Amigo Kanaú: memória e saudade

Que tristeza nos abateu ao saber do passamento do nosso amigo Kanaú, também colega de trabalho por muitos anos na CESE. Quantas recordações, de tantas coisas e fatos. Rimos e nos divertimos muito. Também tivemos calorosas discussões e embates sobre o trabalho. Kanaú era um árduo defensor das causas indígenas e dos povos da floresta. Gostava também de fazer e mexer com seu lado artístico, sendo um dos fundadores do Boi de Igatu, grupo cultural que trabalha com a cultura popular no encantador povoado de Xique-Xique de Igatu, Chapada Diamantina-Bahia.

Com certeza, Kanaú não era uma pessoa comum. Era marcante por uma serie de razões, pela forte personalidade, por fazer e por ser diferente sempre e em quase tudo. Recentemente havia escrito suas memórias a respeito do tempo que viveu junto a uma aldeia do povo indígena Madija, à beira de um pequeno igarapé do Rio Envira chamado  Igarapé do Anjo. Como antropólogo e enfermeiro, foi lá para viver oito meses e fazer o levantamento fonológico da língua desse povo, que ainda era ágrafo. E ficou dez anos!

Toda a equipe da CESE e alguns de seus ex-colegas que trabalharam e que ainda passam por aqui ou colaboram com a instituição se entristeceram pela sua partida. No entanto, fica a certeza que ele aproveitou bem a sua existência, viveu intensamente e o que fez foi sempre de forma apaixonada. Sua vivência por dentro da cultura indígena o fez abraçar uma cosmovisão acerca das espiritualidades presentes nas diferentes culturas. Respeitando suas ecléticas convicções, certamente Kanaú segue feliz para outra dimensão, neste colorido início de estação primaveril, acompanhado dos espíritos das florestas, santos, divindades, orixás, bruxas e duendes.

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