Bahia recebe exposição interativa sobre violência contra as mulheres

Em alusão ao maio laranja (mês de Combate ao Abuso e à Exploração de Crianças e Adolescentes) organizações baseadas na fé e igrejas apresentam a exposição “Nem tão Doce Lar”, mostra itinerante que possibilita a popularização da discussão e do enfrentamento à violência, ao montar uma típica casa familiar, com utensílios domésticos, móveis e informações que indicam o contexto das agressões sofridas por mulheres, crianças, jovens e idosos. O intuito da exposição é revelar como um espaço onde deveria existir amor e cuidado pode esconder dor e sofrimento.

Realizada pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD), em parceria com a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço, e a Igreja Presbiteriana Unida de Itapagipe, a iniciativa aconteceu entre os dias 16 e 18 de maio na cidade de Cachoeira, Recôncavo Baiano, e em Salvador – nas dependências da igreja – durante os dias 18 e 19/05.

“Esse esforço conjunto envolvendo organizações ecumênicas, Igrejas e movimentos sociais para tratar o tema da Violência Doméstica na Bahia se justifica diante de dados tão assustadores “, declara Bianca Daébs, assessora para Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CESE.

Segundo o com o relatório de 2023 da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, de 2017 a 2022, foram 564 mulheres vítimas de feminicídios na Bahia. Esse número representava um aumento médio de 6,3% ao ano. Em 2022, foram registradas 107 feminicídios. O aumento em relação a 2021 foi de 15,1%. Isso significa dizer que uma mulher foi assassinada na Bahia por questões de gênero a cada quatro dias.

Para Bianca, que é revenda da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, essas questões precisam ser expostas e debatidas inclusive nos espaços religiosos. Segundo ela, as igrejas não podem silenciar essas situações, pelo contrário, devem ser um espaço seguro para estabelecer diálogo e acolhida: “Diante de uma realidade tão dura, entendemos que é dever de toda sociedade, e de modo particular das Igrejas Cristãs denunciar as violência praticadas contra mulheres como crime e pecado e fazer o acolhimento das vítimas sem julga-las.”, afirma a assessora.

Essa é a segunda vez que a “Nem tão Doce Lar” chega a Bahia. Em 2015, a CESE recepcionou a exposição em suas dependências e também levantou a discussão sobre os altos índices de violência contra as mulheres na época. Para Sônia Mota, diretora executiva da CESE, a mostra foi e continua sendo uma excelente ferramenta para chamar a atenção e também fazer denúncia: “Retomar essa iniciativa é extremamente necessário. No ano passado o Brasil bateu recorde de feminicídio somente no primeiro semestre. Momento em que o país teve o menor número de recursos para políticas públicas de combate à violência contra a mulher. Ou seja, essa á uma ação atual e emergente.”, declara Sônia.

Para além da visitação, a “Nem Tão Doce Lar” realiza oficinas de formação para acolhedoras e acolhedores. Renate Gierus, assessora de projetos da Fundação Luterana de Diaconia, explica que a oficina é um processo formativo que não pode ser dissociado da exposição. São ações conjuntas que trazem o contexto do ambiente de violência que não pode ser naturalizado: “A FLD promove a formação para as pessoas que vão atuar no acolhimento de qualquer tipo de violência. É uma oportunidade de aprendizado, sobretudo nos espaços religiosos.”, afirma a assessora da Fundação.

Grupos interessados em replicar a metodologia da “Nem Tão Doce Lar” podem dialogar diretamente com a FLD. Em cada município, organizações e redes locais assumem a instalação da exposição e a articulação com outras entidades, escolas, universidades, e órgãos públicos. “Além disso, tem o trabalho anterior, que é a divulgação. O chamamento para alcançar o maior número de pessoas”, lembra Renate Gierus.

As atividades da Nem Tão Doce Lar na Bahia contam com o apoio do Fórum Ecumênico ACT Brasil e do Programa Global de Gênero de ACT.

Sobre a Nem Tão Doce Lar

A Nem Tão Doce Lar envolve uma metodologia de intervenção coletiva para a superação da violência doméstica e familiar, que possibilita a reflexão e promove a popularização da discussão desse tema, tantas vezes invisibilizado e naturalizado. Também fomenta o debate e a elaboração de estratégias de enfrentamento e de superação da violência a partir da criação e fortalecimento de redes de apoio entre organizações da sociedade civil, instituições governamentais, universidades, escolas e comunidades religiosas.  O nome faz alusão à citação “Lar doce Lar”, muito comum em casas brasileiras. 

A mostra nasceu a partir de uma exposição internacional chamada Rua das Rosas, criada pela antropóloga alemã Una Hombrecher, com o apoio da agência Pão para o Mundo (PPM). A proposta inicial, que tinha ainda uma linguagem europeia, foi apresentada em Porto Alegre, de 14 a 23 de fevereiro de 2006, durante a 9ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).

Para mais informações: https://fld.com.br/nem-tao-doce-lar/