CESE divulga carta de repúdio ao assassinato de liderança indígena no Mato Grosso do Sul
A líder indígena Marinalva Manoel, de 27 anos, foi encontrada morta na manhã do último sábado (1º de novembro), às margens da rodovia BR-163, próximo a Dourados, Mato Grosso do Sul. Segundo o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), organização que defende os direitos indígenas, Marinalva esteve há 20 dias em Brasília, junto com uma comitiva, para contestar a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) referente à anulação do processo de demarcação da Terra Indígena Guyraroká.
A CESE manifesta sua indignação frente à situação dos indígenas e comunidades tradicionais.
Confira abaixo a carta da CESE em apoio aos Guarani-Kaiowá.
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Até onde suportaremos essas crônicas de mortes anunciadas?
A situação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul e a repetição de violência e assassinatos como a que acabou de ocorrer nas áreas dos Guarani-Kaiowá, agora com o sacrifício de uma de suas lideranças femininas – Marinalva Manoel, de apenas 27 anos, é o retrato do grau insuportável de violência e impunidade que tristemente se naturaliza, pela teimosia dos povos originários que apenas querem viver do seu jeito em suas próprias terras.
A brutalidade de seu assassinato a facadas, em uma estrada próxima a Dourados, apenas 15 dias depois de ter participado de ato de protesto junto ao STF pela não homologação da Terra Indígena Guyraroká, é sintomática das represálias para quem ousa alterar a lógica “modernizante” do agronegócio. Marinalva lutava pela demarcação da Terra Indígena de Ñu Verá e integrava o Grande Conselho Guarani-Kaiowá da Aty Guasu – principal articulação desses povos.
Ironicamente, a CESE esteve semana passada na região onde vivem os Guarani-Kaiowá, e também com os Tupinambá de Serra do Padeiro, sul da Bahia, duas realidades que considera prioritária em sua missão de afirmar a vida e o respeito aos Direitos Humanos. A necessidade de fortalecer organizações populares no Centro Oeste é imperativo pela gravidade de violações aos direitos dos povos indígenas e de outras populações tradicionais que secularmente vivem naquela região. A assessora de projetos e formação da CESE, Olga Matos, voltou otimista com as boas práticas no campo da agroecologia que viu por lá e o ânimo das comunidades tradicionais, a despeito do quadro de tensão e violência permanente. Avalia que há um misto de corresponsabilização dos governos locais e instâncias federais, seja do Judiciário ou do Executivo, especialmente pela omissão do Ministério da Justiça, fato que se repete também em outros casos e na Terra Indígena Tupinambá, cuja Portaria Declaratória, há meses dormita em suas gavetas para ser assinada.
A CESE historicamente tem se solidarizado com os direitos dos povos indígenas, quilombolas e demais populações tradicionais. Neste momento de transição governamental, chama a atenção dos órgãos e ministros do Executivo e do Judiciário a se colocarem ativamente na mediação do conflitos e superação do quadro de impunidade, acelerando a responsabilidade dos mandantes e executores que martirizaram Marinalva Manoel na sua luta pela Terra Sem Males, onde não haveria doenças, nem fome, nem guerras.
Salvador, 05 de novembro de 2014
Cordenadoria Ecumênica de Serviço