Fortalecendo iniciativas pela defesa de direitos: curso de Mobilização de Recursos une grupos populares

“Combater desigualdades, salvar vidas, mobilizar os territórios, ‘sustentar o céu’ e incentivar a autonomia das organizações foram algumas das reflexões apontadas por 22 pessoas de 11 organizações de diferentes estados brasileiros, que se reuniram durante os dias 20 a 24 de maio, no Curso sobre ‘Mobilização de Recursos Locais’, na CESE. 

Conectando iniciativas de diferentes lutas, tais como o direito à moradia digna, diálogo entre campo e cidade, combate ao racismo ambiental, juventude, debate sobre gênero e raça, o curso contribuiu para a conexão entre uma gama de atores, como afirmou uma das participantes, Deysiane Ferreira, da Teia dos Povos: “O tema de Mobilizar Recursos é algo que acontece muito dentro dos movimentos. A nossa perspectiva com esse curso é que, nós, enquanto rede, pudéssemos conhecer outras experiências e outras realidades. Durante esses dias, pudemos perceber as potencialidades”

“Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. Esse curso acaba dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território”, afirmou Maura Cristina, da Articulação de Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador. A formação, apoiada por Misereor, faz parte do programa Virando o Jogo, ministrado no Brasil pela CESE, em parceria com a agência holandesa Wilde Ganzen, e proporcionou um ambiente de troca de experiências e reflexões sobre práticas sustentáveis e estratégias para fortalecer diversas iniciativas locais em diferentes estados do Brasil, com organizações populares urbanas, do campo, grupos de mulheres e juventude.

Com uma metodologia participativa, os representantes das organizações presentes realizaram uma análise sobre a situação financeira e organizacional das mesmas, a importância da sensibilização de causas para mobilizar recursos, mapeamento de possíveis doadores para projetos, assim como a necessidade de compreensão do público que se pretende atingir. Jielza Correia Santos, representante do Movimento Organizado de Trabalhadoras e Trabalhadores Urbanos (MOTU), de Sergipe, diz que a mobilização de recursos é importante para apoiar as lutas em defesa de direitos: “Mobilização de recursos para a atividade do movimento, seja na mobilidade urbana, seja no trabalho e renda, segurança alimentar, para fazer com que a luta aconteça e continue em defesa dos direitos e grupos menos vulneráveis”, ressalta.

Dentre uma série de atividades, os/as participantes realizaram um mapeamento de quem poderia ser os/as possíveis doadores de suas organizações e produziram um material onde apresentaram um projeto que poderia ser apoiado

Dentre outras questões, a formação também discutiu a importância de se alinhar os interesses das empresas que contribuem com as missões das organizações locais, com os possíveis doadores. Foram discutidas estratégias para fortalecer as capacidades de mobilização de recursos, incluindo a abordagem de doadores individuais e empresariais.

“Nesta formação com grupos urbanos e alguns movimentos que fazem a articulação entre campo e cidade, contamos com organizações muito politizadas, lideranças muito conscientes do seu papel político e da importância da sua luta. Elas encararam o desafio proposto pela CESE para pensar também a mobilização de recursos de uma forma estratégica. Muitas organizações já fazem mobilização, mas não têm isso estruturado, sistematizado”, comenta Lucyvanda Moura, educadora popular e assessora de projetos e formação da CESE, sobre a formação.

Comunicar para mobilizar

O que é necessário para produzir uma boa peça de comunicação? Como as peças podem refletir as nossas missões e as identidades de seus grupos? Como pensar e criar estratégias para a mobilização de recursos? O que é necessário para fazer um bom produto de comunicação? Foram alguns dos questionamentos trazidos.

Os participantes também debateram sobre técnicas de marketing e comunicação para Mobilização de Recursos, como as peças de comunicação devem se alinhar à identidade de sua organização. Também foram convidados a realizar o mapeamento das organizações que já têm apoio, conexões e organizações que poderiam ser possíveis apoiadores.

“Quando você tem um planejamento, muitas portas se abrem. Nunca tínhamos feito um curso de Mobilização de Recursos. Eu cheguei aqui sem um norte em relação à Mobilização de Recursos. A gente já fazia isso na prática, mas não tínhamos um planejamento. Agora sabemos como fazer uma mobilização, de fato. Saímos daqui com uma base construída”, declarou Rosa Maria Rogado Da Silva, da Rede Solidária Berço das Águas, organização localizada em Goiânia (GO), sobre a participação no curso.

Para os/as participantes, o curso proporcionou um espaço valioso para a troca de experiências e o aprofundamento de conhecimentos, reafirmando o compromisso de fortalecer iniciativas locais e promover a sustentabilidade em diversas comunidades espalhadas pelo Brasil.