Projeto garante conectividade para associação indígena no Vale do Javari

Aldeias Conectadas é uma iniciativa da associação indígena ASDEC, contemplada pelo Programa de Pequenos Projetos da CESE

O Vale do Javari é uma região de natureza densa e desafiante, onde vivem povos indígenas isolados e outros agrupamentos com desafios de conectividade num tempo em que a agilidade da circulação das informações pode salvar vidas e contribuir para a preservação do território. Para ultrapassar essa barreira, a Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Marubo do Alto do Rio Curuca (ASDEC) criou o projeto Aldeias Conectadas, contemplado no Programa  de Pequenos Projetos da CESE, que viabilizou um melhor acesso à internet no escritório da ASDEC, em Atalaia do Norte, ampliando diretamente o alcance de 50 pessoas e contribuiu para a melhoria da comunicação com os associados que vivem na aldeia Maronal e adjacências.

No Vale do Javari vivem povos contactados e de recente contato – aldeias que puderam se preservar graças à densidade da Floresta Amazônica. Do ponto de vista da comunicação e circulação, o acesso à região é bem limitado e leva dias de viagem pelos rios. As associações indígenas instalam suas sedes na cidade de Atalaia do Norte para conseguirem ter acesso às tecnologias de informação como telefone e internet, e desta forma poder se articular junto aos seus parceiros.

Por essa razão, a ASDEC concebeu um projeto que viabilizasse a aquisição de equipamentos básicos para conectividade, como modem, roteador, instalação de um link exclusivo de acesso à internet para o escritório da ASDEC na cidade de Atalaia e compra de uma televisão para ser instalada no antigo prédio da Funai, situado na aldeia Maronal. O item permitiu acesso a materiais didáticos, através da internet, e maior qualidade para acompanhar as reuniões que envolvem maior número de indígenas nos encontros.

A ADESC é uma das organizações de base da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – UNIVAJA e sua atuação efetiva tem sido focada no incentivo às iniciativas dos moradores, que habitam em uma das regiões remotas do Vale do Javari. De acordo com Manoel Chorimpa, presidente da associação, “entre os principais focos de luta na defesa de direito dos moradores vale destacar a luta pela preservação da cultura e da defesa do território”.  Nesse sentido, a ASDEC atua especialmente com a população Marubo que habita a calha do alto rio Curuçá, na terra indígena Vale do Javari.

PRESERVAÇÃO – “A própria localização das aldeias numa região de difícil acesso, por natureza já é um desafio de conectividade com o mundo externo. Porém, essas populações são portadoras dos mais sagrados conhecimentos que as influências externas não conseguiram induzi-los” explica Chorimpa. Ele acrescenta que “nesse local, temos todo um processo histórico dos antepassados, que são referências nos dias de hoje. As suas aspirações e as inspirações são como sementes que estão em cada um de nós, como também para nossas futuras gerações. A partir dessa relação que estamos buscando novas ferramentas de sintonia com os parceiros.”.

O projeto oportunizou a aquisição dos materiais (que agora já estão em uso), permitindo as condições necessárias para realização  das reuniões, formações – especialmente com parceiros de articulação política e apoiadores. “A CESE tem sido fundamental nesse processo de um ciclo de uma história, da qual pretendemos assegurar as novas gerações dentro do seu próprio território. Uma relação que teve início em 2007”, conta o presidente da associação, que já enfrentou diversos desafios para se manter ativa e retomou seu pleno funcionamento em 2021. É recorrente que as associações indígenas lidem com dificuldades para manter suas documentações e impostos em dia, o que muitas vezes compromete a continuidade do trabalho de modo regularizado.

A retomada das atividades coincidiu com o edital realizado pela CESE em parceria com Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônio Brasileira (COIAB), voltado para a regularização das associações indígenas. “Participar desse edital foi vital e importante oportunidade que tivemos para dar vida à nossa associação, que se tornou hoje uma das atuantes no Vale do Javari. Já estamos indo para o terceiro projeto – o primeiro foi de fortalecimento institucional; o segundo, de Comunicação; e o terceiro, um Seminário de Direitos, que ainda vamos realizar”, explica a liderança. Com esses suportes, a entidade tem podido avançar em seu compromisso de defesa do território e da cultura.

“A CESE deu a oportunidade de sobrevida à nossa associação. Diante das diversas dificuldades impostas pela situação das pendências, foi praticamente a decretação do fim da vida da associação.  Desta forma, só temos de agradecer em primeiro lugar a paciência da equipe da CESE conosco. Segundo, entendemos o espírito de humanismo, porque se for seguir o sistema, demandado pelo capitalismo, nunca teríamos a oportunidade de corrigir os erros e dar sobrevida a nossa organização que é tão fundamental quanto a vida da pessoa humana” conclui Chorimpa.