“PETO, CADÊ O CARA?”, PERGUNTA A MARCHA INCOMODE

“PETO, cadê o cara?” foi a pergunta de centenas de jovens, ontem (18), que caminharam do bairro do Lobato até o Parque São Bartolomeu em protesto contra o genocídio e hiperencarceramento da juventude negra da Bahia, na Marcha INCOMODE.

Organizada pelo coletivo INCOMODE, a marcha aconteceu pelo segundo ano consecutivo, levando inúmeras famílias a reclamar os reincidentes casos de homicídios e desaparecimentos de jovens durante as operações realizadas nas comunidades periféricas.

A ação também teve como proposta mobilizar a população negra e revelar o protagonismo da juventude suburbana na luta contra o extermínio, preenchendo a avenida com adolescente engajados em projetos sociais, coletivos políticos e culturais que atuam na cidade denunciando o agravamento da violência sobre a vida dos amigos e sobre suas próprias vidas.

Estatísticas –  Segundo o Atlas da Violência 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Bahia é um dos 15 estados brasileiros que apresentam taxas de homicídio dejovens acima da média nacional. Enquanto o Brasil apresenta o índice de 69,9 assassinatos a cada 100 mil jovens, a Bahia registra a taxa de 119,8 homicídios, considerando o mesmo quadro amostral.

O estudo também mostra que, em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios no Brasil forampessoas negras (soma de indivíduos pretos ou pardos, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). De 2007 a 2017, a taxa de homicídio de negros cresceu 33,1% no País; a de brancos apresentou crescimento de apenas 3,3%.

Jovens e negros são também maioria entre a população carcerária no Brasil, que em 2016 chegou a um total de 726,7 mil, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Mais da metade desse segmento era formado por jovens de 18 a 29 anos e 64% do total eram negras.

Mais que um ato público para denunciar a violência do Estado sobre jovens, a Marcha foi palco para convidar a população a pensar na luta pela vida e sobre o direito à cidade que é todo tempo negada aos jovens negros.

Para Carolaine Santos (22), “Estar na Marcha é perceber que eu não estou sozinha nas minhas aflições,, enquanto jovem mulher negra que sai de casa e nunca sabe se volta. Me sinto fortalecida ao saber que se por alguma motivo eu não conseguir voltar pra minha casa, essas vozes não se calarão”, desabafa.

Tatiane Anjos (29), conselheira de juventude do Estado da Bahia, também esteve presente na Marcha e avaliou a importância de ações mais afastadas das regiões centrais. “É preciso ocupar toda cidade, principalmente nos bairros mais afastados do Centro, para dar voz e vez à juventude que sofre com todo tipo de violência e muitas vezes não tem oportunidade de denunciar. A Marcha é uma oportunidade de nos conhecermos, compartilhar dores, mas, sobretudo, ampliar juntos nossas estratégias de resistência.”

Na finalização da atividade, os jovens se reuniram no Parque São Bartolomeu para apreciar as apresentações artísticas dos grupos presentes. Poesia, dança e Hip Hop marcaram o encerramento da Marcha com mães, familiares e amigos de vítimas que assumem o compromisso de continuar a denunciar a violência policial nas comunidades, exigindo a resposta: “PETO, cadê o ‘cara’?”

Fonte: Revista Quilombo.