Dia de Combate à Discriminação Racial: COVID 19, Racismo Ambiental e Estrutural

Hoje (21 de março) se registra no calendário mundial de lutas o Dia Internacional contra a Discriminação Racial.

A criação da agenda, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi motivada em memória ao “Massacre de Sharpeville”, ocorrido em 21 de março de 1960.

Nesta data, aproximadamente vinte mil pessoas protestavam contra a “lei do passe”, em Joanesburgo, na África do Sul (o país, neste momento, ainda vivia sobre o regime de apartheid).  A lei obrigava os negros e negras a andarem com identificações que limitavam os locais por onde poderiam circular dentro da cidade.

Tropas militares do Apartheid atacaram os manifestantes e mataram 69 pessoas, além de ferir uma centena de outras.

Em homenagem à luta e à memória desses manifestantes, o Dia Internacional contra a Discriminação Racial é comemorado em 21 de março.

Pandemia e racismo ambiental

Em 2021, a data se circunscreve em um período de colapso sanitário e no sistema de saúde pública do país, com quase 300 mil mortes decorrentes da pandemia de Covid-19. No Brasil,  as pessoas  empobrecidas e vulnerabilizadas são as mais atingidas, devido ao negacionismo do governo federal em relação à gravidade da pandemia e ausência de políticas essenciais para a sobrevivência da população – como um plano nacional de vacinação e a continuidade do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600.

Quem não tem acesso a água e saneamento básico, fundamentais para o enfrentamento ao vírus? Quem são os/as desempregados/as, subempregados/as ou trabalhadores/as informais? Quem acessa o sucateado sistema público de saúde? Quem chora a morte dos seus filhos/as, irmãos/as, companheiros/as?  Sabe-se que a interseccionalidade (o entrecruzamento entre racismo e machismo) vulnerabiliza ainda mais as mulheres negras. E no contexto de Covid, o isolamento contribui para o aumento da violência contra elas.

A pandemia da Covid-19 aumentou a visibilidade sobre as reais condições de vida da população negra, principal alvo da pandemia, e também acentuou mais uma faceta do racismo: a do racismo ambiental. Este é um termo cunhado, em 1981, pelo líder negro pelos direitos civis nos Estados Unidos, Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., a partir de suas investigações e pesquisas entre a relação de resíduos tóxicos e a população negra norte-americana (Fonte: Geledés.)

Vidas Negras Importam!

No atual contexto mundial, particularmente no Brasil, o fascismo, o conservadorismo, e o fundamentalismo avançam e reafirmam o racismo, a hierarquia social “natural”, e a militarização da política.

Os processos de colonização e escravização ocorridos em todo o mundo, baseavam-se na superioridade branca, na violência, no acúmulo de riquezas, expropriação da cultura dos povos colonizados, desumanização de negros e negras. As histórias de rebeliões, revoltas, guerras, manifestações fazem parte da luta dos movimentos negros em defesa da vida, da liberdade, dos direitos civis, humanos e democráticos duramente conquistados nesta trajetória, mas até então, negligenciados de forma recorrente.

Os componentes classe, raça e gênero são os pilares das profundas desigualdades existentes no Brasil e fundamentam o racismo na sociedade.

Negros e negras do campo e da cidade vivem há séculos em estado de conflito com o estado e sua efetiva política de segurança pública, por um lado, e ausência de políticas de enfrentamento às desigualdades sociais e econômicas, do outro.

Quem são as vítimas das ditas “balas perdidas”? Do “confronto com a polícia?”. E se sobreviverem a tudo isso: quem são as pessoas que representam a maioria da população carcerária? É a política da morte – necropolítica, quando se nega a humanidade do outro, e materializa-se nas agressões e mortes. Segundo dados recentemente divulgados pelo UNICEF, de cada mil adolescentes brasileiros, quatro vão ser assassinados antes de completar 19 anos. Se nada for feito, serão 43 mil brasileiros entre os 12 e os 18 anos mortos de 2015 a 2021 – três vezes mais negros do que brancos. Dentre os jovens de 15 a 29, nos próximos 23 minutos, uma vida negra será perdida e um futuro cancelado, como outros tantos já foram – Davi Fiúza, Ágatha Félix, João Pedro, George Floyd,  Miguel Otávio. A desumanização, o desprezo pelas vidas negras, a percepção de que algumas vidas valem mais que outras também ficam nítidos nesse caso.

E é neste estado de “naturalização da violência” contra a população negra que movimentos e organizações negras e antirracistas empunham e implementam campanhas, mobilizações, articulações de denúncias em defesa da vida. Especialmente nesse momento de crise política e sanitária, é preciso avançar na desconstrução da invisibilidade, na denúncia e na prática do antirracismo. O racismo não é “um problema dos negros”! É uma questão de poder e privilégios de brancos e brancas! É responsabilidade da sociedade, a construção diária de outras formas de relação sociais, de enfrentamento ao racismo e suas consequências! É necessário o compromisso na afirmação de direitos, da democracia e implementação das políticas públicas afirmativas e desmantelamento da militarização da política. É preciso radicalidade na prática antirracista!

A CESE, organização ecumênica que atua na promoção, defesa e garantia de direitos, identifica e reconhece a existência do racismo individual, institucional e estrutural na construção histórica do Estado e da sociedade brasileira e que esse racismo é gerador de injustiças contra a população negra. Ao longo de uma trajetória de quase 50 anos, sempre apoiou movimentos, organizações e grupos populares da população negra, dando sua contribuição para fortalecer a luta antirracista no país. E compreendendo que é fundamental a práxis, a CESE reafirma a sua Política Institucional de Equidade Racial. 

CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA!
MULHERES NEGRAS CONTRA O RACISMO, VIOLÊNCIA E PELO BEM VIVER!
PAREM DE NOS MATAR!
VIDAS NEGRAS IMPORTAM!
VACINAÇÃO GRATUITA JÁ PELO SUS!
AUXÍLIO EMERGENCIAL DE R$ 600 ATÉ O FIM DA PANDEMIA!