FOSPA 2022: Grupo Ecumênico e Inter-religioso promove Ato em homenagem aos/as Mártires da Floresta Amazônica

Ao som dos tambores das Suraras do Tapajós, estandartes para cada um e cada uma dos/as mártires  da floresta amazônica foram sendo conduzidos ao palco, sob a voz altiva da plateia de: “Presente! Presente! Presente!”/Foto: Mídia Ninja

Estandartes, batas, turbantes e tambores: muita mística fez do ato ‘Mártires da Floresta Amazônica’, realizado no dia 29 de julho, um encontro inter-religioso e diverso. O auditório do Centro de Eventos Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, foi o espaço escolhido para receber centenas de pessoas que comungam dos ideais dos homens e mulheres que tombaram (foram assassinados/as) em defesa das vidas da região.

O ato contou com a  participação de mais de oitocentas pessoas e homenageou  vinte mártires dos países da Pan-Amazônia e dos estados da Amazônia brasileira, representando todas as pessoas que dedicaram suas vidas em defesa da floresta e dos povos que a habitam. Foram os/as mártires homenageados/as:  Chico Mendes, Irmã Dorothy, Zé Claudio e Maria do Espírito Santo, Dom Pedro Casaldáliga, Bruno Pereira, Dom Phillips e Wilson Pinheiro; Cacique Emyra WajãpiMissionária Agostiniana Recoleta, Irmã Cleusa; Paulino Guajajara; Vicente Cañas Costa; Dilma Ferreira Silva; Nilce de Souza Magalhães – Nicinha; Povo Yanomami; Josimo Morais Tavares, Padre Josimo; Nicolasa Nosa de Cuvene; Alcides Jiménez Chicangana, Padre Alcides; Alejandro Labaka e Inés Arango; Irmã Maria Agustina de Jesús Rivas López, Aguchita, além dos povos indígenas, os grandes mártires da Floresta. 

Antes do início do ato foi colocado  um panô para que as pessoas pudessem escrever os nomes de familiares e amigos/as que morreram de COVID-19. Este panô com os/as “Mártires da Covid-19” abriu as homenagens aos/às Mártires.

Alcidema Magalhães e José Francisco dos Santos Batista, do Comitê Dorothy,  apresentaram o evento e trouxeram a importância deste momento no X Fórum Social Pan-Amazônico: “A Amazônia não tem tempo para esperar. A situação da Amazônia é uma emergência global. Portanto, precisamos do esperançar que age, revoluciona e tem esperança por mudar a história da Amazônia. A maior floresta tropical do planeta pede socorro. E nosso esperançar tem que ser revolucionário. Temos que nos unir para lutar em defesa da Amazônia”.

Foto – Rodrigo Viellas

Mam´etu Nangetu, representando o Comitê Inter-religioso do Estado do Pará, fez uma acolhida em nome de todas as representações religiosas e aos/as  mártires homenageados/as. Num discurso acalorado sobre a importância da luta dos/as mártires, como inspiração para que todos lutem em defesa dos povos da Amazônia, ela finalizou sua benção dizendo: ”Em nome de nossos Deuses Amazônicos, em nome de Jesus, de Buda, de Jeová, das Senhoras das Águas e dos Senhores da Criação, eu desejo que cada folha das árvores da natureza caia sobre nós, nos dando a vida, a prosperidade, a sorte, a paz e o amor, nesse momento. Que cada  pessoa saia daqui fortalecida. Que a gente não tenha armas, mas muita paz e amor no coração”. 

Mam´etu Nangetu – Comitê Inter-religioso do Estado do Pará na benção inicial do Ato / Foto: Bruno Almeida

Foram exibidos pequenos vídeos sobre a vida dos/as mártires da Pan-Amazônia homenageados/as. O grupo de Dança IAÇÁ, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana e o grupo de Atabaques do terreiro de Mam´etu Nangetu também celebraram a luta dos povos da floresta. 

Na data, foi lançado o livreto: Mártires da Floresta Amazônica, uma publicação com breve biografia de cada um/a dos/as mártires homenageados/as e seguiram em cortejo até as margens do Rio Guamá, onde uma celebração inter-religiosa,  com uma ampla roda de Carimbó, trouxe o esperançar e a celebração da vida de todos os povos da Pan-Amazônia. Baixe a publicação ” Mártires da Floresta Amazônica” em português AQUI e em espanhol AQUI.

Sônia Mota / Foto: Bruno Almeida

A pastora Sônia Mota, Diretora Executiva da CESE,  declarou que o ato foi um momento sagrado de memórias das pessoas que não estão aqui conosco,  que infelizmente tombaram por defender suas comunidades, seus territórios: ”Queremos lembrar essas mulheres, homens e comunidades inteiras que foram perseguidas, expulsas, dizimadas. Lembramos também o martírio da natureza ”, afirmou Sônia. 

Após o lançamento da publicação, o público entrou em cortejo, entre cantos indígenas, de matriz africana e de igrejas cristãs com estandartes com os nomes daqueles que morreram para defender a floresta e seus povos originários e tradicionais.

Foto: Bruno Almeida

Da esquerda para a direita: Dorismeire Almeida de Vasconcelos – REPAM Brasil; Nhandeci Adelaide Lopes – Povo Guarani Kaiowá; Clarice Gama da Silva Arbella -Povo Tukano / Associação das Mulheres indígenas do Alto Rio Negro Residentes em Manaus / AMARN e Mam´etu Nangetu  – Comitê Inter-religioso do Estado do Pará em marcha pela paz, em homenagem as vidas que tombaram e  contra os racismos e as intolerâncias políticas e religiosas, / Foto: Bruno Almeida

Foto: Bruno Almeida

Para o padre Dário Bossi, assessor nacional da Repam Brasil, “Os/as mártires nos ensinam muitas coisas, entre elas a indignação. […]Eles/as  nos chamam a nos indignarmos contra um sistema que está condenando à morte da Amazônia e de seus povos.”

Foto: Bruno Almeida

”Esse foi um ato contra os fundamentalismos políticos e religiosos, um ato de fé e de muito respeito pelo sagrado revelado em cada modo de ser e existir neste chão. De nossa diversidade é possível plantar respeito e colher beleza, esperança e paz. Não falamos de um Sagrado que está acima de tudo e de todos. Ousamos experimentar uma ventania que corre livre entre nós e nos convida a Amar como um ato revolucionário”, salientou Sonia Mota/CESE. 

Foto: Bruno Almeida

Todo o ato foi organizado pelo Grupo Articulação Ecumênica e inter-religiosa para o X Fospa, formado pelas organizações baseadas na Fé: CESE, FEACT, PAD, CONIC, Rede Igrejas e Mineração, REPAM, Rede Amazonizar, COMIN, CIMI, CAIC, CPT, Comitê Dorothy, Igreja Evangélica de Confissão Luterana /Belém, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil/Belém, CENARAB, Comitê Inter-religioso do Estado do Pará e Koinonia, com apoio da Fundação Ford.

Representações do Grupo Articulação Ecumênica e Inter-religiosa / TAPIRI

Assista aqui o Ato dos/as Mártires da Floresta Amazônica realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA).
Mais fotos do Ato no facebook da CESE 

Sobre o X FOSPA: O X Fospa é o principal evento de mobilização, resistência e esperança da Pan-Amazônia,  neste ano de 2022 marcado pelo aumento da pobreza no continente latino-americano, a guerra na Europa e, também, a guerra declarada à Amazônia pelo extrativismo predatório, narcotráfico, pesca ilegal, entre outros. E o ano do  assassinato de tantos defensores da natureza, como recentemente, do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Nesta edição, o Fórum foi dividido por casas temáticas – as Casas dos Saberes e Sentires, construídas coletivamente a partir das linhas centrais dialogadas e aprovadas pelo Comitê Internacional do X Fospa.  O nome dado a cada casa já dimensiona a abrangência dos temas em pauta: Casa dos Bens Comuns; Casa dos Povos e Direitos; Casa dos Territórios e Autogoverno e Casa da Mãe Terra.

Sobre o Grupo de Articulação Ecumênica e Inter-religiosa – TAPIRI 

Na Casa dos Povos e Direitos, as organizações baseadas na Fé – CESE, FEACT, PAD, CONIC, Rede Igrejas e Mineração, REPAM, Rede Amazonizar, COMIN, CIMI, CAIC, CPT, Comitê Dorothy, Igreja Evangélica de Confissão Luterana /Belém, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil/Belém, CENARAB, Comitê Inter-religioso do Estado do Pará e Koinonia – construíram coletivamente o Tapiri Ecumênico e Inter-religioso. Tapiri é uma palavra indígena que significa “Palhoça onde se abrigam caminheiros/as”. E é a partir deste significado que o grupo propõe o diálogo inter-religioso entre as organizações que atuam na Amazônia legal e na Pan-Amazônia, fortalecendo as lutas pela promoção e garantia dos direitos dos povos da Amazônia e o combate aos fundamentalismos religiosos e políticos.