A FASE, assim como todo o país, vive o luto após o Museu Nacional, localizado na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, ruir em chamas

 O mais antigo museu do país foi afetado neste domingo (2) por um incêndio que destruiu grande parte de seu acervo de cerca de 20 milhões de itens. Lamentamos profundamente o episódio, que não pode ser descolado do contexto de golpe vivenciado no Brasil. A educação, a ciência e a cultura estão sendo cada vez mais atacadas e o fogo que fez a história ruir na Quinta da Boa Vista ilustra essa grave situação. Prestamos toda solidariedade aos funcionários e funcionárias, aos pesquisadores e pesquisadoras e aos estudantes do Museu Nacional, que integra a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A própria sede da instituição, um palacete imperial de 200 anos, é um grande patrimônio. Além de se destacar nas áreas de etnologia biológica, paleontologia e antropologia, lembramos que o Museu Nacional foi um importante polo de resistência aos períodos de chumbo da ditadura civil-militar. O local também abrigava parte da história de luta do campesinato, dos povos indígenas e de diversas outras populações tradicionais. Mesmo com toda essa importância, a instituição não recebia seu orçamento de R$520 mil anuais desde 2014.

A FASE é grata pela oportunidade de ter participado de pesquisas desenvolvidas no Museu Nacional, como as que investigaram os hábitos alimentares de populações empobrecidas e a situação do emprego no Brasil, e por já ter tido o antropólogo Otávio Velho, pesquisador emérito da instituição, na presidência da nossa organização. Atualmente, José Sérgio Lopes Leite, professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, integra o Conselho da FASE e dá seguimento aos diálogos visando fortalecer tanto a sociedade civil como a luta por uma universidade pública, gratuita e de qualidade.

A crise no Rio de Janeiro e os cortes orçamentários decretados para os próximos 20 anos em todo o país só fazem colaborar para o apagamento da nossa memória, colocando ainda mais em risco o futuro da sociedade brasileira. Mas os conhecimentos resultantes de trabalhos como os desenvolvidos pelo Museu Nacional nunca virarão cinzas. Sigamos em resistência.