14 de março: Dia Internacional de Luta contra as barragens, pelos rios, pelas águas e pela vida

Todos os anos, o Movimento dos Atingidos e Atingidas  por Barragens – MAB  organiza uma série de ações relacionadas ao dia 14 de março.  A data é bastante importante e simbólica na trajetória dos atingidos e atingidas por barragens no Brasil. É um dia de luta, em defesa da vida e dos direitos, para que exista uma justa reparação a todas as famílias vítimas de crimes cometidos pelas empresas e pela falta de políticas governamentais adequadas.

Em Salvador, a Exposição “Arpilleras: Bordando a Resistência” e a Roda de Diálogo: ‘’ O preço da Luz é um roubo: o impacto da conta de luz na vida das mulheres’’ abriram as atividades da semana.

Roda de Diálogo

O tema da roda diálogo, que acontece na última quinta(12) na CESE,  faz parte de uma campanha promovida pela MAB que denuncia o modelo energético brasileiro e os preços abusivos das tarifas, que só aumentam a cada dia.  Segundo o MAB, o governo Bolsonaro está com um projeto para privatizar a Eletrobras e, com isso, permitir que as 48 hidrelétricas revejam os preços e passem a cobrar ainda mais caro os serviços.  Atualmente, dezenas dessas usinas vendem energia por R$ 50/1.000 kWh. Após a privatização, o governo vai liberar para que seja cobrado o chamado “preço de mercado”, na faixa de R$ 250/1.000 kWh. Este aumento será repassado para as contas de luz da população.

Para Cleidiane Barreto, moradora da comunidade de Praia, município de Correntina (BA), o Brasil possui um modelo energético perverso que viola todos os direitos da população: “Quando afirmamos que o preço da conta de luz é um roubo, porque os lucros as empresas são exorbitantes e quem paga isso são os/as trabalhadores/as. Nos baseamos em empresas internacionais que produzem energia através do carvão, e a matriz energética do Brasil é gerada através da água. Para produção de energia gasta-se R$9,50 por 1.000 kWh de energia, mas compramos por R$860,00. Se privatizar, vai piorar. ”, afirma a integrante do movimento.

Aos agricultores e agricultoras, o fim dos subsídios ( tarifa social) causará aumentos acima de 40% nos próximos cinco anos. O governo já autorizou o aumento da tarifa de energia elétrica a todos os 4,5 milhões de consumidores rurais. A medida entrou em vigor em janeiro do ano passado. Com isso, a população rural será obrigada a pagar o mesmo patamar de tarifa dos consumidores urbanos. Antes da mudança, uma família no campo pagava em média 60% em comparação à tarifa urbana. Com a retirada total do subsídio, haverá impacto também no aumento do preço dos alimentos ao povo da cidade. Outra ação que está na mira do governo e das empresas de energia é o encerramento da Tarifa Social de Energia Elétrica para os consumidores de baixa renda. Se isso ocorrer, cerca de 9 milhões de famílias em todo território serão afetadas.

A Construção de Barragens e o impacto nos territórios

Cleidiane chama atenção que desde o processo de instauração de barragens para produção de energia até a cobrança de tarifas abusivas, decretos e as possíveis privatizações, são as mulheres que sofrem diretamente as consequências: “Quando se inicia um processo de construção de barragem, as mulheres são atingidas por vários fatores, primeiro é o trabalho invisibilizado, porque o que é colocado em questão é o que se gera lucro e nos processos de indenização já se retira as mulheres pela divisão sexual do trabalho. Segundo é a violência patrimonial, se há uma indenização é pela terra, e normalmente não está no nome das mulheres. “. E completa: “As decisões que são tomadas em gabinetes sem a participação das mulheres rebate diretamente na cozinha, no cuidado com as casas. As mulheres vão trabalhar o dobro para conseguir comprar o gás, pagar a energia. ”

É diante do grande impacto no bolso da população, para lutar contra esses abusos e não deixar que a conta de luz aumente ainda mais, que MAB retoma a campanha nacional “O preço da luz é um roubo”. O movimento está debatendo e coletando autodeclarações contrárias aos aumentos e retiradas de subsídios, e organizando mobilizações conjuntas em todos estados.

A Exposição

O MAB, através de seu Coletivo Nacional de Mulheres traz a Salvador a mostra “Arpilleras: Bordando a Resistência”, um recorte das graves violações sofridas pelas mulheres, nas grandes obras que sangram rios e pessoas no Brasil.  Cada peça exposta traz, de maneira artística, criativa e contundente, o testemunho diante da destruição de laços comunitários, a violência contra a mulher, a ausência de políticas públicas, o abuso no preço de luz e outras violações, que são temas comuns que permeiam a vida de todas as mulheres. A exposição conta com apoio cultural da CESE, IPAC e do Museu de Arte da Bahia.

Isislaila, da comunidade de Brejo de Dentro, município de Centro Sé (BA), é uma das atingidas que expressa através da técnica têxtil das arpilleiras as violações direitos sofridas pelas mulheres de sua comunidade. Isislaila conta como conheceu a técnica e a importância do trabalho: “Nunca tinha costurado na vida. Peguei em uma agulha através da técnica das arpilleiras que foi apresentada para o grupo de mulheres. A partir disso juntamos aquelas que tinham determinadas habilidades de corte, costura, de fazer pontinhos e formamos a arpilleira da comunidade. Nesse trabalho, que é coletivo, colocamos as violações e nossas lutas. “.

Na década de 70, Isislaila e sua família foram atingidas pela Barragem de Sobradinho. Houve expulsão da propriedade, sem direito a indenização. Hoje, a atingida mora em uma comunidade de Fundo e Fecho de Pasto com mais 260 famílias, e denuncia nas peças os problemas enfrentados na localidade como o direito de ir e vir, a questão da saúde e o acesso aos meios de comunicação: “ O acesso para a comunidade é muito ruim, quando chove passa um riacho no meio da via e a gente fica impossibilitada de transitar. Também ficamos a 150 km de distância de posto de saúde. E como Brejo de Dentro pertence ao município de Centro Sé não somos atendidas em Sobradinho. Tudo isso que a gente passa e sente é demonstrado nas peças.”, conta a integrante do MAB.

Filme “Arpilleras: Bordando a Resistência” e Oficina de Bordados

Outras ações também acontecerão no Museu de Arte da Bahia nesse período.  Na sexta (13), às 17h30, será exibido o filme Arpilleras: Atingidas por Barragens Bordando a Resistência”. Nos dias 19 e 21 de março (quinta e sábado), às 14h, haverá oficina de bordados.

Entrada gratuita.