Povos Indígenas abrem Reunião da Diretoria da CESE

Com a afirmação “o Agro não é pop”, o indígena Ariabo Quezo, povo Balatipone, do território Umutina, Barra do Bugres (MT) relatou, durante a reunião de Diretoria da CESE, como o agronegócio do gado, da soja e da cana têm massacrado os povos e violado seus direitos, contrariando o slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo” da campanha publicitária da “Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil” promovida pela Rede Globo.

O encontro de algumas horas entre a direção institucional, a equipe executiva e membros da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia) fez parte da terceira reunião anual da diretoria da CESE. Apesar da brevidade, a conversa foi muita intensa “Uma verdadeira aula de História”, descreve Sônia Mota, diretora executiva. O objetivo deste momento foi iniciar mais um processo vivência para melhorar a compreensão sobre os povos indígenas , conhecer o histórico de violações de direitos e identificar desafios para essas populações, em torno da futura parceria entre CESE e COIAB.

Além da questão da ofensiva ideológica do latifúndio, Ariabo expos como o território para os povos indígenas tem um significado muito maior do que um simples espaço geográfico. Para ele, tem relação com sua própria identidade, tradição e cultura. “Para nós, território é vida. Lutamos pela vida.”.

A CESE escutou também os relatos de Ângela Amanakwa Kaxuyana, pertencente ao povo Kahyana – Kaxuyana (PA), Idjawala Rosa Karajá, povo Karajá da Ilha do Bananal (TO) e Modesta da Silva Carvalho, do povo Tucano de Manaus (AM). Os/as convidados/as compartilharam suas experiências, suas lutas e a história dos seus povos.

Ângela Amanakwa trouxe dados sobre a diversidade da cultura indígena “270 línguas indígenas são faladas no país”, e abordou sobre os processos de pressão e opressão sofridos pelos povos indígenas que vão desde o período da colonização e ditadura militar, até os tempos atuais de retrocessos de direitos. Nesse processo de existência e resistência dos povos indígenas, Ângela lembrou a declaração de posse permanente da terra Kaxuyana/Tunayana reconhecida pelo Ministério da Justiça, na última quinta-feira (20).

Para a ela, esse processo reconhecimento é uma dívida histórica que o Estado possui com os povos indígenas, sobretudo com o com o povo Kaxuyana, que forçadamente foi deslocado no período da ditadura, para o território Parque do Tumucumaque: “Esta declaração é uma forma de reconhecer a luta do nosso povo e do nosso direito territorial num momento de tantos ataques. Isso nos fortalece para que a gente continue na área que era dos nossos ancestrais, dos nossos avós.”.

Assim como Ariabo, Ângela exemplificou projetos que ameaçam as terras indígenas, entre eles o que prevê o arrendamento de aldeias para o agronegócio. “De pop o agronegócio não tem nada. Não é bom para os índios, nem para ninguém.”