde o nascimento do coletivo. Com o que vivenciamos e trocamos, entendemos que há necessidade de se falar das estratégias da comunicação como um instrumento de potencializar as histórias de outros coletivos e periferias”. E salienta o apoio da CESE para que essa realização tenha sido possível. “Acreditar no nosso trabalho é um combustível que precisamos para continuar a jornada de luta. Então o apoio da CESE foi fundamental para tirar essa ideia do papel e promover reflexões e alteração no fluxo dos coletivos participantes em como tornar suas comunicações estratégicas”, completa.

 Mas esse é só o começo. Animada, Fernanda anuncia que o coletivo pretende seguir com outras edições do projeto. “Temos a pretensão de fazer mais e mais Tumultuando em Rede, entendendo a grandeza desses momentos e criando a cultura do uso da comunicação como estratégia de resistência.”