Suraras do Tapajós tomam a frente na luta contra as mudanças climáticas

A não demarcação de terras indígenas, a expansão do agronegócio, da grilagem de terra e queimadas são alguns dos elementos que afetam diretamente a existência dos povos, dos territórios indígenas e ecossistemas de Santarém, cidade localizada no oeste do Estado do Pará. O cenário torna-se ainda mais desafiador aos direitos socioambientais por a região abrigar o maior aquífero de água potável do mundo, em Alter do Chão.

Diante deste contexto, colocou-se a necessidade emergente do fortalecimento da luta indígena. As guerreiras tomaram a frente na defesa de seus territórios a partir de 2016 com a criação de um coletivo e depois da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós. A organização atualmente é formada por um grupo de aproximadamente 30 mulheres indígenas pertencentes a diferentes etnias, com o objetivo de combater a violência contra a mulher indígena e o racismo, promovendo o acolhimento e o fortalecimento da autoestima, contribuindo para o empoderamento econômico e político, na defesa de seus territórios.

A estrutura racista e machista que fundamenta a sociedade brasileira discrimina e oprime as mulheres indígenas, em razão de seu gênero, raça, classe e religiosidade, aponta Estefane Galvão, diretora de Gênero e Clima da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós. “As mulheres já são colocadas em segundo lugar na sociedade, ainda mais quando são mulheres indígenas (mesmo sendo necessárias com seus saberes tradicionais e ancestrais). Ainda que tenham experiências em seus territórios, não são levadas para o debate político e não são ouvidas”, denuncia Estefane. “Hoje poucas mulheres ocupam cargos de tomada de decisões. Precisamos estar inseridas cada vez mais nesses espaços”. 

A partir dessa reflexão, a organização enviou projeto para a CESE e teve a iniciativa “Clima de ação: educação climática e incidência política para a proteção territorial” apoiada pelo Programa de Pequenos Projetos.

Implementado em 2024, a proposta teve como objetivo desenvolver formações para ampliar a participação efetiva de mulheres e jovens indígenas da região na pauta climática visando ao fortalecimento, à proteção territorial e ampliação da incidência desse grupo social em espaços de tomada de decisão e conferências.

Durante agosto e setembro, foram realizadas formações semanais em educação climática com palestrantes que atuam com os temas que envolvem educação climática, a partir de três pilares: advocacy, comunicação e ativismo. Ao longo das formações, houve simulações de ações e estratégias de incidência em conferências, além da criação de documentos para atuação em advocacy. 

“Hoje vejo uma rede de mulheres formada que surgiu ali e elas seguem fazendo trabalhos no território que lutam pela proteção e contra os ataques e pressões que vem sofrendo”, orgulha-se Estefane. “Isso de fato é colocar as mulheres em espaços que muitas das vezes não são disponíveis, causando rupturas com a sociedade que  está acostumada com a masculinidade branca fazendo o que bem quer, sem ninguém poder parar as destruições que eles ocasionam a territórios, comunidades, cidades e países”.

A representação das Suraras ainda reforça a importância das lutas das mulheres no combate às mudanças climáticas, já que, ao cuidarem das suas famílias e território, são elas que primeiro percebem o sofrimento de suas comunidades e plantações com o avanço dessas transformações.

Programa de Pequenos Projetos

Desde a sua fundação, a CESE definiu o apoio a pequenos projetos como a sua principal estratégia de ação para fortalecer a luta dos movimentos populares por direitos no Brasil.

Quer enviar um projeto para a CESE? Aqui uma lista com 10 exemplos de iniciativas que podem ser apoiadas:

1. Oficinas ou cursos de formação

2. Encontros e seminários

3. Campanhas

4. Atividades de produção, geração de renda, extrativismo

5. Manejo e defesa de águas, florestas, biomas

6. Mobilizações e atos públicos

7. Intercâmbios – troca de experiências

8. Produção e veiculação de materiais pedagógicos e informativos como cartilhas, cartazes, livros, vídeos, materiais impressos e/ou em formato digital

9. Ações de comunicação em geral

10. Atividades de planejamento e outras ações de fortalecimento da organização

Clique aqui para enviar seu projeto!Mas se você ainda tiver alguma dúvida, clica aqui.