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Grupo conta com parceria da CESE e HEKS/EPER para adquirir roupas e equipamentos; brigadistas também passarão por formação com Corpo de Bombeiros.

Por Rafael Oliveira

“O paredão de fogo tinha uns 3 metros de altura, era muito quente. Se não fossem os companheiros ajudarem, teria queimado muitas casas”, recorda a lavradora Lícia Lopes da Silva, uma das moradoras da comunidade camponesa Serrinha, estabelecida há oito anos no município de Barra do Ouro, a 395 km da capital Palmas, no Tocantins.

O ano de 2019 foi repleto de desafios a serem superados pelas cerca de 35 famílias da Serrinha. Um dos principais problemas enfrentados, segundo os moradores, foi ter que lidar com a devastação ocasionada por incêndios no período de seca na região, que aconteceram em meados do mês de outubro. “Eu tenho uma nascente que há sete anos eu vinha preservando ela, com mudas de bacaba e outras árvores, mas como esse suspeitamos que foi um fogo criminoso, não deu para fazer nada. Queimou tudo”, explica Carlos de Assis da Silva.

O relato de Silva faz coro junto a muitos outros do grupo que também tiveram perdas com os incêndios do ano passado. Como no caso de Edmilson Firmino dos Santos, que teve a casa completamente incendiada. “Geralmente tem fogo nessa época, mas dessa vez pegou todo mundo de surpresa e queimou todo meu barraco. Lá dentro tinha cama, panelas, filtro d’água, roupas da minha filha e da minha esposa”, conta o lavrador.

Além do prejuízo financeiro, segundo Santos, o sentimento é de muita tristeza. “Fica um trauma, é muito feio ver sua casa pegando fogo junto com as roupinhas de criança. Passamos seis, sete anos lutando e o fogo consumiu tudo em 10 minutos”, relata emocionado.

O sentimento de indignação deu espaço para a vontade de reerguer o que foi perdido. Para isso, as famílias se reorganizaram e decidiram montar uma brigada de incêndio composta por integrantes da própria comunidade. “Vamos priorizar a prevenção do incêndio, porque quando chega ao ponto de combater é porque já estamos sendo afetados. Isso nos ajuda demais a prevenir que as plantações de melancia, mandioca ou os brejos e buritizais queimem”, explica Adenil Ferreira Lima, presidente da associação da Serrinha.

O lavrador José Maria José de Brito, um dos idealizadores da brigada, conta que sempre fez o trabalho de prevenção na sua terra. Ele defende a ideia de que é melhor trabalhar com antecedência do que perder todo trabalho de anos. “Desde o início do período de seca eu já começo a preparar minha terra para evitar que algum fogo se espalhe. Você tem que reagir antes, não pode deixar o perigo chegar perto. E para isso nós precisamos ter o conhecimento e alguns equipamentos apropriados”, pontua.

Nesse sentido, o projeto das famílias da Serrinha contou com apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e HEKS/EPER – juntamente com a colaboração da Comissão Pastoral da Terra Araguaia -Tocantins -, que proporcionou a aquisição de equipamentos de segurança, como máscaras e macacões específicos para o combate a incêndios, bombas d’água entre outros materiais. Além disso, o projeto prevê oficinas com o Corpo de Bombeiros para que as famílias recebam orientações sobre como reagir em eventuais situações de perigo.

“Eu acho muito legal essa ideia porque assim essa equipe vai poder agir com mais segurança para prevenir ou apagar o fogo”, vislumbra Isys Oliveira Lima, de 13 anos. Para a estudante, a natureza não pode mais sofrer com as queimadas. “O que eu mais quero é continuar ouvindo o som dos passarinhos, sentir o cheiro das árvores, ver o verde das nossas matas”, acrescenta a jovem.

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A comunidade Serrinha luta pela regularização de suas terras para criação de assentamento desde 2012. O grupo enfrenta a inoperância do órgão do Governo Federal responsável por esse procedimento, o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Desde o início do mandato do presidente Jair Bolsonaro, em 2019, o processo não apresentou nenhum avanço.

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