Ato inter-religioso em defesa da democracia lota museu no Pelourinho

Cerca de 150 pessoas se reuniram na noite de quarta-feira (24), em Salvador (BA), no ato inter-religioso em defesa da democracia e pela vida. A atividade aconteceu no Museu Eugênio Teixeira Leal, no Pelourinho, e teve como objetivo o diálogo com lideranças de diversas religiões em torno dos rumos do Brasil nessas eleições e nos próximos períodos, com foco na defesa das liberdades democráticas e da vida.

Para a mesa de reflexão coletiva estiveram presentes representações de designações religiosas do Protestantismo, Candomblecismo, Espiritismo, Catolicismo, Hare Krishna, lideranças indígenas, entre outras confissões de fé.

Olhando para a diversidade do público presente, Marcus Rezende, do Coletivo de Entidades Negras, avalia que o ato tem significado histórico. “As diversas denominações religiosas estão aqui irmanadas dizendo não ao ódio e sim aos verdadeiros princípios democráticos. Demonstrando, assim, que a civilidade e o respeito à diversidade há de vencer a barbárie”.

Sobre o cenário político brasileiro, em que supostos argumentos religiosos são usados para fundamentar práticas de intolerância, o pastor Israel Gonzaga, da Igreja Batista Adonai, retoma os ensinamentos cristãos. “Os evangélicos esqueceram quem é Jesus. Esqueceram que toda vez que Jesus encontrou com ricos, pediu que doassem seus bens. Para Jesus não cabe homofobia, racismo, perseguição, apoio à tortura. A máxima de Jesus é que aquele que não conhece a Deus, não conhece o amor”.

Em nome da fé, decisões políticas também vem sendo tomadas por representantes de cargos públicos, ferindo o princípio da laicidade do Estado. A pastora da Igreja Anglicana, Bianca Daebs, ressalta que Estado e Religião não devem se misturar, para que assim sejam garantidos os direitos de todos os cidadãos e cidadãs brasileiros (as), independentemente de sua cor, raça, religião e orientação sexual. “A religião é de foro íntimo, a justiça não. Se um candidato chega e usa credencial de ser cristão ou de outra religião, eu recomendo: ‘desconfie dele’”, adverte Bianca, que também integra o Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs.

Representações da ancestralidade africana e de povos originários também se fizeram presentes e rememoraram como esse quadro atual de aumento dos ódios, retrocessos e violações de direitos já os atingem há séculos. “O racismo está aí, o golpe foi contra nós e tudo que está acontecendo aí é contra nós, eu sinto no meu lombo, é contra mim, contra algo que começou a consertar essa nação”, destaca Makota Valdina. O indígena Pataxó Jeiry aponta que essa guerra vem sendo traçada silenciosamente nas comunidades indígenas. “Vá nas comunidades ver como estamos sendo  massacrados. Temos resistido para existir. E é muito importante que percebam que hoje estamos vivendo  mais uma etapa do processo de colonização. Nós indígenas estamos em marcha e quero que os senhores venham conosco!”, conclama o Pataxó.

Diante das reflexões e trocas da mesa, apresentações culturais, e contribuições do público presente, a espírita Isabel Guimarães ressalta que a união entre as religiões no cenário de ameaças do Estado de direito é fundamental.  “E um ato como esse pode ser o começo da superação de rivalidades que não combinam com as propostas de amor das religiões. Para construir minha casa não preciso destruir a casa do outro”, avalia.

O ato foi encerrado com mística, velas e canções que ecoaram pelas ruas do Centro Histórico, em homenagem ao capoeirista, compositor e ativista cultural, Mestre Moa do Katendê (assassinado após o 1° turno das eleições, vítima da intolerância e do ódio, por um eleitor de Bolsonaro).