
Movidas pelos saberes tradicionais, pela fé, acolhimento e força da comunidade,
cerca de 70 mulheres de Salvador e diversos municípios baianos se reuniram em maio deste
ano para o Encontro Ancestralidade e Movimento. Organizado pelo Coletivo Ìyá Àkobíode,
o evento, apoiado pela CESE, reuniu participantes de diferentes contextos e vivências que
atuam na linha de frente do cuidado, educação, saúde, da espiritualidade e resistência em
suas comunidades e buscou fortalecer as redes de afeto e luta entre elas.
“A ideia do seminário nasce da articulação do projeto Ìyá Àkobíode – Mulheres que
Transformam, que reconhecem a potência das mulheres como lideranças em seus territórios e
propõe a valorização dos saberes ancestrais como instrumento de transformação social”,
explica Danielle Felício, coordenadora-geral do coletivo.
De acordo com Danielle, a proposta do encontro surgiu como uma resposta à
necessidade de criar um espaço de escuta, formação e fortalecimento entre mulheres
comprometidas com a justiça, enfrentamento ao racismo religioso e à intolerância, além da
construção de redes de solidariedade. Nesse sentido, a atividade tocou em diversas
dimensões das vivências das participantes, como a política, social, espiritual e pedagógica.
“O evento possibilitou o encontro entre diferentes experiências de luta, mas também
de cura, afeto e reconstrução de vínculos comunitários”, ressalta.
Território de saberes, diálogos de resistência

Ao longo de dois dias, a programação contou com espaços de imersão e mesas de
debates em temas como saúde dos povos de terreiro, gênero, diversidade e combate à
LGBTfobia religiosa, educação, ancestralidades e religiosidades. Ao reunir diferentes
trajetórias e saberes, Danielle destaca que o seminário proporcionou trocas que reafirmam
identidades plurais, fortalecem o empoderamento feminino e celebram a ancestralidade
como força política e espiritual.
“As mesas temáticas e oficinas promovem capacitação, autocuidado e circulação de
conhecimento, incentivando a autonomia econômica, a autoestima e a construção de redes
de apoio. Dessa forma, o projeto atua diretamente no empoderamento das mulheres, no
fortalecimento de suas comunidades e na visibilidade de suas lutas cotidianas”.
As atividades foram realizadas no terreiro Axé Abassá de Ogum, sede do coletivo, o
que contribuiu ainda mais com a força do encontro. Para a coordenadora, a realização do
seminário nesse espaço reafirma os terreiros como espaços vivos de resistência,
espiritualidade e saber, onde o cuidado com o outro é princípio fundante.
“A atividade possibilita o reconhecimento da importância dos povos de terreiro
como agentes históricos de enfrentamento às opressões, fortalecendo vínculos entre
mulheres, territórios e lutas comuns. É também um espaço de visibilidade, onde os modos
de viver, curar, ensinar e criar são legitimados como formas legítimas de conhecimento e
resistência”, salienta Felício.
Espaço de reinvenção da vida
Para o coletivo, o balanço do evento foi positivo e simbólico. Mais do que um lugar
para denunciar as múltiplas violências que atravessam os corpos e direitos das mulheres,
Danielle salienta que o seminário foi um território de partilha de estratégias de resistência,
cuidado e reinvenção da vida.
“Ao lado das mesas temáticas, os momentos de alimentação partilhada, escutas
coletivas e vivências culturais criaram um ambiente seguro onde as participantes puderam
se fortalecer mutuamente, reconhecendo-se como sujeitas ativas de transformação”,
explica.
Nesse sentido, a coordenadora ressalta a importância do apoio da CESE para
viabilizar o projeto, tanto em relação ao aspecto financeiro quanto no reconhecimento
institucional da iniciativa.
“A parceria com a CESE reafirma a importância de fomentar iniciativas lideradas
por mulheres negras, de terreiro e periféricas, que constroem resistência a partir da
ancestralidade e do cuidado coletivo. Mais do que um apoio pontual, a presença da CESE
fortalece uma rede de solidariedade comprometida com a justiça social e a equidade”, afirma.
Desde a sua fundação, a CESE definiu o apoio a pequenos projetos como a sua principal estratégia de ação para fortalecer a luta dos movimentos populares por direitos no Brasil.
Programa de Pequenos Projetos
Quer enviar um projeto para a CESE? Aqui uma lista com 10 exemplos de iniciativas que podem ser apoiadas:
1. Oficinas ou cursos de formação
2. Encontros e seminários
3. Campanhas
4. Atividades de produção, geração de renda, extrativismo
5. Manejo e defesa de águas, florestas, biomas
6. Mobilizações e atos públicos
7. Intercâmbios – troca de experiências
8. Produção e veiculação de materiais pedagógicos e informativos como cartilhas, cartazes, livros, vídeos, materiais impressos e/ou em formato digital
9. Ações de comunicação em geral
10. Atividades de planejamento e outras ações de fortalecimento da organização
Clique aqui para enviar seu projeto!Mas se você ainda tiver alguma dúvida, clica aqui.