Covid-19: Conselho Nacional de Igrejas repudia declarações de Bolsonaro
25 de março de 2020Nossos ossos se secaram e nossa esperança desvaneceu-se;
fomos exterminados (Ez. 37:11b)
Na noite do dia 24 de março, o Brasil acompanhou o pronunciamento do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.
Em um momento de insegurança, incertezas e temor, a palavra que se esperava ouvir era de conforto e de medidas efetivas do Estado brasileiro para que a população mais vulnerável (pessoas idosas, com doenças pré-existentes, trabalhadores e trabalhadoras informais, pessoas em situação de rua, mulheres, grupos LGBTIQ+, camponeses e camponesas sem-terra, sem-teto, indígenas e quilombolas) pudesse encontrar, no líder máximo da nação, orientações seguras para o enfrentamento da atual crise sanitária e econômica.
No entanto, o que o país ouviu e viu foram palavras que causaram mais intranquilidade e insegurança, entre elas, a promessa de uma medicação cujo resultado ainda não está comprovado cientificamente e a ênfase de que o Covid-19 apresenta consequências mais graves para a população idosa – como se a vida delas valesse menos do que a vida das pessoas mais jovens.
A chamada para que as pessoas deixem a quarentena segue na contramão das políticas assumidas pelo conjunto dos países e dos governadores e prefeitos brasileiros que realmente estão preocupados em evitar que o vírus se propague.
Como Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), expressamos nossa profunda preocupação com a insegurança instalada em nosso país e com a falta de orientação e coordenação política desta crise.
Não podemos deixar de mencionar os equívocos em relação à política econômica, que tem priorizado bancos e o setor financeiro em detrimento das políticas de amparo às pessoas pobres, trabalhadores e trabalhadoras.
Compreendemos que toda a ciência acumulada e a coordenação da inteligência coletiva global em torno da luta contra o novo coronavírus constitui uma ação solidária e responsável da ciência e dos governos frente à humanidade.
No entanto, a autoridade máxima do país parece se valer do nome de Deus, de forma farisaica, para justificar sua irresponsabilidade frente à propagação da pandemia.
Conclamamos para que nossas igrejas-membro sigam com suas atividades presenciais suspensas, conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
O amor de Deus exige que cuidemos e zelemos pelo bem-estar das pessoas. Neste momento, sejamos vozes de consolo, de afeto e de afirmação de que todas as vidas importam.
Lembremos que a sabedoria das pessoas anciãs é bíblica. São elas que nos orientam nos primeiros passos da fé. Por isso, temos o dever de protegê-las e devemos dizer que suas vidas são importantes e fundamentais.
Kyrie Eleison!
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
Foto: Adriano Machado (Reuters)
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. E a formação em Mobilização de Recursos promovida pela CESE acaba nos dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território.
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.
A família CESE também faz parte do movimento indígena. Compartilhamos das mesmas dores e alegrias, mas principalmente de uma mesma missão. É por um causa que estamos aqui. Fico muito feliz de poder compartilhar dessa emoção de conhecer essa equipe. Que venham mais 50 anos, mais pessoas comprometidas com esse espírito de igualdade, amor e fraternidade.
A luta antirracista é o grande mote das nossas ações que tem um dos principais objetivos o enfrentamento ao racismo religioso e a violência, que tem sido crescente no estado do Maranhão. Por tanto, a parceria com a CESE nos proporciona a construção de estratégias políticas e de ações em redes, nos apoia na articulação com parcerias que de fato promovam incidência nas políticas públicas, proposições institucionais de enfrentamento a esse racismo religioso que tem gerado muita violência. A CESE nos desafia na superação do racismo institucional, como o grande vetor de inviabilização e da violência contra as religiões de matrizes africanas.
Comecei a aproximação com a organização pelo interesse em aprender com fundo de pequenos projetos. Sempre tivemos na CESE uma referência importante de uma instituição que estava à frente, na vanguarda, fazendo esse tipo de apoio com os grupos, desde antes de outras iniciativas existirem. E depois tive oportunidade de participar de outras ações para discutir o cenário político e também sobre as prioridades no campo socioambiental. Sempre foi uma troca muito forte.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Eu acho extraordinário o trabalho da CESE, porque ela inaugurou outro tipo de ecumenismo. Não é algo que as igrejas discutem entre si, falam sobre suas doutrinas e chegam a uma convergência. A CESE faz um ecumenismo de serviço que é ecumenismo de missão, para servir aos pobres, servir seus direitos.
Ao longo desses 50 anos, fomos presenteadas pela presença da CESE em nossas comunidades. Nós somos testemunhas do quanto ela tem de companheirismo e solidariedade investidos em nossos territórios. E isso tem sido fundamental para que continuemos em luta e em defesa do nosso povo.