A força e resistência das mulheres indígenas do cerrado

O encontro “Mulheres Indígenas do Cerrado em defesa de seus direitos” é uma das atividades do projeto “Patak Maymu: Autonomia e participação das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado na defesa de seus direitos”. A Formação aconteceu entre os dias 25 a 29 de fevereiro em Campo Grande no Mato Grosso do Sul, realizada pela CESE, com apoio e financiamento da União Europeia.

Representantes de diversas organizações de mulheres indígenas estiveram reunidas no encontro. Cerca de 35 participantes de mais de 13 povos, entre eles Xakriabá, Kawaiwete/Kaiabi, Yawalapiti, Xavante, Kiriri, Guarani e Kaiowá, Kurâ Bakairi, Boe Bororo, Kadweu, Xucuru-Kariri, Krikati, Terena e Krahô.

A formação abordou temas como Resistência e Luta em Territórios Indígenas, Comunicação, Desafios e caminhos para manter as organizações de mulheres indígenas, Oficina de Boas Práticas em Gestão de Projetos e Elaboração de Projetos Sociais.

As ações do projeto Patak Maymu, são voltadas para o fortalecimento, protagonismo e autonomia dessas mulheres e suas organizações, a partir de atividades de formação e articulação. Essa atividade teve foco em Gestão e Elaboração de Projetos Sociais, para que as participantes tivessem mais prática para gerir seus projetos, desde a elaboração até uma prestação de contas.

Durante os quatro dias de atividade aconteceram rodas de conversas sobre resistência e luta em seus territórios e desafios vivenciados pelas organizações de mulheres indígenas. Marília Krahô, da Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins, relata “O cerrado contém 83 etnias e a gente vê que estão acabando com ele, com nosso alimento. Estão destruindo parte de nossa cultura, estão nos matando aos poucos”.

O cerrado é vida para essas mulheres, os povos originários tem uma relação de pertencimento com seus territórios, com suas raízes ancestrais, espiritualidade, modos de vida e identidade. O conhecimento popular sobre a biodiversidade do cerrado é vivenciado no dia a dia desses povos.

Luzenira Piniru do povo Xavante, coordenadora de campo da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), relata que o veneno que é jogado nas fazendas entram nos territórios levando doenças: “Se a gente não lutar pelo nosso território, tudo vai acabar. Quem conhece nossa realidade somos nós, quem sabe o que estamos passando somos nós”. O uso indiscriminado do agrotóxico, contamina o solo e recursos hídricos, incluindo a pulverização aérea, prática letal contra os ecossistemas e os modos de vida. Os povos indígenas vem sofrendo constantemente com essas violências, além das invasões e desmatamento dos territórios.

Essas mulheres tem uma conexão sagrada com o solo, com a natureza. São guardiãs de seus territórios.

Mapeamento de Comunicadoras Indígenas

Outro momento importante foi a apresentação do mapeamento de comunicadoras indígenas, que está com formulário aberto para preenchimento. O mapeamento tem como objetivo fortalecer a atuação de comunicadoras indígenas, dos estados de abrangência do projeto: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

Os dados coletados através da pesquisa vão subsidiar uma publicação que será feita no último ano de vigência do projeto em 2025, e tem a finalidade de fortalecer o protagonismo de mulheres indígenas e suas organizações.

O encontro contou também com o apoio de três comunicadoras indígenas, Yandra Krikati, Yamony Yawalapiti e Sandrieli Kaiowá, que participaram da Oficina de Comunicação que aconteceu em setembro de 2023 em Brasília.

Intercâmbio cultural

Finalizando as atividades do encontro, as participantes visitaram o Bioparque Pantanal, conhecido como Aquário do Pantanal, que tem o maior circuito de aquários de água doce do mundo.

Conheceram também, a aldeia urbana do povo Terena – Marçal de Souza, que foi um grande líder indígena Guarani, assassinado por defender os direitos dos povos originários.

 A aldeia foi ocupada por indígenas na década de 1990 e depois oficializada pela prefeitura em 1998. Ficou conhecida como a primeira aldeia em contexto urbano do Brasil, hoje a aldeia tem em média 700 habitantes.

As mulheres indígenas visitaram o Memorial da Cultura indígena Cacique Enir Terena, onde foram recebidas pela gestora do espaço, Maria Auxiliadora Bezerra, filha da cacique Enir Terena, e pelo Cacique Josias. O memorial leva o nome de Enir, liderança que fez grandes conquistas para a comunidade Terena em Campo Grande.

O espaço é uma unidade da Secretaria de Cultura e Turismo e oferece produtos feitos pela população local, artesanalmente. Maria cita, que em 1999 foi entregue a comunidade, o memorial e a escola, que tem em seu currículo cultura indígena e arte Terena, onde crianças não indígenas também são matriculadas. “O memorial surgiu da necessidade de um lugar específico para expor e comercializar artes indígenas”.

Protagonismo feminino

Apesar do silenciamento, violências sofridas e tentativas de apagamento, os povos originários vêm construindo processos de resistência. E nessa construção a mulher indígena tem um papel fundamental porque ela cuida da natureza, da cultura, dos artesanatos, dos filhos e da saúde. Tendo uma grande e importante participação na vida dos seus povos.

 A luta e o protagonismo das mulheres indígenas é um símbolo de resistência e de descolonização, aos poucos elas vêm ocupando espaços, ocupando a política, lutando pela defesa de seus territórios e ancestralidade.

Fotos: https://www.flickr.com/photos/140794615@N04/albums/72177720315239604/

Yamony Yawalapiti  (7)