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Reverberar lutas, contar histórias, expressar arte, mobilizar o povo. Esses são alguns dos objetivos que levaram o Grupo de Mulheres do Alto das Pombas (GRUMAP) a investir na comunicação como ferramenta estratégica do seu trabalho. Nascida no Alto das Pombas, bairro popular de Salvador (BA), a GRUMAP carrega a missão de contribuir com o combate ao racismo estrutural a partir da implementação do Projeto Político do Bem Viver. Para isso, conta com dois importantes instrumentos de diálogo: o jornal impresso e o podcast Comunica GRUMAP. Em 2025, além de promover debates educacionais e divulgar ações locais do coletivo, esses canais de comunicação também têm um importante papel: fortalecer a mobilização e articulação para a Marcha das Mulheres Negras de 2025.

Com mais de quatro décadas de existência, o Grupo de Mulheres do Alto das Pombas é uma organização de referência no movimento negro pela sua história e compromisso com a luta popular. Em meados de 2018, no entanto, o coletivo avaliou que, apesar do grande volume de atividades e ações realizadas, a visibilidade institucional e sua presença nas redes digitais ainda era pequena. A partir dessa reflexão e do entendimento do papel político e pedagógico da comunicação, o grupo começou a investir mais nos seus canais informativos e formativos, o que levou ao surgimento do jornal e podcast Comunica GRUMAP.

“A GRUMAP encarou a comunicação como campo estratégico para falar para dentro e para fora e, sobretudo, adotou a perspectiva da comunicação como processo educativo. Não basta comunicar por comunicar. A comunicação é também processo formativo para quem produz a comunicação e para quem a consome”, explica Jucélia Ribeiro, educadora da GRUMAP e integrante da Comissão de Projetos.

Comunicação de referência

De acordo com Jucélia, o jornal Comunica GRUMAP se tornou o principal veículo de comunicação da comunidade do Alto das Pombas e o podcast é um dos veículos através do qual o coletivo difunde o conteúdo do jornal e outras ações realizadas. “Ambos são vistos como instrumentos de legitimidade política para acesso a conteúdos, narrativas, história, lutas e conquistas das mulheres negras e do povo negro”, ressalta a educadora.

 A produção do jornal impresso é bimensal, com 1000 tiragens por edição. A distribuição é realizada considerando os públicos de potencial mobilização para o grupo, como escolas, paróquia, terreiro de candomblé, salões de beleza da comunidade, além das oficinas, reuniões e encontros organizados ou com representação da GRUMAP. Mesmo com o grande alcance que as iniciativas digitais trazem, Jucélia explica que a prioridade para o movimento ainda é estabelecer uma comunicação efetiva e afetiva com as mulheres do próprio território.

“Para isso, todo texto escrito e/ou gravado, imagem escolhida, poema e poesia, versos e prosa, música, fotos, precisam comunicar pensamentos e sentimentos afrorreferenciados, valores éticos, responsáveis”, salienta.

A educadora também destaca a relevância do apoio da CESE para a produção dos materiais, tanto pelo fortalecimento institucional da GRUMAP quanto pela credibilidade que a entidade traz para os produtos desenvolvidos pelo grupo.

“O apoio da CESE  tem sido de fundamental importância para essa ação da GRUMAP, uma vez que o nome “CESE”, estampado no jornal como instituição apoiadora, oferece ainda mais confiança e credibilidade de que a produção do jornal é feita por um coletivo responsável e respeitável. O apoio também contribui para o fortalecimento institucional da GRUMAP, pois fornece recursos que ajudarão o coletivo de mulheres a se manterem em mobilização política”.

Anúncio de um novo mundo possível

Um dos desafios da GRUMAP neste ano é a mobilização para a participação das mulheres do território na Marcha das Mulheres Negras. Com a expectativa de levar um milhão de mulheres às ruas de Brasília (DF), movimentos e entidades negras de todo o país estão se desafiando a construir essa grande jornada de formação, organização e luta. Para a GRUMAP, os instrumentos de diálogo produzidos pelo grupo assumem um papel central nesse processo.

“O jornal e podcast, como ferramentas de comunicação estratégica, são os veículos utilizados para tornar a Marcha das Mulheres Negras um evento conhecido por todas as mulheres negras, através da leitura e escuta das informações importantes sobre a mobilização. Através desses veículos de comunicação, as instituições apoiadoras da GRUMAP, bem como outros coletivos de mulheres são convidados a se inteirar sobre os propósitos da Marcha e as demandas na luta das mulheres”, explica Jucélia.

Inspiradas pelas suas mais velhas, com muita coragem e criatividade, as mulheres da GRUMAP seguem trilhas ancestrais em defesa da educação, reparação e Bem Viver. A partir da comunicação, elas não apenas denunciam, divulgam ou mobilizam, mas expressam, em essência, o horizonte da nova sociedade pela qual tanto lutam.

“Como produtoras de conteúdos e de comunicação, as mulheres negras da GRUMAP anunciam um outro mundo possível. Os horizontes da nossa comunicação são a propagação do Bem Viver, da Reparação e Autorreparação históricas, com justiça racial e social”, finaliza a educadora.