A CESE finaliza e dá concretude a sua Política Institucional de Equidade Racial

A Coordenadoria Ecumênica de Serviço identifica e reconhece a existência do racismo enquanto construção histórica do Estado e da sociedade brasileira, que é gerador de injustiças contra a população negra. Reafirmando o compromisso da CESE com a luta antirracista, a Política de Equidade Racial irá orientar interna e externamente a atuação da organização, prevendo a adoção de estratégias para superação do racismo no âmbito da gestão e da ação institucionais.

Para conduzir a elaboração do documento e facilitação do processo participativo de sua construção junto à equipe, foi convidada Francisca Sena, assistente social, mestre em Políticas Públicas e Sociedade, e representante do Instituto Negra do Ceará.

Contemplando a jornada e os desafios para a elaboração da Política, Sena avalia que desenvolver esse processo é importantíssimo numa sociedade marcadamente desigual, em que o racismo estrutural impera. “Esperamos que a Política de Equidade Racial fortaleça os grupos apoiados pela CESE, assim como a própria equidade interna. A gente espera que tanto internamente como externamente a população negra possa ser fortalecida em seus direitos e nas suas lutas, principalmente nesse contexto de grande retrocesso de direitos”, pondera Francisca Sena.

Representantes de movimentos negros, de mulheres negras, universidades, juventude, quilombola, de igrejas e organizações parceiras deram valiosas contribuições à formação interna da equipe, compartilhando subsídios para a compreensão das múltiplas facetas em que o racismo se manifesta. Conduziram rodas de diálogos representantes do Odara – Instituto da Mulher Negra, Rede de Mulheres Negras da Bahia, Coletivo Incomode, Cipó – Comunicação Interativa, os pesquisadores Diosmar M. Santana Filho, Victor Marques, Lícia Maria de Lima Barbosa e o teólogo e pastor Ras André.

Rosana Fernandes, assessora de projetos e formação da CESE, reitera que a Coordenadoria Ecumênica de Serviço tem apoiado o fortalecimento do movimento negro e antirracista ao longo dos seus 46 anos. “A CESE investiu na afirmação e incorporação da questão racial, tanto no apoio às organizações do movimento, como na formação da equipe e construção da sua Política Institucional de Equidade Racial. Esta política é um passo importante para o enfrentamento ao racismo que impregna as instituições, inclusive do movimento social. É preciso ter iniciativas que promovam a incorporação de medidas práticas para a promoção da equidade e igualdade racial em nossas organizações e instituições. Não dá mais para ficar somente nos discursos e no apoio ao movimento!”

Após a apreciação da Diretoria Institucional da CESE, a Política Institucional de Equidade já está publicada. Acesse aqui 

Apoio a projetos e formações

Ao longo de uma trajetória de quase 50 anos, a CESE, em diversos contextos históricos, atuou junto e apoiou organizações e movimentos negros e povos tradicionais, expressando seu compromisso na luta por equidade racial. Só nos últimos 15 anos, foram apoiados 660 projetos no campo da luta antirracista, beneficiando 314 mil pessoas, com um investimento de 5 milhões de reais.

Em sua trajetória, destacam-se ações voltadas ao campo racial:

  • Projeto Mulheres Negras e Populares: em parceria com o SOS Corpo e financiamento da União Europeia, a iniciativa foi desenvolvida de 2015 a 2017, nos campos de formação e apoio de projetos, em 12 estados (nove do Nordeste e três do Norte). O objetivo da ação foi contribuir para a integração social e melhoria das condições de vida de mulheres negras e de mulheres de setores populares em situação de pobreza. A proposta teve ainda meta fortalecer o protagonismo desse público no debate público na sociedade brasileira e nos processos de participação social referidos às políticas governamentais de inclusão social de mulheres e da população negra.
  • Oficinas para Organizações do Movimento Quilombola: com apoio da Fundação Ford, são realizadas oficinas de formação e apoio a projetos no campo do desenvolvimento institucional para organizações quilombolas, envolvendo os estados do Maranhão, Pará e Tocantins. Esta ação envolve ainda o fortalecimento das questões especificas das mulheres e da juventude.
  • Fundo das Nações Unidas para a População: em 2015, desenvolveu-se, em parceria com o UNFPA, o projeto que teve como o fortalecimento da luta das mulheres no contexto do zika vírus. A proposta abrangeu os estados da Bahia e Pernambuco, a partir de capacitação, comunicação e apoio a projetos de 10 organizações.
  • Projeto de Fortalecimento Institucional: foi desenvolvido em parceria entre CESE, Instituto Steve Biko e Instituto Mídia Étnica, entre 2011 e 2013, com apoio da Fundação Kellog. O Projeto constitui-se em duas dimensões: de um lado, o apoio às ações específicas de cada organização em seus respectivos campos de trabalho, abrangendo propostas ligadas à juventude, mulheres, cultura, religiões de matriz africana e quilombolas. De outro, foi desenvolvido um processo de formação, cujos conteúdos mesclaram questões próprias do fortalecimento institucional com temas emergentes e fundamentais para a luta antirracista.