Fortalecer a identidade cultural, promover autonomia financeira e ampliar a coesão comunitária foram alguns dos objetivos que levaram as mulheres Paumari, no Amazonas, a desenvolverem o projeto “Gamu Kabadani Hida – Esse é o trabalho das mulheres Paumari”. A partir de trocas de saberes nas comunidades e intercâmbios culturais, a iniciativa buscou contribuir na capacitação técnica das indígenas, sobretudo no artesanato tradicional, para fortalecer a geração de renda, auto-organização e empoderamento das mulheres nos seus territórios.
Situadas nas Terras Indígenas Paumari do Cuniuá, Lago Paricá e Lago Manissuã, no município de Tapauá, as mulheres Paumari das aldeias Xila, Terra Nova, Patauá, Capanã, Colônia, Abaquadi e Manissuã, que compõem um grupo de cerca de 60 pessoas, desempenham um papel essencial na preservação e valorização da cultura Paumari através do artesanato tradicional. No entanto, o preconceito, a falta de valorização e a dificuldade de ocupar outros espaços nas suas comunidades limitavam o potencial do coletivo. Percebendo esse cenário e buscando ampliar seus horizontes, as mulheres decidiram construir o projeto, não apenas para fortalecer sua atuação dentro e fora do território, como também para contribuir na preservação da cultura do seu povo.

“A ideia do projeto partiu do desejo coletivo das mulheres Paumari do rio Tapauá em melhorar a sua organização interna, entender como é possível gerar renda com as cestarias da cultura, de como valorizar a cultura Paumari. Assim, pensamos que seria uma boa alternativa realizar um intercâmbio com outras organizações de mulheres indígenas que trabalham com produção de artesanato coletivamente”, explica Ana Paula Paumari, presidente da Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA), entidade que representa as mulheres Paumari.
Novos horizontes para mais autonomia
Entre agosto de 2024 e janeiro de 2025, o projeto realizou diversos encontros entre as anciãs, mulheres e jovens das Terras Indígenas Paumari do Rio Tapauá. Durante as reuniões, as mulheres mais velhas, experientes na arte do teçume Paumari, ensinaram técnicas de tecelagem às mais jovens, contribuindo na preservação e continuidade desse conhecimento ancestral.
Além disso, um grupo de mulheres das T.I participaram de um intercâmbio cultural em Manaus (AM) para conhecer outras experiências de trabalho, como o da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM), entidade que é referência no trabalho de fortalecimento da autonomia e melhora da qualidade de vida das mulheres. Na capital amazonense, elas também puderam visitar lojas de artesanato para conhecer a realidade do mercado local, ampliando as possibilidades de parceria do coletivo.


Para Ana Paula, as trocas de experiência foram muito importantes para o crescimento do grupo. “O projeto pôde fortalecer a ancestralidade, saberes e a força da mulher Paumari porque pudemos adquirir mais conhecimento, conhecimento de outros mundos, para que possamos valorizar o nosso”, salienta.
Ao fortalecer a auto-organização das mulheres indígenas, o projeto também contribui para a ampliação da sua capacidade de participação nas decisões comunitárias e nas atividades mistas do território. Além disso, a capacitação em técnicas tradicionais do artesanato também é central para a difusão e preservação do legado cultural do povo Paumari, sendo também uma fonte de renda para as famílias.

Para Ana Paula, o projeto, que contou com apoio da CESE, e financiamento da União Europeia no âmbito do Patak Maymu, teve um importante papel para a visibilização do trabalho do coletivo, possibilitando também que elas pudessem comprar materiais para artesanato e realizar um ensaio fotográfico do seu catálogo de produtos. Agora, elas querem ampliar ainda mais suas experiências e compartilhar saberes com mais mulheres.
“Fizemos um balanço muito positivo e temos vontade de conhecer outras organizações de mulheres indígenas, ir para grandes encontros, como a Marcha das Mulheres Indígenas e terminar o nosso catálogo de produtos”, destaca a coordenadora. “A CESE é uma parceira importante pois viabiliza recursos para atividades que o povo entende que são importantes, fortalecendo nossa autonomia”, completa.