Nota pelo direito à vida: denúncia e alerta público em relação ao extermínio de jovens na Bahia

Nossas organizações repudiam o assassinato de 13 jovens negros, no Bairro do Cabula, em Salvador (BA), no dia 6 de fevereiro, última sexta-feira, após uma operação da Polícia Militar do Estado da Bahia. Ao falarmos destes jovens, com a memória de tantos outros que não têm os seus nomes divulgados, evocamos suas trajetórias, seus percursos, as suas vidas. As suas mortes sinalizam uma prática cotidiana e presente em muitas comunidades, uma política de genocídio da juventude negra, pobre e moradora das periferias das nossas cidades.

Como em muitas de nossas tradições de fé, a Vida é o dom, herança e legado mais precioso que contempla a existência intrínseca de todos os seres no universo. É por meio dela que “nos movemos e existimos”. Neste movimento, não é possível existirmos como indivíduos sem a garantia da liberdade e sem a garantia de uma vida segura.

Com as mortes do Cabula, percebemos que a grande mídia, os agentes de segurança, os governantes e os apresentadores transformam estes jovens, “sujeitos de direito”, em “elementos”. São jovens negros transformados em dados e estatísticas de combate ao “crime organizado”. Nesta ação policial, como em tantas outras, os jovens negros foram mortos em suas comunidades, junto às suas casas, perto de suas famílias e amigos.

A máxima volta a se mostrar tão real: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, abatida sob os altares, ruas e encruzilhadas sagradas da cidade de São Salvador. Sem salvação, porém, encontram-se nossos adolescentes e jovens brutalmente assassinados.

Nós, com distintas vivências de espiritualidade e sonhos de uma paz irmanada com a justiça, nos compadecemos com o povo negro baiano, tão sofrido e tão resistente, que neste momento presencia o desfalecer de suas famílias, o choro e o gemido que arrasta-se pelos cemitérios ao acompanhar os constantes funerais dos jovens filhos da terra.

Neste sentido, apontamos a necessidade de uma ampla e independente apuração dos assassinatos, com a presença do Ministério Público nas investigações; sinalizamos a emergência da aprovação do PL 4471/12 na Câmara dos Deputados, que coloca um fim nos “autos de resistência”; apontamos como horizonte fundamental a desmilitarização da segurança pública; e repudiamos o discurso do Governador da Bahia, Rui Costa, que apenas reforça e incentiva o racismo institucional e o genocídio da juventude negra, que estruturam os atuais modelos de polícia e de segurança, pois como falamos nestes dias junto a tantos movimentos: “o assassinato de 13 jovens não é Gol, é Chacina!”.

Brasil, 11 de fevereiro de 2015.

Aliança de  Batistas do Brasil
Associação Afro Cultural e Beneficente de Matriz Africana São Jerônimo – RS
CEBI – Centro de Estudos Bíblicos
Cese – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
Fórum Ecumênico ACT Brasil (FE ACT Brasil)
Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço
Mutirão: Espiritismo e direitos humanos
Pastoral da Juventude
Pastoral da Juventude do Meio Popular
Pastoral da Juventude Rural
REJU – Rede Ecumênica da Juventude
RENAFRO – Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
União da Juventude Anglicana do Brasil – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil/IEAB

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *