
Nos dias 28 e 29 de agosto, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço(CESE) promoveu em Salvador o encontro “Partilhando colheitas, saberes e trajetórias na regularização fundiária de comunidades quilombolas”. Realizado em parceria com a Coordenação de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), a atividade reuniu parceiros, representantes de organizações estaduais quilombolas, do poder público, de universidades e de territórios quilombolas para compartilhar experiências, discutir desafios e propor caminhos coletivos para avançar na garantia dos direitos territoriais.
A programação do seminário, que compõe o projeto Otun, contou com análise de contexto e panorama do segmento quilombola no país e também ressaltou as estratégias de permanência desses povos nas suas comunidades. Com a força e a ancestralidade daqueles que vivem há séculos nos seus territórios, e no enfrentamento aos racismos (fundiários, ambientais e outros), o encontro trouxe histórias de luta, resistência, mas também de sonhos e esperança pelo reconhecimento de seus direitos.
“Para mim, foi um encontro bonito, forte, que mostrou a força do povo quilombola e seus parceiros na luta pelo direito à existência”, destaca Marcella Gomez, assessora de projetos e formação da CESE.
Além disso, foram trazidas propostas para o enfrentamento de desafios centrais para a garantia do direito constitucional aos territórios quilombolas, como, por exemplo, da morosidade e burocracia do Estado quanto às questões envolvendo sua regularização. Diante do racismo estrutural que é transversal a esses problemas, Marcella Gomez salienta que a luta dos povos quilombolas é também uma luta por justiça racial.
“Se falando de Brasil, um país que traz na sua estrutura e centralidade o seu cunho racista, falar de direito à terra e território a partir dos povos quilombolas é falar sobre reparação”, aponta Marcella.
Outros temas de destaque apontados pelos participantes foram a violência nos territórios, os conflitos socioambientais e seus impactos no seu modo de vida, além dos desafios enfrentados pelas comunidades quilombolas diante das mudanças climáticas, sobretudo no que refere a segurança e soberania alimentar. Destaque para o protagonismo das mulheres na defesa das comunidades, a potência do diálogo geracional e o papel das juventudes no fortalecimento das pautas de luta. Com isso, é da resistência coletiva que brota a força para continuar reivindicando justiça, direitos e territórios protegidos aos povos quilombolas.
“O encontro tem essa potência porque ele conseguiu envolver diversos segmentos a partir da pauta da regularização fundiária dos segmentos quilombolas, mas também pode dialogar com outras temáticas tão importantes e caras para todos nós”, finaliza Marcella Gomez.
O assessor de projetos e formação da CESE, Carlos Eduardo Chaves, ressaltou: “Incorporando o conceito dos ensinamentos de Nêgo Bispo, de uma temporalidade não linear, mas circular, com ”começo, meio e começo”, o seminário trouxe experiências diversas pautadas na ancestralidade e na força de uma juventude quilombola aguerrida e atuante, com foco em oportunidades para continuar no caminho de soluções para as diversas crises que atingem suas comunidades e exigem avanços na titulação de seus territórios tradicionais”.