Mulheres indígenas da Amazônia e Cerrado se reuniram, em Brasília, para o I Encontro Inter-regional do projeto Patak Maymu

Aconteceu, entre os dias 21 a 23 de abril, em Brasília, o I Encontro Inter-regional do Projeto PATAK MAYMU: Autonomia e participação das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado na defesa de seus direitos, sob a coordenação da CESE, com o apoio e financiamento da União Europeia. O encontro teve como objetivo fortalecer a garantia dos direitos das mulheres indígenas e seus povos, além do incentivo ao seu protagonismo e de suas organizações. A iniciativa contou com a participação de 35 mulheres dos biomas Cerrado e Amazônia, reunindo uma diversidade de povos de 21 etnias.

O que se viu ao longo dos três dias foi uma inspiradora força ancestral que impulsionou a construção, reflexão e compartilhamentos de experiências, com diálogos para fortalecer o movimento das participantes e suas organizações.

O primeiro dia começou com um momento de acolhimento, e com canto da Pajé Analice Tuxá, da Aldeia Tuxá Setsor Bragagá de Buritizeiro-MG,  pedindo proteção aos encantados, para que energias positivas estivessem no encontro. E também com o canto da Anna Terra, da Associação Terra indígena Xingu- ATIX, trazendo a força das mulheres do Xingu. Na oportunidade, cada participante levou um elemento de seu território, de representação de seu povo ou de sua organização, que expressou o significado desse símbolo, e citou uma ancestral, trazendo à memória algum marco dessa referência. 

Anna Terra trouxe como símbolo do seu povo uma cerâmica: “A cerâmica é como nós, mulheres. Ela tudo carrega”. Já Diolina Krikati, representante da AMIMA, apresentou um artefato (cocar) entregue pelas mãos do cacique a ela, que para seu povo, só é dado para quem é considerado liderança ou para quem está à frente das lutas, como uma honraria. “Um cocar, não é simplesmente um cocar, ele se torna seu filho, com valor espiritual, tem que ter orgulho e cuidar”.

Diolina Krikati

A programação contou com temas relevantes e importantes a serem discutidos, como por exemplo, violência contra mulheres indígenas; poder, participação política e as dificuldades enfrentadas nesses espaços; resistências e o papel da comunicação em facilitar e viabilizar as lutas dos povos originários. Elisângela Baré, da Associação das Mulheres Indígenas do Rio Negro(AMIARN), afirma que as temáticas abordadas são extremamente importantes para o empoderamento e atuação das mulheres dentro e fora das aldeias. Para ela articulação e resistências trazem a força para que guerreiras continuem em luta : “Somos mulheres terra raiz e sementes, se estamos aqui é pela nossa autonomia. O lugar da mulher é onde ela quiser. É importante mulheres estarem em posições que dão vozes a outras mulheres”, afirma Baré.

Em uma de suas falas, a representante da ANMIGA, Braulina Baniwa, reforçou a importância da autonomia e do protagonismo das mulheres indígenas em aldeias de todo o país, bem como em diferentes espaços e setores da sociedade. Para ela, as mulheres indígenas precisam estar unidas e articuladas:  “Nós enquanto articulação, é importante estar nesse espaço de escuta para dialogar e fortalecer a participação das mulheres nessas construções coletivas”.

Foram três dias de muita troca, falas potentes e emocionantes. As mulheres sempre estiveram presente em espaços de luta do movimento indígena e organizações, no entanto nos últimos anos sua atuação tem se transformado, e mulheres de diversos povos passaram a assumir posições de destaque e liderança. Sobre esse aspecto Valdenira Krakiti declara: ” Antes não tínhamos voz e direito de tomada de decisões junto as nossas liderança. Achavam que nosso papel era ficar fazendo artesanato e cuidando dos filhos. Hoje nós temos a participação em assembleia, participação em fóruns e outras reuniões.”, finaliza a representante da Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Rondônia e sul do Amazonas.

O projeto conta com as seguintes organizações parceiras:  Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira – UMIAB , Takiná -Organização de Mulheres Indígenas de Mato Grosso, Organizações Xakriabá, Organizações Guarani e kaiowá e Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podáali.

Apresentação do projeto Patak Maymu

Durante o encontro foi apresentado o projeto  PATAK MAYMU: Autonomia e participação das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado na defesa de seus direitos, que tem a duração de 36 meses. Nesse período, acontecerão atividades de formação, comunicação e apoio a projetos, buscando contemplar a diversidade das mulheres indígenas e organizações mistas, incluindo a juventude e indígenas no contexto urbano. 

O lançamento do Patak Maymu acontece no dia 27 de abril, na tenda da COIAB, em Brasília, das 11h às 12h, durante a 19ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que tem como tema “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia”. A maior assembleia dos povos indígenas brasileiros ocorre entre os dias 24 e 28 de abril em Brasília, Distrito Federal.

Foi também apresentada a chamada pública de apoio a pequenos projetos, que vai ser lançada nesse mesmo dia (27), e tem como foco o apoio à participação de mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado na III Marcha das Mulheres Indígenas, a ser realizada em Brasília em setembro. 

Essa iniciativa fortalece a capacidade de articulação das organizações entre si e com outros segmentos a partir das atividades de formação e articulação que acontecerão em encontros inter-regionais e microrregionais.