João Zinclar, um ser humano imprescindível

Somos menos um. Esse é título de umas das muitas manifestações sobre a morte de João Zinclar e o que melhor traduz o sentimento da CESE ao tomar conhecimento do trágico acidente. João, mais do que um grande fotógrafo, foi um ativista social de coerência impressionante. Gaúcho de nascimento, João começou a exercitar a fotografia enquanto era operário metalúrgico na cidade de Campinas. Sindicalista e militante socialista, registrava as lutas populares. Ampliou sua atuação fotografando as mobilizações por reforma agrária e se tornou grande colaborador dos movimentos camponeses e de jornais e blogs da imprensa alternativa.

Por cinco anos, fotografou os ribeirinhos nas margens do Rio São Francisco, experiência que culminou na publicação da obra fotográfica “O Rio São Francisco e as Águas no Sertão”.  O lançamento de seu livro em Salvador foi realizado na CESE, em parceria com Articulação São Francisco Vivo. E o João se tornou um entusiasmado amigo da CESE e cedeu generosamente suas fotografias para nosso site e publicações.

A sua vida breve e intensa de 56 anos foi interrompida por trágico acidente rodoviário na madrugada do dia 19 de janeiro. Como não poderia deixar de ser, estava a serviço, vindo de ônibus de Ipatinga (MG) onde cobrira as eleições sindicais dos metalúrgicos. Na cerimônia de despedida, que reuniu centenas de amigos e representantes de organizações populares, muitas bandeiras estiveram levantadas. Bandeiras que congregam as pessoas que se dispõem a mudar o mundo. Foram essas bandeiras que, com seu olhar sensível, João registrou e universalizou. E é a fidelidade à causa da Justiça que faz de João Zinclar um ser humano imprescindível.

“Mudar o mundo eu acho que é uma tarefa muito maior do que a fotografia. Mudar o mundo é ter milhões de pessoas na rua em movimentos contra os opressores, contra as ditaduras, é isso que muda o mundo. E a fotografia, se ela quiser cumprir esse papel, tem que andar pari passu com esses movimentos, colocando realidades objetivas e subjetivas, porque não existe verdade absoluta”. (João Zinclar, em entrevista a Silvio Tendler)

Foto: Flaldemir Sant’Anna de Abreu – Nascente do Rio São Francisco (MG)

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