Nora Cortiñas participa da Jornada de Direitos Humanos e Democracia

A cofundadora da Associação Mães da Praça de Maio, da Argentina, Nora Cortiñas, esteve em Salvador, Bahia, de 11 a 17 de julho, quando participou da Jornada de Direitos Humanos e Democracia. Durante esses dias, a defensora de direitos humanos esteve com uma agenda de trabalho junto aos movimentos sociais de Salvador e recebeu várias homenagens como reconhecimento e reverência a sua história de vida e de luta.

Por toda sua atuação em defesa dos direitos humanos, Nora Cortiñas é uma referência para movimentos sociais de todo continente latino-americano. Sua história de luta, em busca de seu filho Gustavo, desaparecido na ditadura da Argentina, tornou-se a história de luta também de muitas mães. Juntas, elas iam até a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, residência do Governo, exigir respostas, dando voltas com seus lenços brancos, anunciando que nunca iriam desistir de procurar por seus filhos. Nascia assim, do inconformismo de Nora e das outras mães, o movimento das Mães da Praça de Maio. Até hoje, todas as quintas-feiras, as “madres” vão à praça para reivindicar justiça.

A atividade foi uma realização da rede Jubileu Sul Brasil, Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e Jubileu Sul/Américas. Conta com o apoio da ADUNEB, UNEB, UFBA/Pró-Reitoria de Extensão, MSTB – Guerreiras Sem Teto, CEAS, CESE, CÁRITAS Brasileira e Regional Nordeste 3, Pastoral da AIDS, SINDIPETRO, MST, LPJ, ODARA- Instituto da Mulher Negra, GTNM-BA, Quilombo Rio dos Macacos, AMACHA – Amigos da Chácara Santo Antonio, Vida Brasil, CPP e Movimento Médicos Pela Democracia.

Universalização da luta e poder da juventude: palavras de ordem que marcam o primeiro dia de Nora Cortiñas em Salvador

Devemos acreditar no poder de luta da juventude para reverter o conservadorismo e os retrocessos que ameaçam à democracia“, disse Nora Morales Cortiñas, uma das fundadoras do movimento argentino das Mães da Praça de Maio, na visita ao reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), João Carlos Salles, na tarde da última segunda-feira (11/07). Nora recordou o cenário de horror que viveu a Argentina durante o governo militar, quando muitas crianças foram retiradas de suas mães e muitas pessoas foram mortas e torturadas nas prisões. Ela também chamou atenção para as dificuldades por que passa a Argentina e toda a América Latina.

O reitor concordou que o Brasil e a América Latina de uma maneira geral sofrem com o crescimento de uma onda conservadora e que, neste momento, “é importante louvar os bons exemplos que dão força para lutar”.

Crédito: Alan Lustosa

Crédito: Alan Lustosa

crédito: Alan Lustosa

No encontro com Mãe Stella de Oxóssi, Iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá, Nora Cortiñas falou sobre os objetivos da visita à capital baiana e sobre as mães que perdem seus filhos para a violência. A passagem de Nora pelo terreiro coincidiu com o calendário festivo da Casa, no dia em que homenageavam as mães, estabelecendo assim uma relação direta com a luta empreendida pela defensora dos direitos humanos. Das mãos da Iyalorixá, Nora recebeu um colar e participou da festa.

Movimentos se reúnem com Nora Cortina para diálogo sobre direito à cidade durante Jornada de Direitos Humanos e Democracia

Vocês vem pra cá porque vocês sabem que a gente não pode matar aqui. Mas a gente pega vocês aqui, leva pra lá [Subúrbio] e mata.” Essa foi uma das histórias que Nora Cortiñas (cofundadora da Associação Mães de Maio – Argentina) ouviu de Sandra Coelho, coordenadora estadual do Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB), durante visita a Ocupação IPAC III – Pelourinho (parte da programação da tarde desta terça (12) da Jornada de Direitos Humanos e Democracia). Com lágrimas nos olhos, a memória de Sandra volta ao momento em que fazia a ocupação de um prédio no centro há dez anos e recebeu a ameaça de uma sargento. A história revela a Nora a realidade de gentrificação do Centro Histórico de Salvador.

Sandra Coelho ainda reforçou durante a conversa o protagonismo das mulheres na luta por direito à moradia. “Somos nós que sentimos a força da bala, a gente que vai pra frente de polícia, pra frente da bala”. E emenda o hino: “Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher!”
A comitiva seguiu para o pátio da Igreja do Rosário dos Pretos para Roda de Diálogo com diversas organizações e movimentos sociais, como Levante Popular da Juventude, Odara – Instituto da Mulher Negra, Amacha – Amigos da Chácara Santo Antonio, Quilombo Rio dos Macacos, comunidade Guerreira Zeferina (mais conhecida como Cidade de Plástico). Um minuto de silêncio foi feito em homenagem a ex-ministra Luiza Bairros, liderança do movimento negro falecida nesta terça-feira (12).

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Nora Cortiñas fez a saudação inicial aos presentes e destacou a luta que a move: o desparecimento de seu filho Gustavo há 40 anos, durante a ditadura militar na Argentina. Maura Cristina (MSTB) faz uma ponte com a realidade soteropolitana, explicando o genocídio da juventude negra. “Como aconteceu com seu filho, mães aqui fazem a mesma coisa. Temos números de guerra”, explica a militante.

A escolha do local para a Roda, nesse sentido, não poderia ser mais apropriada, já que a Igreja simboliza a resistência do povo negro em Salvador.

Ana Paula Rosário, do Odara, exemplifica essa realidade de genocídio lembrando do assassinato dos 12 jovens no Cabula, que é vista como aceitável por parcela expressiva da população e visto como um “gol de placa” pelo governo do Estado (enaltecendo a atuação da Polícia Militar).

“Quem deveria nos proteger é quem nos mata”, atesta Nildes Sena do Amacha, acertando em cheio na frase para explicar o racismo no Brasil: “aqui é preciso entender que ser preto e branco faz diferença sim”.
Performances poéticas de movimentos e grupos culturais e mesa de café da tarde ainda marcaram a programação de terça (12) da Jornada de Direitos Humanos e Democracia com Nora Cortiñas.

Debate sobre direitos das mulheres e minorias marcaram a passagem de Nora Cortiñas pela UNEB

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“Sem justiça social não há paz”, enfatizou Nora Cortiñas em seu encontro com estudantes da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), na manhã de ontem, dia 13 de julho. A ativista de direitos humanos foi homenageada pela instituição e durante a sua conferência falou com os/as alunos/as sobre ditadura, política, direitos das mulheres e minorias.

O encontro contou com a interação dos jovens fazendo perguntas e comentários. A ativista os encorajou a ter uma atuação política e crítica. “Eu não entendia nada de política até antes do golpe de Estado na Argentina. Mas, ao me encontrar com as outras mães, foi uma aprendizagem para eu entender melhor a política e entender melhor o meu filho e os jovens que querem se dedicar à política e também à militância. Os jovens militam para mudar o mundo, são militantes da vida e da justiça social”, afirmou Nora.

Nora uneb 13-07 – iasmin santana – caritas materia

Nora criticou o governo do presidente Maurício Macri, no poder desde dezembro de 2015. “Nesse governo de direita neoliberal, vivemos um retrocesso social e econômico”, disse. Sobre a realidade brasileira, Nora considera que há um movimento de golpe de Estado. “Aqui no Brasil, nós acompanhamos o processo com Lula, com Dilma e víamos que o país vinha progredindo. Mas não há motivos para tirá-la como fizeram, com um golpe de Estado. De nenhuma maneira. Não aceitamos e repudiamos que tenham tirado uma presidenta constitucional, com um golpe de Estado”, enfatizou.

Sobre as mulheres, Nora ressaltou a importância de suas lutas, lembrando que além das perdas dos filhos para a violência, muitas ainda são vítimas do machismo e da violência. E ouviu atentamente o relato do professor do Departamento de Ciências da Vida da UNEB, Anderson Carvalho, que lembrou o caso das mães do Cabula, bairro que abriga um dos campi da UNEB, onde ocorreu uma chacina de jovens negros em fevereiro de 2015. Para ele, a vinda de Nora ao bairro ressalta a importância na continuidade da luta por justiça social. “Aqui nós tivemos a chacina do Cabula, que matou uma dezena de jovens e, no ano passado, tivemos campanhas de solidariedade às famílias, e obviamente, o que tem ocorrido neste ano, em relação à perseguição dos negros e LGBT. Nós aqui na universidade queremos abrir esse debate sobre a violência contra as minorias, e como podemos combater isso. A vinda de Nora traz essa inspiração”, disse o professor.

As reflexões sobre direitos humanos e justiça social continuaram também na parte da tarde, quando representantes de diversos movimentos e organizações sociais (Movimento dos Sem Terra – MST, Movimento Sem Teto da Bahia – MSTB, Jubileu Sul, Jubileu Sul Argentina, Rede Feminista de Saúde, Grupo Tortura Nunca Mais, Associação de Moradores e Amigos da Chácara Santo Antônio – AMACHA, Cáritas Regional NE3, ADUNEB e Mães pela Diversidade), do PSOL e de grupos de extensão da UNEB se reuniram para uma roda de conversa com Nora. Ela expôs sobre o contexto histórico na época da ditadura da Argentina e todas as consequências negativas desse período que perduram até hoje, como a falta de respostas sobre os desaparecidos, e o trabalho perseverante das Mães da Praça de Maio.

Se identificando com o relato de Nora, mulheres representantes da ADUNEB, do MSTB e da AMACHA deram depoimentos sobre as diversas situações de violações que sofrem diariamente professores/as, mulheres e jovens negros/as, LGBT, com atos de violência, principalmente da polícia, e o preconceito da sociedade. Nildes Sena, da AMACHA, expressou que existem muitas “Noras” aqui no Brasil e pediu “que sejamos respeitados independentemente das nossas escolhas”. Dona Rita, do MSTB, se solidarizou com Nora dizendo que a dor dela pelo desaparecimento do seu filho também é a dor das mulheres que estão perdendo seus filhos vítimas de assassinatos.

Participantes de outros movimentos e organizações também falaram sobre as ações que desenvolvem nos campos políticos e sociais na defesa da democracia e dos direitos humanos e o alerta para a necessidade de unificar as lutas, pois “a luta é de todos, mesmo que com bandeiras diferentes”, ressaltou Bete, representante do MST.

No final do encontro, todos e todas repetiram juntamente com Nora Cortiñas as palavras de ordem que as Mães de Maio usam quando de reúnem na praça, sendo uma delas: “Hay que seguir luchando”.

Nora Cortiñas participa de homenagem a mortos e desaparecidos políticos pela ditadura brasileira e plenária popular

Sigamos na luta. Agora e sempre venceremos”, enfatizou Nora Cortiñas, cofundadora da Associação Mães da Praça de Maio, da Argentina, em um ato público realizado na tarde de ontem, quinta-feira (14/07), no Campo da Pólvora, no monumento que homenageia os mortos e desaparecido políticos pela ditadura militar no Brasil. A atividade acontece dentro da programação da Jornada de Direitos Humanos e Democracia que acontece em Salvador (BA) até amanhã, dia 16.

O monumento aos baianos mortos e desaparecidos que tombaram na luta pela liberdade e contra a ditadura é uma obra do artista plástico baiano Ray Vianna. Nele estão gravados os nomes de 32 baianos que lutaram durante a ditadura.

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O ato reuniu militantes de movimentos sociais, dentre eles, muitos jovens que não viveram esse período de exceção do país (1964 – 1985), e familiares de vitimas da ditadura. “Lutamos em defesa da memória, da verdade e da justiça. Sabemos dos crimes de tortura e morte cometidos pelos militares, mas há ainda o crime de ocultação de cadáver, uma vez que muitas pessoas não tiveram os restos mortais de seus familiares desaparecidos por este regime”, disse Diva Santana, integrante do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM).

No encontro, Nora voltou a falar da força da luta, encorajando a todos. “Há muitas pessoas que estão sofrendo, mas não podemos perder a esperança. Essa memória reafirma o compromisso de seguir na luta. Ditadura e golpismo nunca mais. Argentina, Brasil, América Latina com independência, justiça, paz e povo feliz”, clamou a ativista.

E foi nesse clima que o grupo seguiu para outro espaço histórico de Salvador, o Forte do Barbalho. Esse local já foi usado para torturas de presos políticos e foi escolhido pelos/as organizadores/as da Jornada de Direitos Humanos e Democracia para simbolizar a superação de qualquer tipo de violação se apropriando do espaço para a realização de ações que sejam marcadas pela democracia, cultura, diversidade e resistência. E esse momento da Plenária Popular teve todos esses elementos, reunindo representações de diferentes religiões, movimentos e organizações sociais para se solidarizar com os povos latino-americanos contra todas as ditaduras, golpismos, ameaças e retrocessos democráticos atuais.

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