Movimentos se reúnem com Nora Cortina para diálogo sobre direito à cidade durante Jornada de Direitos Humanos e Democracia

“Vocês vem pra cá porque vocês sabem que a gente não pode matar aqui. Mas a gente pega vocês aqui, leva pra lá [Subúrbio] e mata.” Essa foi uma das histórias que Nora Cortiñas (cofundadora da Associação Mães de Maio – Argentina) ouviu de Sandra Coelho, coordenadora estadual do Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB), durante visita a Ocupação IPAC III – Pelourinho (parte da programação da tarde desta terça (12) da Jornada de Direitos Humanos e Democracia). Com lágrimas nos olhos, a memória de Sandra volta ao momento em que fazia a ocupação de um prédio no centro há dez anos e recebeu a ameaça de uma sargento. A história revela a Nora a realidade de gentrificação do Centro Histórico de Salvador.

Sandra Coelho ainda reforçou durante a conversa o protagonismo das mulheres na luta por direito à moradia. “Somos nós que sentimos a força da bala, a gente que vai pra frente de polícia, pra frente da bala”. E emenda o hino: “Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher!”
A comitiva seguiu para o pátio da Igreja do Rosário dos Pretos para Roda de Diálogo com diversas organizações e movimentos sociais, como Levante Popular da Juventude, Odara – Instituto da Mulher Negra, Amacha – Amigos da Chácara Santo Antonio, Quilombo Rio dos Macacos, comunidade Guerreira Zeferina (mais conhecida como Cidade de Plástico). Um minuto de silêncio foi feito em homenagem a ex-ministra Luiza Bairros, liderança do movimento negro falecida nesta terça-feira (12).

Nora Cortiñas fez a saudação inicial aos presentes e destacou a luta que a move: o desparecimento de seu filho Gustavo há 40 anos, durante a ditadura militar na Argentina. Maura Cristina (MSTB) faz uma ponte com a realidade soteropolitana, explicando o genocídio da juventude negra. “Como aconteceu com seu filho, mães aqui fazem a mesma coisa. Temos números de guerra”, explica a militante.

A escolha do local para a Roda, nesse sentido, não poderia ser mais apropriada, já que a Igreja simboliza a resistência do povo negro em Salvador.

Ana Paula Rosário, do Odara, exemplifica essa realidade de genocídio lembrando do assassinato dos 12 jovens no Cabula, que é vista como aceitável por parcela expressiva da população e visto como um “gol de placa” pelo governo do Estado (enaltecendo a atuação da Polícia Militar).

“Quem deveria nos proteger é quem nos mata”, atesta Nildes Sena do Amacha, acertando em cheio na frase para explicar o racismo no Brasil: “aqui é preciso entender que ser preto e branco faz diferença sim”.
Performances poéticas de movimentos e grupos culturais e mesa de café da tarde ainda marcaram a programação de terça (12) da Jornada de Direitos Humanos e Democracia com Nora Cortiñas.

Confira a programação da semana abaixo:

13/07 – quarta-feira
9h – Universidade Estadual da Bahia
Cabula – Encontro e entrega de comenda Honoris Causa a Nora Cortiñas
14h – Cabula – Roda de Conversa promovida pela Aduneb com participação de movimento de mulheres
14/07 – quinta-feira
13h30 – Campo da Pólvora – Homenagem às vítimas das ditaduras
15h30 – Forte Barbalho – Plenária Popular
15/07 – sexta-feira
Dia livre
16/07 – sábado
8h30 às 9h30 – Encontro com as Pastorais Sociais o Convento São Francisco (Pelourinho)
17/07 – domingo
Retorno para Argentina

A atividade é uma realização da rede Jubileu Sul Brasil, Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e Jubileu Sul/Américas. Conta com o apoio da ADUNEB, UNEB, UFBA/Pró-Reitoria de Extensão, MSTB – Guerreiras Sem Teto, CEAS, CESE, CÁRITAS Brasileira e Regional Nordeste 3, Pastoral da AIDS, SINDIPETRO, MST, LPJ, ODARA- Instituto da Mulher Negra, GTNM-BA, Quilombo Rio dos Macacos, AMACHA – Amigos da Chácara Santo Antonio, Vida Brasil, CPP e Movimento Médicos Pela Democracia.

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